Executivas de sucesso contam como superar barreiras e conciliar carreira e vida pessoal

Série da Editora Leader inclui mais de 50 livros voltados a diversas áreas com mulheres em altos cargos.

Onde encontrar as principais executivas em atuação no país e conhecer suas experiências, aprender com elas? A Editora Leader resolveu responder a essa pergunta em 2014, e daí acabou criando uma série que já inclui mais de 50 livros voltados a diversas áreas em que mulheres em altos cargos marcam presença — do seguro ao varejo, da tecnologia ao RH.

“O que a série pretende mostrar é que, hoje, ser empreendedora no Brasil é possível”, diz Andréia Roma, CEO da Editora Leader, que coordena a Série Mulheres com a executiva Tânia Moura. “Precisa ter determinação e disciplina, e não pode faltar integridade. Cada uma tem seu jeito próprio de fazer, mas sempre um jeito honesto.”

A série — que neste mês está lançando “Mulheres — Compliance na prática”, “Mulheres no conselho”, “Mulheres no marketing” e “Mulheres no direito” — reúne dezenas de presidentes e diretoras de empresas com insights para inspirar outras mulheres. A história de cada uma, suas trajetórias de sucesso, os obstáculos encontrados e como fizeram para superar as barreiras e conciliar carreira e vida pessoal.

Andréia Roma: “O feminismo traz questões importantes, mas não sou uma editora feminista. A série traz histórias que impactam homens e mulheres” — Foto: Divulgação

Presidente de conselhos de administração e especialista em governança corporativa em empresas familiares, Geovana Donella é a coordenadora do livro “Mulheres no conselho”, junto com Henrique Luz. Ela é também uma das 32 coautoras da obra. Em seu relato, conta seu percurso desde a primeira experiência profissional, aos 17 anos, na Companhia Brasileira de Material Ferroviário (Cobrasma), até criar sua própria consultoria de governança corporativa, a Donella & Partners. Conta, também, como começou a lutar pela representatividade das mulheres em altos cargos de administração.

O gatilho foi o convite, após uma experiência de sucesso numa startup de embalagens plásticas, para ocupar o cargo de superintendente da multinacional de alumínio Alcoa, quando ouviu do headhunter que seria “a primeira mulher na história mundial da empresa a ocupar este cargo”. A afirmação a deixou perplexa, pois não podia imaginar que, àquela altura, perto do ano 2000, uma empresa do porte da Alcoa não tivesse uma mulher em alta posição.

No livro, ela reuniu mulheres “escolhidas a dedo”, pioneiras como membros de conselhos, função até há pouco tempo majoritariamente masculina. Situação que lentamente vem se transformando, em parte impulsionada pela força dos requisitos ESG. O ponto de vista principal defendido por Donella é que um ambiente diverso leva a um processo decisório mais sólido e rentável.

“O board é um colegiado e, quanto maior a diversidade nesse grupo, melhor a criatividade e melhores as estratégias traçadas para a empresa. Mais de 90% dos lares têm como decisora de compras a mulher, no Brasil e no mundo. É a mulher que decide para onde viajar, o que comer, o que comprar… Há empresas totalmente ligadas ao setor feminino que, muitas vezes, não têm uma mulher no board. Isso não tem lógica.”

Não foi casual a escolha de Henrique Luz, ex-presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2019-2021), para dividir com ela a coordenação do livro. “Era importante que o livro tivesse um homem sensível à causa. Mesmo porque desejamos que seja lido também pelos homens, para instigá-los a enxergar as dificuldades pelas quais as mulheres passam. É preciso uma conscientização coletiva.”

Visão que é compartilhada pela editora da série. “O feminismo traz questões importantes, mas não sou uma editora feminista. A série traz histórias que impactam homens e mulheres”, diz Roma. Apresentando no currículo dezenas de cursos de formação, o que considera fundamental para o empreendedorismo, ela trouxe para a editora o mesmo conceito de autodesenvolvimento que norteou sua vida.

