Manter ou vender uma ação?

A resposta está no fluxo de caixa da empresa. Entenda por que

As melhores práticas associadas a investimentos em ações sugerem sempre uma visão de longo prazo como a forma correta para a maximização de retornos. Mesmo assim, assimilar a dinâmica de curto prazo de taxas de juros e o fluxo de caixa de uma empresa são cruciais, para nos ajudar a entender o melhor momento de comprar ou vender uma ação.

Existem diversos aspectos que levam à volatilidade de curto prazo no mercado de ações. Um exemplo, são fatores técnicos, como o fluxo de investidores estrangeiros, podendo impactar nos preços dos ativos. Outro exemplo é quando algum investidor acaba pressionando o valor de uma ação menos líquida, ou seja, com volume diário de negociação baixo, ao comprar ou vender esse ativo. No entanto, nosso papo hoje será sobre outro tema: a relação dos prazos médios dos fluxos de caixa de uma companhia com o desempenho de sua ação no curto prazo.

Via de regra, ao estimar o valor justo de um ativo fazemos uso de projeções financeiras que buscam aferir a geração futura de caixa potencial daquela empresa. Aliado a isso, devemos ter um esforço direcionado a entender a indústria na qual a empresa atua, compreender o funcionamento do ambiente competitivo e as oportunidades de crescimento.

Também podemos classificar as companhias de duas formas:

  1. De um lado, as que possuem fluxos mais constantes, concentrados nos próximos anos;
  2. De outro, as que têm mais crescimento embutido em suas projeções, o que significa que a geração de caixa pode ser bem mais relevante a partir de muitos anos à frente (conhecidas como empresas de alta ‘duration’).

Isto posto, podemos dizer que em um cenário de queda de juros, empresas com alta ‘duration’ podem apresentar desempenho melhor do que aquelas com fluxos mais constantes, focadas no curto prazo.

Isso porque, quanto menor a taxa de desconto, maior o fluxo trazido a valor presente. O valor atual líquido de uma empresa é calculado a partir dos fluxos de caixa futuros descontados a uma taxa de juros. Portanto, quanto menor a taxa de desconto, maior o fluxo trazido a valor presente. Assim, ainda que assumamos que dois ativos tenham um valor presente igual, o comportamento de suas ações no curto prazo pode divergir substancialmente, dependendo do ‘duration’ de seus fluxos, principalmente em um cenário de volatilidade de taxa de juros.

Para deixar o entendimento mais fácil, vejam o exemplo abaixo. No gráfico, temos duas linhas ao longo do tempo. A linha azul nos mostra a taxa de juros americana implícita de dez anos. Já a linha laranja caracteriza o ETF (fundo de índice que busca replicar a carteira e rentabilidade de um índice) de empresas de tecnologia, o ARKK.

Empresas de tecnologia têm geralmente fluxos futuros mais distantes e variações nas taxas de juros tendem a ter impacto muito mais relevante nas performances de curto prazo desses ativos. Podemos ver claramente que, desde o início de 2021, a partir do momento em que juros futuros passaram a subir fortemente, o índice ARKK caiu vertiginosamente.

Por outro lado, temos um exemplo completamente distinto. No gráfico abaixo, colocamos a mesma curva de juros futuros, mas adicionamos o ETF de empresas de serviços de utilidades públicas, como, por exemplo, empresas de geração de energia elétrica. Essas companhias têm quase sempre fluxos de caixa mais estáveis, mais focados no curto prazo. Podemos ver que a volatilidade da taxa de juros tem efeito muito mais limitado na performance desse tipo de ativo.

Por fim, trazendo a discussão para o Brasil, podemos dizer que estamos vivendo um momento de inflexão em relação à percepção de juros futuros. Se a tendência de queda de juros seguir se fortalecendo ao longo do tempo, devemos esperar que os papéis de fluxos futuros de caixa mais distantes se apreciem de forma mais intensa do que os demais. Além do setor de tecnologia, podemos citar também segmentos como o setor de varejo e e-commerce, que podem tirar proveito deste novo cenário.   

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