Oferta de compra da Braskem (BRKM5) divide opiniões
Empresas citadas na reportagem:
As condições da oferta não vinculante de compra feita em conjunto por Apollo e a Empresa Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (Adnoc) pela Braskem (BRKM5) dividiram opiniões no mercado, apurou o Valor.
Entre os bancos credores, não há posição fechada sobre os termos – que podem ser menos atraentes do que os números conhecidos até agora – e há dúvidas se a Petrobras vai concordar em vender sua participação, uma vez que a orientação do novo governo é de não se desfazer de ativos estratégicos.
Segundo fontes próximas ao processo, a estrutura proposta pelas potenciais compradoras embutiria, na prática, preço por ação menor do que os R$ 47 oferecidos.
Quando trazido a valor presente e a depender da taxa de desconto aplicada, o preço seria de, no máximo, de R$ 34 por papel e, no piso, de R$ 24.
Dos R$ 47 por ação apresentados por Apollo e Adnoc, R$ 20 seriam pagos à vista, em dinheiro. Outros R$ 20 seriam pagos com bônus perpétuos emitidos pelas compradoras, com taxa de 4% ao ano.
Além disso, há mais R$ 7,14 (a valores de hoje) em “warrants”. Numa segunda etapa, o preço final poderia subir a R$ 49 por ação a depender de certas condições.
Prevalecendo essa estrutura e considerando-se as taxas de juros atuais nos Estados Unidos e no Brasil, disseram fontes do mercado financeiro, não se chegaria aos R$ 47 por ação.
A oferta não vinculante foi encaminhada aos bancos e à Novonor na própria sexta-feira (5), após Apollo e Adnoc terem apresentado os termos em reunião com representantes dos bancos.
A oferta anterior da Apollo já tinha desagradado um dos bancos credores, uma vez que a gestora americana tinha pedido exclusividade no processo de “due diligence” há cerca de seis meses.
Outra instituição financeira que também tem ações como garantia defendia a oferta da Apollo nesses termos, mas foi voto vencido.
Com a entrada da Adnoc, a proposta teria ficado “mais palatável”, mas os detalhes financeiros serão avaliados, disse uma fonte a par do assunto. “Mas ainda há muitas dúvidas. Entre elas, a posição da Petrobras. A oferta foi feita por 100% do negócio”, afirmou essa pessoa.
Juntos, Bradesco, Itaú Unibanco, Santander, Banco do Brasil e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) têm quase R$ 15 bilhões a receber da Novonor, dívida que é garantida por todas as ações da Braskem detidas pela antiga Odebrecht.
A Novonor tem 38,3% do capital total da petroquímica e a Petrobras, segunda maior acionista, é dona de 36,1%. A estatal teria indicado a potenciais compradores, antes da mudança de comando, que não venderia sua posição por menos de R$ 43 por ação.
Após a troca na presidência, ainda não teria indicado à sócia se manterá os planos de vender suas ações ou se excluiu a petroquímica de seu plano de desinvestimentos.
Além disso, há outros interessados na Braskem, que foram encorajados a permanecer no processo apesar da proposta conjunta de Apollo e Adnoc.
A petroquímica Unipar tem interesse sobretudo nos ativos da companhia em São Paulo e a J&F Investimentos, dona da JBS, segue interessada em comprar o controle da Braskem. A depender dos termos da operação com a holding dos Batista, a Novonor poderia seguir como minoritária na empresa.
O processo de venda da Braskem também está sujeito a ruídos políticos. Político alagoano, o senador Renan Calheiros (MDB) está convocando o governo federal a barrar a transação até que os prejuízos provocados pela antiga operação de sal-gema da petroquímica, em Maceió, estejam 100% cobertos.
A companhia já separou mais de R$ 13 bilhões, entre desembolsos realizados e provisionamento em balanço, para fazer frente ao problema geológico que levou ao afundamento do solo em cinco bairros da capital de Alagoas.
No mês passado, a Justiça chegou a bloquear R$ 1,1 bilhão da companhia, em atendimento a um pedido do Estado de Alagoas, que quer ser ressarcido por perdas com arrecadação. A Braskem apresentou um seguro-garantia e teve os recursos desbloqueados.
Em vídeo que circulou nas redes sociais na sexta-feira, após as notícias sobre o interesse da Apollo e da Adnoc, Calheiros disse que vai acionar as presidências da República e da Petrobras “para que não permitam que uma proposta resolva o problema dos bancos credores da Novonor, mas não garanta um tratamento igual para as vítimas desse terrível crime ambiental”.
Procuradas, Novonor, Apollo e Adnoc não comentaram o assunto. A Petrobras reiterou que não está conduzindo processo de venda de sua participação no mercado privado.
“A Petrobras esclarece que todas as ações relacionadas à sua participação na Braskem exigem análise cuidadosa sob a perspectiva de gestão de portfólio e devem ser conduzidas com observância das práticas de governança e os procedimentos internos aplicáveis”, informou.
Por Stella Fontes e Mônica Scaramuzzo
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