Empresas se preparam para emitir no exterior

Com o mercado local parado, empresas olham para fora

Empresas brasileiras que nunca emitiram bônus têm demonstrado maior interesse pela possibilidade de acessar o mercado internacional de dívidas. Segundo bancos de investimento ouvidos pelo Valor, o número de consultas de companhias sobre como funciona o processo de emissão aumentou nas últimas semanas, diante do enfraquecimento do mercado local.

O movimento parte principalmente de empresas de infraestrutura e de “utilities” — que estão acostumadas a captar volumes altos no mercado interno, mas que, no momento, enfrentam um cenário adverso, com taxas mais altas e uma menor demanda. Empresas de óleo e gás também são candidatas às operações. As de varejo, até o momento, não demonstraram interesse, segundo apurou o Valor, mesmo com a piora do risco de crédito decorrente do caso Americanas.

“Hoje, há dúvidas de quando o mercado local deve voltar à normalidade e, quando isso ocorrer, qual será o apetite para emissões mais longas”, afirma Caio de Luca, responsável pela área de mercado de capitais de dívida do Bank of America no Brasil. “Enquanto isso, o mercado internacional está aberto e com maior disposição dos investidores.

”No início de fevereiro, a Braskem conseguiu levantar US$ 1 bilhão com a emissão de títulos de dívida. A operação foi a primeira de uma brasileira no mercado internacional após um período de seca que durou mais de nove meses. A demanda pelos papéis superou os US$ 6,1 bilhões, acendendo uma luz verde para outras companhias.

No decorrer do último mês, não foram registradas outras emissões, mas o motivo não foi a falta de interesse dos investidores, mas, sim, a necessidade de aguardar a divulgação dos resultados financeiros referentes ao quarto trimestre. A temporada de balanços acaba no fim de março, e a expectativa é que até dez operações ocorram neste e no próximo mês, conforme sejam divulgados os números.

Um dos pontos analisados por uma emissora na hora de escolher o mercado internacional é o custo em relação ao mercado local. Em 2022, as empresas não estavam tão dispostas a emitir fora do país porque conseguiam encontrar dinheiro mais barato por aqui, segundo Samy Podlubny, do UBS BB. Em janeiro deste ano, a dinâmica mudou e a diferença dos preços começou a ser menor.

“Após o episódio Americanas e a retirada de recursos de fundos que investem em renda fixa, a convergência de preços lá fora com os preços daqui de dentro ficou ainda mais acentuada”, diz Podlubny. “O mercado internacional se tornou mais interessante porque os preços convergem, mas também porque lá fora o mercado não está passando pelo nervosismo que ocorre hoje aqui.

”Na fila das próximas emissões, devem aparecer primeiro as emissoras frequentes, que têm certa facilidade em cumprir com as etapas necessárias para a operação, como a organização dos documentos e a preparação do “roadshow”. As novatas devem se preparar por um tempo maior, levando até dois meses para acessar o mercado de bônus.

Gustavo Siqueira, responsável pela área de mercados de capitais de renda fixa do Morgan Stanley, estima que cerca de 10% das emissões de brasileiras realizadas neste ano seja de estreantes. “O mercado está aberto, mas não de maneira irrestrita”, diz. “Existe uma preferência de investidores por nomes conhecidos e por volumes maiores, para ter mais liquidez.”

O Morgan prevê que o volume total de captações de brasileiras no exterior fique entre US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões em 2023.

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