Juros futuros recuam, com aprovação da PEC dos Precatórios no Senado e PIB decepcionante
Empresas citadas na reportagem:
A aprovação da PEC dos Precatórios no plenário do Senado e os números decepcionantes do PIB do terceiro trimestre deixaram os juros futuros em forte queda nesta quinta-feira (2).
As taxas de mercado tombaram mais do que 25 pontos-base (0,25 ponto percentual) na parcela curta da curva, com investidores reagindo à fraqueza da atividade e à redução da incerteza fiscal à frente.
No fim do pregão regular, às 16h, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 foi de 11,84% no ajuste anterior para 11,575%; a do DI para janeiro de 2024 passou de 11,64% no ajuste anterior para 11,39%; a do DI para janeiro de 2025 diminuiu de 11,49% para 11,27% e a do DI para janeiro de 2027 caiu de 11,42% para 11,24%.
Por 61 votos a 10, a PEC dos Precatórios foi aprovada em segundo turno no Senado nesta quinta-feira. O mercado já trabalhava com a possibilidade de aprovação, mas a incerteza em torno das discussões fez com que ontem houvesse um aumento dos prêmios na curva. Hoje, porém, assim que a PEC foi aprovada em primeiro turno na Casa, o mercado voltou a ter algum alívio. Em “live” feita ontem para atualização de cenário, o economista-chefe da XP Asset, Fernando Genta, observou que o desfecho da PEC “tira o bode da sala” e diminui o nível de incerteza.
Para o economista, porém, o custo fiscal de toda a discussão foi muito grande, ainda mais com o auxílio fora da Lei de Responsabilidade Fiscal. “Na prática, a PEC dá um calote nos precatórios, muda o teto e dá um ‘waiver’ para a LRF. Se, de um lado, nossas projeções de despesa não mudaram muito, o custo de credibilidade foi muito alto”, avaliou Genta durante a “live”. De acordo com ele, nas projeções de solvência da dívida, “é muito fácil traçar cenários em que a razão dívida/PIB vá para 100% nos próximos dez anos”.
Embora a menor incerteza tenha jogado as taxas longas para baixo, os movimentos mais expressivos na curva se deram nos vértices mais curtos, que se ajustaram em forte baixa desde os primeiros minutos da sessão desta quinta-feira. A contração de 0,1% no PIB do terceiro trimestre, que configurou uma recessão técnica, pesou no sentimento dos agentes, , que passaram a ver uma atividade econômica ainda mais fraca à frente. A ASA Investments agora vê uma retração de 0,5% no PIB de 2022, enquanto os economistas do Santander cortaram a projeção para o PIB do próximo ano de 1% para 0,7% e passaram a ver uma queda de 0,2% no PIB de 2023.
O cenário negativo para a atividade, portanto, ajudou a retirar prêmio da parte curta da curva de juros. Nesse ambiente, os gestores da Greenbay Investimentos apontaram que continuam a trabalhar com posições táticas e reduzidas em juros no Brasil, mas com viés de aplicar na ponta curta. “Essa estratégia visa capturar a assimetria de preços para as decisões do Copom, que continuaram indicando possibilidade não desprezível de aceleração do ritmo de alta dos juros nos próximos encontros”, dizem os profissionais.
O profissional de renda fixa de uma gestora, que prefere não ser identificado, afirma que a dinâmica da atividade também contribui com o movimento de queda da curva de juros nesta quinta-feira. “Está se observando que o mercado caminha em direção à alta de 1,5 ponto para o Copom da semana que vem e coloca dúvidas sobre se essa mesma dose será seguiseguida na reunião de fevereiro”, diz o participante de mercado.
Em nota, o economista-chefe do Opportunity Total, Marcelo Fonseca, chama atenção para o fato de que o PIB foi largamente influenciado pela queda do setor agropecuário (-8% na variação trimestral), que acabou dominando o efeito positivo da abertura da economia sobre o setor de serviços, que registrou alta de 1,1%.
“Olhando à frente, o resultado de hoje prenuncia as conhecidas dificuldades para a economia brasileira”, avalia Fonseca. “O forte aperto monetário em curso ainda deverá se fazer sentir sobre o crédito, e, juntamente com a alta inflação, pesará sobre o consumo das famílias. O investimento continuará com desempenho decepcionante, após alguns trimestres de forte recuperação, à luz das incertezas fiscais e do aumento dos juros.”
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