Magalu em doses para iniciantes

Livro é o primeiro de uma série que pretende retratar casos de empresas de origem brasileira que “contenham lições que possam ser inspiradoras, e não apenas relatos de boas práticas”
Pontos-chave
  • “O jeito de ser Magalu: lições de quem se transformou numa potência no mundo dos negócios” tem como centro uma das maiores varejistas do Brasil

  • O autor César Souza traz uma visão analítica comparativa sobre o sucesso do Magalu com base em matérias jornalísticas e informações repassadas por executivos da companhia

  • Esse é o primeiro livro de uma série que pretende retratar casos de empresas de sucesso com lições inspiradoras

Alvo de centenas de matérias, reportagens e análises de especialistas em varejo e comércio eletrônico publicadas nos últimos anos, o Magazine Luiza – ou Magalu, como passou a ser conhecido – está no centro do livro “O jeito de ser Magalu: lições de quem se transformou numa potência no mundo dos negócios” (ed. Rocco, R$ 34,90), do consultor de empresas César Souza.

É um livro simples, de leitura fácil, com apenas 160 páginas. O Kindle calcula que o tempo médio que um leitor típico gasta com ele é de apenas 1h54. Além disso, a obra tem um certo jeito de manual para principiantes – são frequentes as “pausas” entre um capítulo e outro para que o leitor possa responder a perguntas sobre o que acabou de ler. No texto, são comuns chavões encontráveis em obras que podem ser consideradas de autoajuda na área de administração.

As fontes de referências citadas pelo autor são quase todas matérias jornalísticas de mais de uma dezena de publicações (jornais, na sua maioria) ou informações repassadas pelos controladores e/ou executivos do Magazine Luiza em lives do próprio grupo ou em outros eventos. Leitores atentos de publicações gerais ou especializadas em histórias sobre empresas e negócios tendem a encontrar muitas informações de que já dispunham anteriormente.

Consultado pelo Valor, Souza confirmou que não fez mesmo entrevistas com pessoas do grupo. E apresentou suas razões: “O foco não era fazer uma biografia da empresa nem das pessoas. Como não sou biógrafo nem historiador, o enfoque foi o de explicitar a minha visão analítica comparativa, como consultor de inúmeras empresas há mais de 20 anos, sobre os fatores que considero terem sido as alavancas para o sucesso do Magalu. Uma visão de fora, independente, de um expert”.

Depois de ter trabalhado entre 1978 e 1998 no Brasil, Portugal e Estados Unidos para o grupo Odebrecht, Souza fundou uma consultoria em 2001, em São Paulo, que dirige até hoje. Ele escreveu nove livros num modelo semelhante ao do “O jeito de ser Magalu”. Seu público-alvo, afirma, são principalmente “empreendedores que estão começando um negócio hoje e que podem começar pequenos, sonhar e crescer bastante como o Magalu, que precisam de encorajamento, em especial neste momento de incertezas macroeconômicas e de efeitos da pandemia”.

Um dos defeitos do livro é não apontar falhas na condução dos negócios do Magazine Luiza. Uma pesquisa rápida mostra que a palavra “erro” aparece apenas quatro vezes no texto, sendo que é usada não para indicar problemas da empresa, mas para mostrar como seus dirigentes procuraram evitar decisões incorretas ou que levassem a insucessos. “É um lugar onde se tolera o erro”, diz, por exemplo, um gerente da Magalu numa entrevista concedida a um jornal citado por Souza. O tom é predominantemente de elogios ao grupo.

Seja como for, escrever livros sobre o Magazine Luiza é uma tarefa desafiadora, já que a empresa tem sido revirada de alto a baixo por analistas e jornalistas em busca de um olhar diferenciado sobre como explicar o avanço no comércio eletrônico e a valorização na bolsa nos últimos anos.

Pelos cálculos do ValorData, e considerando-se o valor da abertura de capitais ajustado da empresa até a semana passada, houve uma alta de 2.881,34% nas suas ações na B3 desde junho de 2011, quando houve a abertura do seu capital. No ano passado, apesar ou por causa da pandemia e das restrições impostas ao comércio presencial, a valorização foi de 109,78%.

Antes da atual fase de bonança, durante anos, era grande o ceticismo do mercado financeiro e dos concorrentes em relação a decisões da família Trajano, fundadora do Magazine Luiza e que continua como principal acionista e agora conta com um representante da terceira geração na condução do negócio.

Nesse contexto, “O jeito de ser Magalu” não avança em novas explicações ou análises sobre a empresa. Pode ser considerado mais um compilado de informações já divulgadas, seja pela imprensa ou pelos comunicados apresentados ao público pela companhia.

Souza e a editora Rocco informam que o livro é o primeiro de uma série que pretende retratar casos de empresas de origem brasileira que “contenham lições que possam ser inspiradoras, e não apenas relatos de boas práticas”. Não há uma lista das companhias a serem analisadas, mas provavelmente devem entrar na roda Havaianas e Natura.

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