O mundo não deveria se preocupar com queda do PIB chinês, diz economista Keyu Jin

Professora da London School of Economics diz que aposta em tecnologia avançada e ascensão esperada de 1 bilhão de pessoas para a classe média

Com uma perspectiva de alta de PIB na casa de 5% em 2023, a China tem gerado discussões pelo mercado sobre a capacidade de retomar os níveis de crescimento das últimas décadas, que ficou de 6% a 8% ao ano. Mas na opinião da economista Keyu Jin, professora da London School of Economics, esse possível declínio no PIB chinês não deveria ser uma preocupação. “Acho que isso tudo está errado”, disse ela, nesta quinta-feira (9).

Keyu Jin, que é chinesa, participou nesta manhã de um evento chamado Macro Vision, realizado pelo Itaú BBA, o braço de investimentos do Itaú. Para ela, sim, está contratada uma queda na atividade econômica do país, que ela acredita que estruturalmente deve se manter na casa dos 5% nos próximos anos. No entanto, para o médio e longo prazos, ela chama atenção para a expansão esperada da classe média, fenômeno que diz estar passando ao largo dos cenários de economistas.

Mais importante que o PIB chinês

“A ascendência de um bilhão de pessoas é realmente o que deveríamos estar atentos”, afirma. “Imagine um bilhão de pessoas ainda vivendo com menos de US$ 300 de renda mensal. Isso significa que há um bilhão de pessoas que ainda não atingiram o rendimento médio, segundo os padrões internacionais. Isto é muito mais importante do que o envelhecimento demográfico e talvez um declínio de 1% no crescimento da força de trabalho”, disse.

De acordo com Jin, que é autora do livro ‘The New China Playbook: Beyond Socialism and Capitalism’ (algo como ‘O novo manual da China: além do socialismo e do capitalismo’), ainda sem edição no Brasil, o país com 1,4 bilhão de pessoas e segunda maior economia do mundo ainda é considerado, por esse aspecto, um país de renda média. “Mas isso vai mudar”, diz ela.

“A China é o primeiro país em desenvolvimento, com apenas 25% do padrão de vida das economias avançadas, e que pode desenvolver tecnologia de ponta. Isso não é pouca coisa”, conta.

Segundo ela, no entanto, no curto prazo, o pais vai continuar se ressentido do enxugamento provocado pela queda do mercado imobiliário.

“O emprego e o crescimento e tudo o que se refere ao investimento, à alta tecnologia e à inovação são bons. Mas em termos de realmente gerar produção e emprego no curto prazo, isso não irá substituir o mercado imobiliário. Portanto, no curto prazo, haverá uma pressão descendente sobre a economia”, afirma.

Sanções dos Estados Unidos

Ela destaca, por exemplo, as tensões recentes com os Estados Unidos envolvendo importação de chips para a produção de equipamentos eletrônicos e como isso, segundo ela, tem motivado o país a resolver o problema por conta própria.

“Os Estados Unidos têm uma série de restrições tecnológicas. Penso que não só não conseguirão atingir o objetivo pretendido, como o tiro sairá pela culatra”, observa. “Baidu, Huawei, Alibaba, todas estão indo atrás de desenvolvimento de chips antes de importar confortavelmente”, afirma.

A economista cita o exemplo da gigante chinesa Huawei, que acaba de lançar um novo smartphone com nova tecnologia de chips e que desafiou as sanções dos EUA. “Isso causou uma grande euforia nacional. Você sabe, o povo chinês está tão feliz que você sabe o que eles estão dizendo? Eles estão dizendo ao governo dos EUA: você poderia sancionar também nosso time de futebol masculino?”, destaca.