Ibovespa em dólar perdeu 50% desde 2010 e isso é uma boa notícia para o investidor paciente
Há muitos anos o investidor de bolsa no Brasil não tem vida fácil. Mesmo com uma leve recuperação no começo de 2025, o Ibovespa em dólares ronda a casa dos 20 mil pontos, o que significa que o índice perdeu mais da metade do valor desde 2010, quando fechou acima dos 41,5 mil pontos.
E, por enquanto, o noticiário macroeconômico e político não aponta que vá ser diferente nos próximos meses, com efeito Trump, inflação e juros em elevação.
Para o poupador disciplinado, porém, agora pode ser o momento de aplicar a clássica lição de ‘comprar na baixa’, segundo estrategistas de ações.
Isso porque, apesar desse pano de fundo desanimador, muitas empresas seguem sólidas a preços extraordinariamente baixos. E o melhor: seus lucros seguem crescendo.
Sim, a maré ainda pode ser de baixa por algum tempo. Mas para aqueles que tiverem paciência e disciplina e conseguirem escapar da tentação de achar com exatidão o melhor momento de entrada.
Nesse sentido, um dos mais recentes alertas nessa direção veio do Morgan Stanley, em relatório na semana passada.
Nele, o gigante de Wall Street mostrou a relação entre preço das ações e lucro das empresas, o P/L, um indicador de valorização das empresas.
Assim, o P/L médio das ações brasileiras atualmente está abaixo de 8, enquanto as da Índia saem a 23, perto dos níveis das bolsas americanas.
Esse descasamento é ainda mais impressionante para blue chips brasileiras, como nos casos de Vale (VALE3), com P/L de 4,7, ou de Petrobras (PETR4), com 5,7.
Trump e fiscal doméstico esfriaram otimismo com Brasil
Além do Morgan Stanley, há meses grandes casas como JPMorgan, Itaú BBA e Santander vinham emitindo relatórios comentando que o Ibovespa estava barato para padrões históricos.
Parte dos argumentos em favor dessa tese, no entanto, acabou atropelada por dois fatores que deterioram o otimismo com as ações brasileiras.
O primeiro foi a volatilidade nos Estados Unidos com a corrida presidencial e seus desdobramentos sobre a economia global.
Uma vez eleito, Donald Trump imediatamente pôs em ação promessas de campanha de combate à imigração e reafirmou ameaças de aumentar tarifas contra vários parceiros comerciais pelo mundo.
Economistas veem essas medidas como inflacionárias, o que tende a abreviar o ciclo de corte de juros no país.
“Isso (corte de juros) era algo que podia ser transformacional para os mercados emergentes”, disse o diretor-presidente da Moody’s, Carlos Prates, em entrevista à Inteligência Financeira.
Além disso, o governo brasileiro frustrou o mercado ao anunciar um pacote de corte de gastos públicos muito abaixo das expectativas.
Dessa forma, nas últimas semanas vários bancos reduziram suas previsões para o Ibovespa no final de 2025.
Virada econômica no Brasil deve destravar as ações
Porém, vem crescendo entre economistas a visão de que o modelo econômico em vigor no Brasil está perto da exaustão. O modelo é baseado em consumo e gastos do governo.
O Morgan Stanley, por exemplo, entende que o País cedo ou tarde migrará para o crescimento do PIB puxado por exportações e investimentos.
“A mudança na direção da política pode ser um catalisador para as ações brasileiras”, afirmou o banco.
Ademais, preocupações atuais como a dos juros altos tendem a ser passageiras uma vez que a inflação comece a dar sinais de queda ainda em 2025.
Enquanto isso, após um início ruidoso do governo Trump nos Estados Unidos, uma visibilidade maior do ritmo da economia americana permitirá que o Federal Reserve volte a cortar juros.
Segundo a ferramenta Fedwatch, do CME Group, a maioria do mercado acredita que isso acontecerá entre maio e junho.
Dessa forma, isso abriria espaço para retorno do fluxo de investimentos para ativos de maior risco, como o de mercados emergentes, incluindo o Brasil.
Nesse sentido, algumas classes de investidores começaram já a se posicionar.
