Abílio Diniz e o mecenato intelectual no São Paulo FC

Abílio tinha acesso direto a pessoas da comissão, e ligava para dar palpites, como os torcedores fazem. O futebol transforma e nos iguala

O futebol, além de uma caixinha de surpresas, é daquelas atividades da vida que igualam as pessoas. Não há diferença de cor, gênero, condição financeira quando se torce por um time. Primeira paixão genuína de uma pessoa – me desculpem os parceiros de vida de todos nós, mas é verdade – o futebol movimenta multidões porque é amplo, geral e irrestrito.

Abílio Diniz era desses torcedores. Sãopaulino de coração, ele tinha relação de torcedor de arquibancada quando se tratava de São Paulo FC.

Chegou, então, a ter um blog no qual falava apenas do clube, sob o ponto-de-vista do torcedor. Reclamava quando ia mal, elogiava a enaltecia equipe, comissão, treinadores. Naquele espaço, era o tradicional “quarta-e-domingo” do futebol.

A participação de Abílio Diniz no São Paulo

Mas ele ia além. Utilizava sua visão empresarial para ajudar o clube a se desenvolver. Em 2015 propôs a criação de um novo organograma, que incluía a contratação de profissionais para as principais funções do clube. Na época, já se preocupava com a dívida, que chegava a R$ 200 milhões – hoje está acima de R$ 600 milhões.

Assim, em 2016, como via que a situação não evoluiu, pagou uma auditoria externa para avaliar a realidade do clube, o que o levou a dizer que aquele era a pior gestão da história.

Seguiu firme tentando ajudar o clube, e em 2016 trabalhou diretamente na formatação do novo estatuto, que era uma evolução num clube tão atrasado politicamente.

Depois, o estatuto foi aviltado e retrocedeu, mas essa é uma história que deve tê-lo deixado pouco animado com a política interna.

Palpite nos times

Voltando ao lado torcedor, conta-se nos bastidores que ele tinha acesso direto a pessoas da comissão, e ligava para dar palpites na equipe. Nada diferente do que fazem os torcedores todos os dias. O futebol transforma e nos iguala.

Entre idas e vindas, presença maior ou menor no dia-a-dia do São Paulo, uma atitude merece destaque: Abílio nunca colocou dinheiro no clube em troca de poder.

Não houve mecenato que abrisse portas para ser diretor disso ou daquilo, para mandar no clube, para um dia ser presidente.

Ele sempre trabalhou nos bastidores para implementar governança, melhorias, visão corporativa. Uma espécie de mecenato intelectual, que a maioria dos dirigentes é incapaz de entender.

Abílio Diniz como dono do São Paulo FC

Em tempos de SAF, muitos torcedores devem ter sonhado com a ideia de ter Abílio Diniz como dono do São Paulo FC.

Se a política tivesse aberto mais espaço para que ele implementasse mudanças, o São Paulo FC seria melhor. Sem SAF, sem precisar ser dono de nada.

A despedida no estádio do Morumbis é a reverência que aproxima o torcedor da paixão.