IPCA em queda deve beneficiar ações do varejo no médio prazo, dizem analistas

O segundo mês seguido de queda da inflação mostra possibilidades de valorização do varejo na Bolsa

Pregão da B3. Foto: Amanda Perobelli/Reuters
Pregão da B3. Foto: Amanda Perobelli/Reuters

Agosto registrou a segunda queda seguida na inflação, segundo o IBGE. O IPCA, que há havia caído 0,68% em julho, registrou nova baixa, de 0,36% em agosto. Embora o acumulado dos 12 meses aponte uma inflação acima de 10%, a inflação anual está em 4,39%, com a perspectiva de fechar o ano em 6,40%.

A persistência dos preços altos dificulta uma retomada do desempenho das empresas do varejo na Bolsa de Valores no curto prazo, mas, segundo analistas, o médio prazo pode ser promissor por conta da redução dos juros, da queda da pressão inflacionária e da oportunidade gerada pelo desconto que as ações do setor tiveram nos últimos meses.

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Para Victor Bueno, analista da Nord Research, as ações de forma geral já estão acumulando altas nas últimas semanas, que são reflexos tanto do iminente fim do atual ciclo de alta dos juros como de um possível arrefecimento gradual da inflação no país, mas há um cenário mais promissor para depois da queda dos juros e da inflação, que deve vir apenas em 2023 pelas projeções do mercado publicadas no boletim Focus nesta segunda-feira (12).

Alimentos

As ações do Atacadão (CRFB3), por exemplo, caíram de um patamar de R$ 23,70 em abril para 15,80 em julho, com um retorno para a casa dos R$ 20 em setembro. O GPA também registrou queda a partir de abril, passando de R$ 25,80 para 15,06 em julho, e agora voltando para os R$ 22.

Embora ainda apresente alta, a inflação dos alimentos desacelerou em agosto, passando de um aumento de 1,30% em julho para 0,24% em agosto. A perspectiva de uma queda no preço da comida pode ajudar as empresas do varejo alimentar a ter um bom desempenho na Bolsa.

Assaí e GPA

A tendência é que, no médio prazo, possíveis melhoras nos níveis de inflação e uma menor taxa de juros contribuam para uma retomada mais acelerada do consumo por parte da população e, consequentemente, para que maiores margens de lucro sejam registradas pelas empresas, com destaque para as companhias do varejo alimentar.

“Isso poderá beneficiar, por exemplo, companhias como Assaí (ASAI3) e o Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), que mesmo atuando com produtos de primeira necessidade, estão apresentando dificuldades em repassar preço aos seus clientes no cenário atual”, diz o analista da Nord.

Nathalia Paulino, sócia fundadora, e Maurício Valadares, gestor da Nau Capital, avaliam que uma desaceleração dos preços pode ser benéfica ao varejo a esta altura porque aumenta a base de consumo, já que boa parte dos consumidores foi excluída do mercado por conta do aumento da inflação e do achatamento da renda. Isso tudo comprime também os resultados das empresas que atendem o público amplo, de renda menor.

Num cenário de solidificação de uma queda nos preços dos alimentos, as redes de varejo alimentar que apostam mais em preço baixo do que em experiência, tendem a ser beneficiadas.

“As empresas de atacarejo, por exemplo, sentiriam melhor esse efeito porque as pessoas de classe mais baixa, que é o grande público dessas redes, seriam as mais beneficiadas pela redução da inflação. Assaí, por exemplo, seria uma boa aposta”, explicam os analistas.

Grupo Mateus

O varejista de alimentos que atua no Norte e Nordeste do Brasil Grupo Mateus (GMAT3) foi apontado pelo Itaú BBA como a grande aposta no setor de supermercados.

A empresa fez um movimento de retomada mais vigoroso com o arrefecimento da inflação de alimentos e passou de R$ 3,30 em julho, seu menor patamar no ano, para a casa dos R$ 6,70.

A empresa é favorecida também pelo impacto do Auxílio Brasil na renda do seu principal público e com a possibilidade de assumir lojas da rede Big, expandindo sua atuação para estados importantes e que também serão beneficiados pelo aumento de renda advindo do Auxílio Brasil, são os casos da Bahia, Alagoas e Pernambuco, onde a empresa negocia novas unidades com o Carrefour.