Em 2025 até o dia 24, a entrada líquida de investidores estrangeiros na B3 superou R$ 3,1 bilhões.
Portanto, direção contrária ao que aconteceu em 2024 quando os não residentes resgataram R$ 32,1 bilhões da B3.
Ao mesmo tempo, os investidores institucionais também ampliaram a exposição em bolsa em mais de R$ 2 bilhões em janeiro.
Como são públicos que costumam se antecipar a ciclos de bolsa, isso pode ser um indicativo do que estão enxergando alguma recuperação adiante.
Ibovespa tem histórico de picos e vales
Um histórico de desempenho com dados compilados pelo Itaú BBA mostra que o Ibovespa tem um comportamento bastante volátil no tempo.
Assim, comparado com o desempenho de outros indicadores (CDI, dólar, IPCA e o índice de renda fixa IRFM), o principal índice da bolsa brasileira foi o pior ou o melhor desempenho relativo em nove dos últimos 13 anos.
Ou seja: o indicador sofre muito mais em tempos de crise ou baixa da economia como em 2013-15, 2021 e 2024.
Por outro lado, o mesmo índice foi líder de ganhos quando houve sinais de recuperação econômica do País, casos de 2016-17, 2019 e 2023).
2013 | Dólar (19,6%) | CDI (6,7%) | IPCA (3,9%) | IRFM* (2,7%) | Ibovespa (R$) (-11,5%) |
2014 | Dólar (13,4%) | IRFM (11,4%) | CDI (10,8%) | IPCA (6,4%) | Ibovespa (-2,9%) |
2015 | Dólar (47%) | CDI (13,2%) | IPCA (10,7%) | IRFM (7,1%) | Ibovespa (-13,3%) |
2016 | Ibovespa (38,9%) | IRFM (23,4%) | CDI (14%) | IPCA (6,3%) | Dólar (-16,5%) |
2017 | Ibovespa (26,9%) | IRFM (15,2%) | CDI (10%) | IPCA (2,9%) | Dólar (1,5%) |
2018 | Dólar (17,1%) | Ibovespa (15%) | IRFM (10,7%) | CDI (6,4%) | IPCA (3,7%) |
2019 | Ibovespa (31,6%) | IRFM (12%) | CDI (6%) | IPCA (4,3%) | Dólar (4%) |
2020 | Dólar (28,9%) | IRFM (6,7%) | IPCA (4,5%) | Ibovespa (2,9%) | CDI (2,8%) |
2021 | IPCA (10,1%) | Dólar (7,4%) | CDI (4,4%) | IRFM (-2%) | Ibovespa (-11,9%) |
2022 | CDI (12,4%) | IRFM (8,8%) | IPCA (5,8%) | Ibovespa (4,7%) | Dólar (-6,5%) |
2023 | Ibovespa (22,3%) | IRFM (16,5%) | CDI (13%) | IPCA (4,6%) | Dólar (-7,2%) |
2024 | Dólar (27,9%) | CDI (10,8%) | IPCA (4,8%) | IRFM (1,8%) | Ibovespa (-10,4%) |
Acumulado | Dólar (216,2%) | IRFM (191,6%) | CDI (185,8%) | Ibovespa (106,6%) | IPCA (93,3%) |
Ibovespa tende a se recuperar após período de baixo desempenho
Nos últimos 12 anos, apesar dos períodos de forte queda, o Ibovespa invariavelmente se recuperou depois, algumas vezes de forma rápida.
Como o índice atualmente está muito para trás em relação ao dólar, ao índice de renda fixa e ao CDI, a tendência é de que essa lacuna se feche em algum momento.
Momentaneamente, contudo, a recomendação de analistas é de que os investidores de bolsa se concentrem em ações de empresas mais robustas, com receita estável, lucros crescentes e pagadoras de dividendos, como indicaram o Morgan Stanley e o Itaú BBA em relatórios recentes.
Dessa forma, o investidor ficaria mais protegido contra maiores volatilidades de curto prazo, ao mesmo tempo em que sairá na frente quando o Ibovespa tiver uma recuperação mais robusta.
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