Petrobras (PETR4) avalia novas rotas para trazer gás da Argentina para Brasil

Com a produção do gás da Bolívia em declínio, fontes apontam um possível interesse da petroleira brasileira em acessar fontes de suprimento de gás mais competitivas para gerir seu portfólio

Uma comitiva da gestão de parcerias e processos de exploração e produção da Petrobras (PETR4) viajou nos últimos dias para a Argentina para tratar da viabilidade de novas rotas para importar gás natural da reserva de Vaca Muerta, apurou o Valor.

O megacampo de Vaca Muerta é uma grande área com gás de xisto (“shale gas”) e petróleo na Província de Neuquén, na Patagonia argentina, com vários campos produtores e contratos de diferentes operadoras. A Petrobras é uma das empresas que têm campos na região, o que facilitaria uma possível operação.

Com a produção do gás da Bolívia em declínio, fontes apontam um possível interesse da petroleira brasileira em acessar fontes de suprimento de gás mais competitivas para gerir seu portfólio.

Para isso, uma das saídas seria usar a capacidade ociosa do gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol), revertendo o fluxo atual do gasoduto Norte, na Argentina.

Outra opção seria trazer o energético via gasoduto Néstor Kirchner, que liga a região de Vaca Muerta, a partir de Buenos Aires, até Uruguaiana (RS), mas a infraestrutura não está totalmente concluída.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recentemente defendeu o crédito do BNDES para o projeto na época do ex-presidente Alberto Fernandes. Esse projeto sozinho, entretanto, ainda não garante a integração. Seria necessário fazer mais investimentos em dutos de transporte no Brasil para fazer o gás chegar ao mercado consumidor.

Outra alternativa pensada seria enviar o gás natural liquefeito (GNL) por navio até terminais na costa brasileira. Especialistas acreditam que isso deve acontecer tendo o Brasil como cliente ou não, já que os players certamente vão querer acessar o mercado internacional.

Procurada, a Petrobras informou, em nota, que está constantemente avaliando oportunidades comerciais que atendam os interesses da companhia e os compromissos com os seus clientes, mas não comenta sobre condições comerciais estabelecidas em contratos que são disciplinados por cláusulas de confidencialidade.

O presidente da consultoria Gas Energy, Rivaldo Moreira Neto, disse que a Argentina já está investindo na reversão dos dutos do seu lado da fronteira com a Bolívia. “A Argentina tem o que precisamos, que é novas entradas de gás e novas fontes de competição e o Brasil aparece como um mercado interessante”.

Ele afirmou que, no atual contexto, não deve ocorrer apenas pela tradicional negociação entre as estatais Petrobras e YPF, já que o novo presidente argentino, Javier Milei, não está alinhado politicamente com o Brasil, e o país vizinho tem uma pluralidade maior de “players” na produção, o que pode favorecer a competição de mercado.

Como o gás está associado às reservas de petróleo, a reinjeção não é uma opção e os argentinos vêm buscando mercado para o energético. Na outra ponta, a indústria brasileira acredita que o Brasil pode criar uma demanda firme em contratos de suprimento, que seria um mercado adicional aos intercâmbios ocasionais. Mas para isso, precisaria haver mais concorrência no mercado.

A estatal já foi monopolista no mercado de gás no Brasil, mas nos últimos anos passou por um processo de desconcentração de mercado, mas ainda detém uma fatia de mercado de 75%. O movimento foi parecido na Bolívia, quando o Brasil passou a importar o insumo e a relação praticamente se deu entre estatais, com alguns pequenos contratos para empresas privadas.

O vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, defendem publicamente a importação do gás argentino para suprir a indústria nacional. Para o diretor de gás natural da Abrace, associação que representa os grandes consumidores de energia, Adriano Lorenzon, em um possível negócio entre países, o governo deveria desincentivar a Petrobras a fim de promover a desconcentração do mercado e fomentar isso entre entes privados.

“Na medida em que a Petrobras se coloca como intermediária, seguindo a mesma lógica histórica que ela fez na Bolívia, isso é ruim para uma incipiente abertura do mercado brasileiro. O Brasil deveria seguir no caminho de contribuir para novos entrantes”, diz Lorenzon.

Com informações do Valor Pro, serviço de notícias em tempo real do Valor Econômico