O que CEOs da nova geração ensinam sobre ter filhos e carreira
Recentemente, entrevistei duas executivas jovens, CEOs, na faixa dos trinta e poucos anos, e poderia arriscar dizer que elas estão no auge de suas carreiras. Ambas atuam no setor digital, onde acredito que a vida não seja nada fácil. São plataformas grandes que exigem uma tomada rápida de decisões, em um cenário no qual o cliente pode escapar pelos dedos em poucos cliques, portanto, elas têm uma jornada de trabalho diária intensa.
O que me chamou a atenção em ambos os casos é que as duas, quando deram as entrevistas, estavam grávidas e pareciam absolutamente bem resolvidas sobre como iriam conciliar a maternidade e a vida profissional. Ser mãe do primeiro ou do segundo filho era uma decisão consciente e incorporada aos seus planejamentos de carreira. Claro que sair de licença-maternidade depois de apenas um ano como CEO dá algum medo, admitiu uma delas. O medo de estar perdendo algo nesse período. Mas nada justificaria, para elas, adiar uma gravidez desejada.
Lembrei-me imediatamente de uma entrevista que fiz há muitos anos com a economista Sylvia Hewlett, especialista em questões de gênero e local de trabalho, na época em que ela trabalhava para a Universidade Harvard e estava lançando o livro “Maternidade Tardia – Mulheres Profissionais em Busca da Realização Plena”. Hewlett me disse que várias executivas, na faixa dos 50 e poucos anos, haviam lhe dito que se arrependiam por terem aberto mão da maternidade por uma carreira de sucesso. Segundo elas, o ambiente corporativo não havia favorecido o afastamento para exercer a maternidade. Naquele tempo, anos 70/80, o olhar feminino na gestão talvez não fosse, inclusive, tão reconhecido e cobiçado como é hoje. Havia até um jeito meio masculino na maneira de as executivas se vestirem e falarem para se impor e enfrentar a competição no alto escalão.
Olhando para a nova geração que chega ao topo, vejo o quanto avançamos no sentido de as mulheres poderem assumir sua feminilidade, fragilidade e, por que não dizer, a maternidade. Em algumas empresas, o avanço da licença-paternidade estendida é um sinal de que o cuidado com os filhos compartilhado está sendo incentivado, assim como há um esforço para se falar em parentalidade e incluir todas as configurações de famílias. E muitos executivos têm usufruído dessa oportunidade de acompanhar mais de perto a evolução de seus bebês.
Já ouvi de gestores de RH, no entanto, não faz muito tempo, que a licença-paternidade de quatro até seis meses não estava sendo aproveitada por alguns profissionais da empresa. Ouvi até que, embora tenham esse período de afastamento disponível, alguns não o utilizavam para ajudar no cuidado com os filhos. Lamento, porque muitos outros estão conseguindo ter experiências em papéis que nunca experimentaram antes e assim estão se tornando seres humanos e profissionais mais completos.
Um CEO de uma operação com mais de 17 mil funcionários no país, em um setor bastante turbulento, me disse em entrevista recente que a pandemia trouxe a oportunidade de estar mais perto dos três filhos, duas crianças e um adolescente. “Antes, chegava em casa quando eles estavam dormindo e saía quando eles não tinham nem levantado”, disse. Hoje, ele procura se policiar para não fazer isso de novo.
Essa consciência de que a paternidade e a maternidade precisam estar incluídas nas rotinas profissionais, de uma forma mais saudável, é visível, vem crescendo. Quando em casa, meu marido em 2004 decidiu que se dedicaria integralmente aos cuidados do nosso filho, muita gente estranhou.
Foram anos em que ele era o único homem na reunião de pais na escola. Hoje temos orgulho da opção que fizemos lá atrás. Meu filho, ainda pequeno, já dizia: “Quando crescer, quero cozinhar e cuidar dos meus filhos como o papai”. Esta é a nova geração falando, são eles que vão mudar o futuro no mundo do trabalho, dentro e fora das empresas.
Por Stela Campos, editora de Carreira do Valor Econômico
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