“Acredito, acima de tudo, em histórias”, afirma, justificando com seu próprio exemplo. Para realizar o sonho de criar a Leader, em 2010, contou com o apoio do marido, Alessandro, que pediu as contas no trabalho para lhe dar os recursos necessários. “Da mesma forma que meu marido se apaixonou pela minha história e acreditou em mim, na minha vontade de trazer algo inovador para o mundo editorial, outros homens podem ser incentivados pelas histórias das mulheres que a série traz.”

Roma até patenteou a série, de modo a não ser copiada por nenhuma outra editora, não só no Brasil, como em todos os signatários da Convenção de Berna, atualmente 181 países. “Achei imprescindível ter exclusividade deste selo pioneiro”, diz. Além dos títulos, registrou também as duas linhas que compõem a série: poder de uma história e poder de uma mentoria. Na primeira, as coautoras contam suas histórias, seguindo o modelo elaborado pela editora, com roteiro específico para cada livro. Na segunda, cada convidada conta o que faz e como faz, em uma aula prática sobre seu campo de atuação.

Pertence à segunda linha “Mulheres — Compliance na prática”, com coordenação da advogada Adriana Nascimento. Responsável pela área jurídica da editora, ela foi também a coordenadora de “Mulheres no direito”, publicado ano passado. “No direito, tivemos muitas mulheres fortes e desbravadoras que abriram as portas para nós. A primeira a exercer a profissão foi Myrthes Gomes de Campos [1875-1965], que marcou a história, mas não conseguiu tirar a carteira da OAB. Agora tivemos mudanças dentro do regimento do órgão. Hoje, a presidente da OAB em São Paulo é uma mulher, Patrícia Vanzolini. Estamos conseguindo espaços de maior voz, mas é fato que o mercado ainda paga menos para a mulher.”

Vice-presidente de Pessoas, Cultura e Organização da TIM, a italiana Maria Antonietta Russo já participou de dois livros da série (“Mulheres no RH volume II” e “Mulheres que transformam”) e cuida da coordenação de um novo título sobre RH, a ser lançado em breve. Trabalhando com recursos humanos há mais de 20 anos, chegou ao Brasil em 2019 para acompanhar o projeto de transformação digital da TIM. Ela qualifica sua participação no primeiro livro como “uma experiência quase terapêutica”. “Eu vivia um momento pessoal e profissional complicado: em meio à pandemia, recém-chegada ao Brasil e com a transformação que estava liderando no RH da empresa ainda em andamento. Fiquei contente com a oportunidade de contar como liderei um percurso de transformação cultural, seus desafios, fracassos e as lições aprendidas”, conta.

Russo reconhece que o RH é um dos setores em que estatisticamente há mais presença de mulheres, se comparado às áreas científicas, técnicas ou financeiras. “Isso tem relação com as escolhas acadêmicas das mulheres no contexto brasileiro. No entanto, tenho percebido uma evolução nesse percurso, que inclusive é muito necessária, tendo em vista que as profissões do futuro se concentrarão nas áreas de tecnologia e inovação. Por isso, estimular que cada vez mais mulheres escolham as carreiras que desejarem e ocupem posições de liderança nas empresas é fundamental.”

Atuando na área de tecnologia da informação há 35 anos, Mônica Mancini é uma das 41 coautoras do volume “Mulheres na tecnologia”. “Não senti dificuldade em entrar na área porque exige um conhecimento técnico forte, porém, à medida que se vai galgando posições de liderança, aí fica mais difícil, porque vai afunilando a pirâmide. Mas hoje vejo um cenário mais positivo, com muitas mulheres como diretoras de tecnologia de grandes empresas de TI”, diz Mancini, que prepara, agora como organizadora, um novo volume.

Ela acredita que um dos principais problemas para as mulheres na área é a dificuldade de cumprir a jornada de trabalho “forte”, de 12 horas, em média — pois “a TI tem que estar sempre funcionando” — com os outros papéis femininos. “É preciso criar políticas públicas ou, então, que as empresas sejam mais maleáveis e criem mais políticas inclusivas para facilitar a vida da mulher também na criação dos filhos. Temos que fazer uma ginástica bastante grande para conciliar tudo isso. A sociedade precisa outra mentalidade para que se possa prover um melhor espaço para as mulheres.”

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