Ilan Goldfajn: ‘aperto de 1,5 ponto é grande em qualquer lugar do mundo’

Para Ilan Goldfajn, os bancos centrais devem sempre ser mais serenos do que o mercado financeiro

O exterior tem contribuído para a inflação que atinge os países da América Latina, mas há fatores endógenos que tornam o aumento de preços na região mais desafiador para ser combatido. Essa é a avaliação de especialistas reunidos ontem no evento GZero Summit.

“Há tendências comuns, como os preços de combustíveis, mas há também fatores locais que levam a esse quadro”, diz Shelly Shetty, cochefe de ratings soberanos da Fitch na América Latina, citando incertezas políticas e fiscais.

Os bancos centrais latino-americanos já têm começado a apertar suas políticas monetárias. Alguns deles, como o BC brasileiro, estão mais adiantados nesse processo. Mesmo assim, os mercados pressionam por mais. Hoje o Copom se reúne sob a expectativa de mais uma alta de 1,5 ponto percentual na Selic.

“Um aperto de 150 pontos-base [1,5 ponto] é grande em qualquer lugar do mundo, menos nos mercados brasileiros, onde estão todos muito ansiosos para a inflação ser controlada”, afirmou Ilan Goldfajn, ex-presidente do Banco Central e nomeado para cargo de diretor no FMI, em painel no evento. Para o executivo, os bancos centrais devem sempre ser mais serenos do que o mercado financeiro.

De acordo com Shetty, o Brasil chama a atenção na região pela piora das expectativas que haviam no começo de 2021 para as que existem agora, em meio a eleições e flexibilização de regras fiscais, como a do teto de gastos. “Esperamos que o cenário econômico e fiscal seja muito mais desafiador em 2022.”

No mundo desenvolvido, Shantall Tegho, diretora do Goldman Sachs, entende que, do lado do Federal Reserve, a inflação deve ser controlada sem que a economia dos Estados Unidos passe por problemas de crescimento. Por outro lado, ela afirma que na América Latina os países não devem nutrir grandes expectativas acerca da China para impulsionar o crescimento em 2022. “Continuamos a ver regulação mais apertada na internet, aumento na demanda por descarbonização e ventos contrários no setor imobiliário.”

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