Temas que o futebol trata mal e fazem mal ao futebol

Não praticar racismo é obrigação, mas silenciar nos torna parte do problema

O choro de Vini Jr durante uma entrevista enquanto estava servindo à Seleção Brasileira – e que nos diz muito sobre racismo no futebol – ocorreu alguns dias após o jogador brasileiro Juan Jesus acusar o italiano Acerbi de palavras racistas.

Após ser suspenso por 10 meses pela federação italiana de futebol por fazer apostas em jogos de futebol, o jogador Tonali, do Newcastle, foi acusado de apostar enquanto cumpria a pena. Isso ocorreu apenas alguns dias após a Loterj dar um jeito de certificar casas de apostas que operam ainda sem controle no Brasil, criando mais uma confusão num negócio que está se desenhando estranhamente no Brasil.

Depois das condenações de Daniel Alves e Robinho, vimos crescer conversas sobre o interesse de um site que anuncia acompanhantes em fazer mais investimentos no futebol, reforçando a tese da objetização da mulher no mundo do futebol.

Todos têm a ver com isso

Além do racismo, os três temas distintos se cruzam num mesmo ambiente: o futebol. Tratados de forma errática, seja com pouca energia, seja com silêncio, seja com declarações vazias, acaba sempre caindo na vala-comum do “não é comigo, não tenho nada a ver com isso”. Tem sim. Todos que trabalham na indústria do futebol têm muito a ver com isso.

Quando as ações contra o racismo são apenas atletas se ajoelhando em campo, patches nos uniformes e nenhuma sanção dura e definitiva contra quem o pratica, então temos via livre para continuarmos vendo casos de racismo dentro e fora de campo.

Afastamento de parceiros comerciais

“O que acontece em campo, fica em campo” é a nova “licença para matar”. Resultado: afastamento de parceiros comerciais conscientes, que podem trazer mais dinheiro ao esporte.

Temos que tratar o racismo com a dureza necessária: sanções exemplares contra racista, dentro e fora de campo, e impactando os clubes que não fazem um trabalho de combate. Não basta não ser, é preciso ser antiracista.

Enquanto isso, clubes de futebol, intermediários de plantão e subcelebridades esfregam as mãos e abrem sorrisos com o bolso fundo das casas de apostas que operam sem licença e com uma regulamentação ainda em construção. Lenta, por sinal.

Apostas e saúde pública

Não se fala seriamente sobre os riscos das apostas do ponto-de-vista de saúde pública. Muito menos de racismo no futebol.

Aposta vicia. Chegamos no momento em que na sociedade hedonista e imediatista atual, não basta mais acompanhar seu time do coração, nem seu atleta preferido; é preciso aumentar a dose e passar a querer ganhar dinheiro com eles.

Isso tem gerado pressões sobre atletas que não “performaram” como os apostadores esperavam. Um perigo.

O mundo dos negócios do futebol enxerga o futebol feminino como uma nova fronteira de crescimento. Mais mulheres jogam, mais pessoas se interessam, mais dinheiro e estrutura chegam à modalidade. Mas, o comportamento de exploração da mulher no futebol masculino segue sua rotina.

O silêncio nos torna parte do problema

E agora de maneira escancarada, com site de acompanhantes injetando dinheiro, aceito de bom grado pelos clubes.

É mais um incentivo ao comportamento abusivo, inaceitável a qualquer tempo.

Mais mulheres acompanham futebol, gastam, se dedicam ao esporte. Ignorar isso é perder potencial de consumo, mas, essencialmente, perder pessoas.

Tudo pode sempre ser refutado com um sonoro “Não tenho nada a ver com isso”.

Ninguém tem, mas todos têm. Não praticar é uma obrigação, mas silenciar sobre comportamentos assim e temas que afetam a imagem do esporte nos torna parte do problema.

Os temas são delicados, afetam muita gente, mas está na hora de serem tratados além dos cifrões.