Vestuário e acessórios

Ainda que exista um otimismo generalizado na bolsa de valores por conta de uma melhor perspectiva do cenário macro, algumas empresas ainda requerem uma certa atenção, e é o caso das varejistas de vestuário, avaliam os analistas da Nau Capital e da Nord Research.

Esse segmento teve maior variação positiva no IPCA de agosto, com aumento de 1,69% nos preços médios, revertendo a desaceleração no mês anterior, que foi de -0,58%.

“Talvez esse seja um dos segmentos mais sensíveis às altas dos juros e da inflação, principalmente pela maior dificuldade de repassar o aumento de custos para os consumidores”, aponta Bueno.

Na avaliação do analista da Nord, as empresas do segmento de vestuários que acabam ficando mais expostas ao cenário macro são aquelas que possuem uma grande dependência do varejo físico, sem uma atuação forte no digital para reduzir custos.

Outro ponto que caracteriza as empresas que mais sofrem no varejo de vestuário são aqueles que possuem pouco ou nenhuma diversificação das fontes de receita, incluindo outras marcas e produtos que atendam públicos diferentes, além de serviços financeiros.

Vivara e Renner como refúgios

Diante desses destaques, a Renner (LREN3) aparece com boa perspectiva por conta do amplo leque de marcas, voltadas para diferentes públicos, como Camicado, Ashua e Youcom, diz Bueno.

Além disso, a companhia possui seu próprio braço de serviços financeiros, a Realize, e um programa para investimento em startups que pode agregar valor às suas necessidades logísticas, o que abre caminho para ampliação da operação online e, por consequência, do resultado geral da empresa, avalia.

Para os analistas da Nau Capital, a Renner também surge como boa opção e pode ser uma das grandes beneficiadas por uma retomada da economia e pelo fato de a empresa já estar com suas ações descontadas.

“No Brasil, a gente está falando da possibilidade um crescimento de 3% do PI, é um bom crescimento. E empresas como a Renner conseguiriam se beneficiar porque o aumento do PIB seria acompanhado de um provável aumento dos preços das suas ações, que foram bastante corrigidos no primeiro semestre”, afirma a Nau.

Outra empresa que pode apresentar bons resultados mesmo com a persistência dos preços altos é a Vivara (VIVA3), diz Bueno. O analista ressalta a aderência da marca a um público mais elitizado, que naturalmente sofre menos com a inflação. “A empresa possui uma maior facilidade de repasse de preços no cenário atual e não possui a necessidade de realizar promoções e liquidações”, afirma.

A empresa também se beneficia da diversificação do seu portfólio, com o segmento de joias mais baratas atendido pela marca Life, que já é a segunda maior no mercado brasileiro de joias e serve como uma “porta de entrada” para a empresa captar novos clientes, “que podem até se tornar consumidores de produtos de tickets mais altos no futuro”, avalia o analista.

Outros segmentos

No varejo de serviços, os destaques ficam por conta dos setores financeiro e de energia, segundo os analistas da Nau Capital.

“Para esse cenário (de IPCA ainda em alta), a gente indica transmissoras de energia, que tem contratualmente um repasse de IPCA. As empresas que tem uma previsibilidade de geração de caixa e repasse de custo mais alto seriam vencedoras nesse cenário”, avaliam.

Os bancos, por sua vez, se protegem na manutenção das altas taxas de juros, que estão em 13,25% e devem chegar a 13,75% no final do ano, segundo projeção do Boletim Focus, que teve sua última versão publicada nesta segunda-feira (12).

 “O setor financeiro e o bancário mais especificamente tem mais flexibilidade para repassar preços ao consumidor e lidam muito bem com a taxa de juros mais alta”, explicam os analistas.

Construção com mais dificuldades

Um setor que requer bastante cuidado nesse cenário é o de construção civil, avalia a Nau Capital. “Dada a inflação alta e juros altos para as construtoras se financiarem, elas teriam um pouco mais de dificuldade, e para repassar preço para a população com renda mais comprometida ela também teria mais dificuldade. Recomendamos cautela nesse segmento”, informa a gestora.

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