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Botafogo, concentração, competitividade: como lidamos com tudo isso?
Final de temporada e eis que temos o destaque do ano: Botafogo, Botafogo, campeão! Libertadores e Campeonato Brasileiro no mesmo ano não é pouca coisa. Aliás, é gigante. Na coluna de hoje vamos tratar um pouco da competitividade do futebol local a partir do sucesso esportivo do Botafogo em 2024.
Primeiro, no início de 2024 fiz algumas “previsões” sobre desempenho no ano, e o resultado da temporada não foge muito ao senso comum.
Gestão caótica atrapalha as contas em dia
Palmeiras e Flamengo chegaram em 2º e 3º colocados na Série A, enquanto no quarteto de rebaixados tivemos 3 dos 5 “candidatos naturais” em função de suas receitas: Atlético-GO, Cuiabá e Criciúma.
Escaparam da degola o Vitória e o Juventude, enquanto o Athlético-PR foi a vítima anual do futebol: não adianta estrutura, contas em dia, se a gestão for caótica e ignorar que o core business do negócio é jogar futebol.
A bela campanha do Botafogo
O campeão Botafogo não chega a ser uma surpresa. Fez uma bela campanha em 2023, início do processo de reestruturação a partir da SAF. Não dava para cravar sucesso em 2024, mas havia uma base. Claro, o dinheiro ajudou, e com ele houve implantação de um sistema eficiente de scouting e análise de desempenho que permitiu montar um elenco qualificado.
A que custo? Não dá para saber, porque o clube não divulga balancetes, mas ao menos não ouvimos informações de atrasos de salários e pagamentos.
Atlético-MG: candidato a boas performances
Desde 2021 incluo sempre o Atlético-MG como candidato a boas performances, porque conta com uma gestão que aporta recursos que permitem ao clube gastar acima de suas receitas.
O time hoje ainda guarda relevância conquistada em 2021, quando venceu o Brasileiro e a Copa do Brasil, e passou a ser considerado uma força, mesmo com todos os problemas e dificuldades financeiras, bancados pelos mecenas, agora transformados em donos.
Até quando manterão essa postura? Não sei, afinal cada um sabe a profundidade do seu bolso.
É o caso do Botafogo. Com o desempenho de 2023 e 2024 dá para dizer que ele subiu de prateleira e passa a ser considerado candidato a boas colocações, desde que a fórmula criada por John Textor funcione: contratar, escalar, vencer e vender.
Aliás, saberemos na janela de negociações de atleta de janeiro, porque não será uma surpresa se o clube vender muitos jogadores do elenco campeão para pagar as contas pendentes do próprio clube e do seu irmão, o Lyon.
O clube francês, que usa a mesma fórmula, está pressionado pelo órgão local de controle financeiro, mas ainda tem metade da temporada para jogar, e está bem posicionado na competição, na disputa por uma vaga na Champions League em 25/26.
Um ano estranho para Flamengo e Palmeiras
Falando em competitividade e Botafogo, Flamengo e Palmeiras tiveram ano “estranho”.
No caso do Palmeiras foi frustrante pela falta de títulos. Chegou à 2ª colocação no Campeonato Brasileiro. Dependia só dele para conquistar, mas falhou. Nas demais competições não foi bem.
Há alguns anos ouvi de um dirigente italiano que todo time campeão precisa mudar dois ou três atletas importantes, para valorizá-los e oxigenar o elenco.
Com os balancetes que o clube divulga é possível verificar que a situação segue equilibrada, e para 2025 há condições de repensar o elenco sem desequilibrar a estrutura financeira.
Já o Flamengo se arrastou ao longo do ano, com muitas contusões, contratações, gestão esportiva confusa, gestão financeira feita de olho nas eleições.
No final, pela força do elenco e de uma mudança de treinador no último momento, conquistou a Copa do Brasil e terminou o Brasileiro em 3º lugar. Não dá para dizer que foi um ano ruim, ainda mais comparado a 2023.
O desafio do clube em 2025 será lidar com uma situação de caixa mais apertada, com o desafio de construir um estádio e todos os problemas que surgem, reestruturar o elenco e ostentar menos, tudo sob nova direção.
Raio X do futebol brasileiro – agora sem o Botafogo
Os demais clubes são a parte efetivamente competitiva do futebol brasileiro. Ficam por ali, entre a 4ª e a 15ª posições, acertam num ano, erram no outro, conquistam uma vaga na Libertadores, ficam felizes ao permanecerem na Série A.
Já o Atlético-PR passa por uma necessidade óbvia de oxigenação do comando, visto que o que o trouxe até aqui talvez não seja o que o levará para o futuro.
O Furacão tem um dono de fato, ainda que não seja de direito, o que é diferente de ter um dono efetivo, que vai trabalhar pelo controle do seu dinheiro, mas para ter resultados e valorizar seu ativo, sem dogmas. Num ambiente cada vez mais competitivo é fundamental reconstruir a governança, contratar profissionais e deixá-los trabalhar, a partir de planejamento e metas claras.
É o que não acontece com São Paulo e Corinthians, como falamos na semana passada, e o que acontece com o Fortaleza, que tem controle financeiro e gestão esportiva eficiente, que tem a expectativa justa. Isto facilita o dia-a-dia. O Red Bull Bragantino fez péssima temporada, o que mostra alguma falha estrutural.
Cruzeiro: sem evolução
O Cruzeiro gastou e a coisa não evoluiu, porque a governança parece ter ficado no passado recente, como mostraram os áudios do acionista indicando escalações.
Figuras datadas de um futebol antiquado.
Grêmio: gangorra esportiva
O Grêmio errou novamente, e por sorte não teve o mesmo destino de 2021. Vive numa gangorra entre a Série B, o vice-campeonato e um ano esquecível.
E isto nos leva ao que nos transforma num campeonato competitivo: a imprevisibilidade das gestões, a falta de processos e planejamento. No futebol brasileiro quase tudo é feito de forma casuística. O que aumenta a aleatoriedade de resultados, e nos torna competitivos.
Resultados da Série A
Na tabela abaixo vemos algumas concentrações relativas ao desempenho da Série A do Campeonato Brasileiro.
Note que 3 clubes ocuparam 49% das 5 primeiras posições nos últimos 7 anos. Esses mesmos clubes representam 70% das 3 primeiras colocações no período. Enquanto isso, Palmeiras e Flamengo ocuparam 57% das 2 primeiras posições, ou seja, 8 das 14 possibilidades. Se incluirmos o Internacional, são 71% das posições ocupadas por apenas 3 clubes. No topo da tabela a diversidade de clubes é reduzida.
O que acontece nos campeonatos europeus?
E encerro deixando uma provocação: os campeonatos europeus são “chatos” e “previsíveis”, em grande parte porque a média das gestões é feita de uma maneira parecida, com uso de dados, diretores esportivos qualificados.
Quando isso não acontece, o resultado fica evidente, como vimos recentemente com Chelsea, Manchester United, Roma, entre outros. E por lá a pirâmide está mudando, justamente porque clubes “menores” estão adotando estratégias mais modernas de gestão.
Se organizássemos o futebol brasileiro, de fato, com calendário justo, liga, boas gestões, é muito provável que a atual concentração de forças aumentasse ainda mais, e a imprevisibilidade fosse consideravelmente menor.
Em contrapartida, clubes organizados têm mais chance de se destacarem, independente do seu porte.
Será que não é por isso que não evoluímos? Será que queremos evoluir?
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