Os efeitos da Liga Árabe no futebol mundial

Tudo começou com a chegada de Cristiano Ronaldo após a Copa do Mundo

Qual é a maior novidade do futebol nessa temporada? A Liga Árabe de futebol.

Sem pretensão de fazer avaliações definitivas, o que é comum quando falamos de futebol, a recente movimentação do governo da Arábia Saudita para a construção de uma liga local de futebol que atraia a atenção do mundo é, antes de tudo, um projeto. Por isso, precisamos avaliá-la sob diversas óticas e seus impactos.

O que é a Liga Árabe?

Antes de mais nada, a Liga Árabe é uma ação do governo. Até então, os governos de países do Oriente Médio investiam em futebol invadindo ligas relevantes dentro da Europa.

Além disso, eles também compravam clubes e injetavam dinheiro para torná-los competitivos, agora resolveram direcionar investimentos para fortalecer o futebol local.

Assim, dizem que o projeto prevê a injeção de € 1 bilhão na contratação de atletas e staff técnico e reforçar os 4 principais clubes do país, num projeto que tem como objetivo ser a sede da Copa do Mundo de 2030. Para isso, nada melhor que fortalecer a liga local e chamar a atenção do mundo.

Se o Qatar optou por investir e transformar o PSG num clube de estrelas, por que não transformar o campeonato local numa competição de estrelas?

A força de Cristiano Ronaldo

Tudo começou com a chegada de Cristiano Ronaldo após a Copa do Mundo. “Retirado” do futebol europeu a peso de ouro, ele foi seguido das contratações de nomes como Benzema, Firmino, Koulibaly, Brozovic, Mané, Fabinho, Kanté, entre outros. Uma lista respeitável, sem dúvida.

Isso enfraquece o futebol europeu?

A primeira impressão é que sim. Mas vamos analisar de maneira menos apaixona e mais racional.

Dessa forma, a maioria é de atletas que estão na fase final da carreira, com mais de 30 anos. Muitos deles estava sem contrato, e seus clubes renovariam por valores menores ou simplesmente optaram por não renová-los. Ou seja, do lado dos clubes trata-se de uma reciclagem natural de elenco.

Observando os clubes envolvidos, boa parte dos atletas deixou o Liverpool e o Chelsea. No caso do clube de Jurgen Klopp, trata-se de uma necessária mudança estrutural de elenco, que já vinha dando sinais de esgotamento de modelo de jogo.

No Chelsea, que não disputará competições europeias em 2023/24 e que fez investimentos de mais de € 300 milhões na temporada passada, era momento de ajustar a estrutura. Optou por liberar atletas caros e de desempenho abaixo do esperado.

Mané foi mal no Bayern, Benzema encerrou um ciclo vitorioso no Real Madrid, Brozovic rendeu mais de € 20 milhões para a Inter de Milano, mesmo aos 30 anos. Todos permitiram as chegadas de atletas com menos de 24 anos, mais baratos e com possibilidade de mais tempo de carreira.

Os poucos atletas com menos de 30 anos que deixaram clubes menores, como o Celtic, o Wolverhampton, ou são casos como Fabinho, atleta do Liverpool e de Seleção, mas que é caro e ocupava espaço de atletas mais jovens.

Portanto, para os clubes europeus foi uma forma de injetar recursos no sistema, seja através da venda, seja porque aliviaram o caixa ao longo do tempo.

E, primordialmente, permitiram que os mais jovens, talentosos e de potencial permanecessem jogando no continente.

Além disso, são atletas que não despertaram interesse de grandes clubes europeus. Possivelmente teriam vaga em clubes de médio porte, recebendo salários menores e concorrendo ao meio da tabela das ligas.

Mas já deixariam a vitrine, a Champions League.

Atletas que ficaram na Europa

Por outro lado, outros atletas, com alta demanda de clubes grandes permaneceram na Europa. Modric recusou proposta e segue no Real Madrid, Pulisic foi ao Milan, Gundogan está no Barcelona, Bernardo Silva é especulado no PSG. Ou seja, só saiu quem não tinha espaço na Europa pelo custo pretendido.

E nem falamos de Messi, que optou pela MLS, num movimento ousado da liga americana, e que pode ajudar na chegada de mais alguns nomes de peso.

Não que o mercado precise, pois a competição aumenta a presença de público ano a ano, tem conseguido alguma divulgação de TV, e consegue executar seu objetivo original, que é formar atletas. Já falamos de Pulisic, mas temos McKennie, Musah, Weah, Scally, entre outros, jogando em clubes europeus de boa competitividade. Já não é uma liga amadora, e a chegada de Messi será um divisor de águas num mercado já profissionalizado.

Como a Liga Árabe afeta o Brasil

No Brasil, tradicional exportador de jogadores de futebol para a Arábia, talvez percamos um pouco de espaço.

Ou, então, passemos a ser alvo de clubes locais, especialmente quando o interesse pelos europeus – ou dos europeus – cessar. Pode ser um destino importante para atletas já na fase madura da carreira, entre os 24 e 30 anos, que não tem espaço na Europa.

O que podemos esperar da Liga Árabe?

O que esperar da Liga Árabe? Uma competição divertida, com bons atletas, mas com jogos animados. Não sou capaz de avaliar tecnicamente, mas é natural que o nível seja inferior às principais competições europeias, visto que os principais participantes são atletas que rendiam cada vez menos nos clubes anteriores.

Ainda que seja feita com dinheiro do estado e do petróleo, fica mais uma lição para o futebol brasileiro: precisamos de planejamento, precisamos estruturar o futebol local, as competições, organizá-las de forma a criar um produto. Oportunidades ficam pelo caminho, e nem sempre voltam para uma segunda chance.