Entenda o aumento de liquidez em fundos de debêntures de infraestrutura e o que esperar

Gestoras de fundos estão otimistas com recorde de emissões de debêntures de infraestrutura e incentivadas em 2024

Fundos de debêntures de infraestrutura incentivadas vêm surfando aumento de liquidez e cotistas após a resolução do CMN (Conselho Monetário Nacional) limitar critérios de emissões de CRI e CRA. Nos fundos mais líquidos do mercado, o volume diário negociado de cotas chegou a dobrar a partir de fevereiro, com procura maior por títulos incentivados numa ponta e de novas emissões de empresas na outra.

O aumento de oferta ainda deve ser observado nos próximos meses, apontam gestores à Inteligência Financeira.

A queda da diferença das debêntures para os títulos de inflação de longo prazo deve chamar novas empresas a emitirem crédito incentivado, e o movimento pode destravar ainda mais valor no mercado de debêntures de infraestrutura, que aguarda regulamentação do governo federal.

Liquidez de debêntures de infraestrutura salta em fundos

Algumas das principais casas de fundos de crédito privado em infraestrutura que negociam títulos incentivados notaram aumento de até duas vezes no volume de liquidez diária.

Kinea, Sparta Asset e Rio Bravo afirmam que houve procura de investidores por debêntures incentivadas e de infraestrutura após a resolução do CMN impor limites de restrições para CRI e CRA, em 1º de fevereiro.

Dados da equipe de crédito privado do Itaú BBA mostram que a demanda do investidor acompanhou o aumento de registros de debêntures incentivadas. Assim, o volume financeiro envolvendo essa categoria de títulos saltou de R$ 4,7 bilhões em janeiro para R$ 14,8 bi em fevereiro.

Já o registro de operações foi de 11 a 18 na comparação mensal.

Além disso, o volume de transações envolvendo debêntures regulares de infraestrutura também subiu de R$ 7,5 bilhões para R$ 20,8 bilhões entre janeiro e fevereiro.

Enquanto isso, a quantidade de operações quase dobrou, de 13 a 23.

Kinea espera ano recorde de emissões de debêntures incentivadas

Para o mercado, o movimento de fuga dos CRI e CRA para debêntures foi “natural”.

Era uma postura do investidor esperada, de acordo com a procura por isenção do Imposto de Renda. “A resolução serviu como uma régua para aperfeiçoar emissões e gerou a percepção de investidores de que poderia haver menos certificados de agronegócio e imobiliário no mercado”. É o que destaca Aymar Almeida, gestor do KDIF11, da Kinea.

O gestor espera aumento de emissões de debêntures incentivadas para 2024. “Ano a ano vemos crescimento de emissões. Mas para este ano será ainda maior”, diz Almeida, ao listar os principais impactos da medida do CMN.

“Sentimos um primeiro impacto que foi a valorização das debêntures. Já o segundo efeito, e mais ameno, é a movimentação das companhias para emitir debêntures. Houve uma queda do título a mercado, o que torna mais atrativo para empresas se financiarem” completa.

Almeida relata que o fundo da Kinea de debêntures de infraestrutura e incentivadas passou de uma liquidez média diária de R$ 3 milhões para R$ 5 milhões. “E a previsão é de aumento para março”, afirma.

“O cenário de queda de taxa de juros pode colaborar, fica mais atrativo emitir agora do que era poucos anos atrás. As perspectivas são boas, mas também dependem do vencimento de títulos. Falar em recorde é difícil, mas temos um cenário otimista”

Aymar Almeida, gestor de crédito da Kinea Investimentos

Com novos cotistas, a estratégia das gestoras

Outro fundo que observou aumento de liquidez diária foi o JURO11, da Sparta Asset. A gestora viu salto de quase 2 mil cotistas no fundo que negocia debêntures incentivadas de infraestrutura desde a resolução do CMN, em fevereiro.

E o fundo espera chegar aos 40 mil ainda neste mês, com expectativa de capturar mais debêntures a serem emitidas.

A estimativa do mercado é acréscimo de pelo menos R$ 10 bilhões em volume, destaca Caio Barcellos Palma, analista da Sparta. O JURO11 saltou de um volume de R$ 2 milhões para R$ 4 milhões nos últimos três meses.

O analista explica que, agora, passada a resolução do CMN, o objetivo do fundo é buscar prêmio em debêntures com grau de risco maior, mas sem sair do terreno da classe de rating A, a mais alta do mercado.

“O JURO11 tem estratégia de gestão ativa da carteira. Diria que o que estamos indo agora é tentar encontrar oportunidades entre A e duplo A. Acabou que depois dos episódios de Americanas e Light, ficamos concentrados em triple A”, diz Palma.

Ele explica que os spreads de títulos com menores notas, duplo A ou A, devem avançar frente aos mais “seguros”.

Vitor Tâmega, gestor do RBIF11, fundo da Rio Bravo para debêntures de infraestrutura e incentivadas, explica que “emissores não frequentes”, a maioria do middle market, querem entrar no mercado de capitais.

O fundo da Rio Bravo possui 98% do caixa alocado e distribui a cotistas R$ 1 por cota a cada mês.

“Estamos vendo emissões de middle market. São projetos menores, que não têm histórico. Emissores frequentes estão acostumados a acessar mercado de capitais, então fazem isso de forma célere. Quem não acessa está acelerando esse processo”, afirma Tâmega.

Governo vai regular debêntures de infraestrutura

O governo federal comunicou na sexta-feira (22) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve assinar o regulamento de emissões de debêntures de infraestrutura nesta terça-feira.

A sanção presidencial é aguardada porque deve resolver duas dúvidas deixadas em aberto pela Lei das Debêntures de Infraestrutura, assinada em janeiro.

Foto de um engenheiro olhando para turbinas eólicas. A matéria trata de debêntures de infraestrutura
Fundos de debêntures de infraestrutura estão otimistas com emissões em 2024. Foto: Ari Versiani/Agência Brasil.

O primeiro é sobre quais são os setores e projetos de infraestrutura que levam prioridade em emissões. Ricardo Stuber, sócio da Tozzini Freire Advogados, explica que alguns setores, como o de geração de energia distribuída, aguardam a definição do regulamento para emitirem notas.

O segundo ponto importante é retirar a obrigação de ministérios do governo aprovarem a emissão de debêntures. A Lei das Debêntures dispensa a autorização ministerial para emissões, mas não especificou quais pastas estão incluídas.

“Pela regulamentação da Lei, vai ter dispensa de ministérios, mas muitos não estão contentes em perder esse poder. Imagino que um dos pontos da demora para sair o decreto seja a negociação para revogar a autorização para as debêntures de infraestrutura. A regulamentação vai confirmar quais ministérios serão enquadrados”, afirma Stuber.

A assinatura do governo na segunda deve destravar uma série de pedidos da CVM de ofertas de debêntures de infraestrutura. Ela afeta tanto investidores institucionais quanto pessoas físicas.

“Empresas vão emitir de acordo com o bolso que querem atingir”, diz o advogado.

“Se o público-alvo for o investidor pessoa física e fundos, a emissão será de debêntures incentivadas. Se forem fundos de pensão ou investidores estrangeiros, as empresas devem emitir títulos não-incentivados.”