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Temor com Fed abala mercados
A semana começou com elevada tensão nos mercados financeiros globais. Enquanto as taxas dos Treasuriees dispararam, as bolsas derreteram em diferentes partes do mundo. Com a inflação ao consumidor nos maiores níveis em 40 anos nos Estados Unidos, o humor dos agentes foi minado pela percepção de que o processo de desancoragem das expectativas inflacionárias de médio prazo segue a todo vapor. Não por acaso, a percepção de que o Federal Reserve (Fed) precisará subir os juros ainda mais e de forma mais agressiva pesou no sentimento dos agentes.
O estresse no mercado foi expressivo a ponto de aumentar as apostas de uma alta mais forte nos juros americanos nesta semana. De acordo com o CME Group, os contratos futuros dos Fed funds precificam, agora, 91,2% de probabilidade de um aumento de 0,75 ponto percentual pelo Fed na quarta-feira. E, se Barclays e Jefferies estavam isolados com essa expectativa, ela já começa a ganhar cada vez mais adeptos.
Não por acaso, o estresse mais profundo se deu no mercado de Treasuries ontem. Para se ter ideia da dimensão dos movimentos de ontem, o retorno da T-note de dois anos subiu 0,289 ponto percentual, para 3,358%. No mercado de juros futuros brasileiro, a taxa do DI para janeiro de 2024 ganhou 0,335 ponto, para 13,335%.
O juro americano de curto prazo, assim, encostou na taxa de dez anos, que ontem subiu para 3,43%. E, com o aperto das condições monetárias, as bolsas aprofundaram a correção recente, com destaque para o S&P 500 que, ao ceder 3,88%, para 3.749,63 pontos, entrou em território de “bear market” (ou “mercado baixista”), já que caiu 21,82% desde o recorde anotado em janeiro. Ainda em Wall Street, o índice Dow Jones recuou 2,79%. Já o índice eletrônico Nasdaq sofreu baixa de 4,68%.
O clima contaminou o mercado brasileiro, onde o Ibovespa caiu 2,73% e o dólar subiu 2,56%, sendo cotado a R$ 5,1146.
O “aumento surpreendente” das expectativas de inflação de longo prazo nos EUA, mostrado na pesquisa quinzenal da Universidade de Michigan, foi um dos motivos apontados pelo economista-chefe para EUA do J.P. Morgan, Michael Feroli, para justificar a alteração na projeção do banco para os juros nesta semana. O economista espera, agora, que o Fed aumente as taxas em 0,75 ponto na quarta-feira e avalia, ainda, que “a verdadeira surpresa seria, realmente, elevar [os juros em] 1 ponto, algo que pensamos ser um risco não trivial”.
Pouco depois do J.P. Morgan, o Goldman Sachs alterou seu cenário e passou a considerar dois aumentos de 0,75 ponto nos juros – um nesta semana e outro, em julho. Como justificativa, os economistas do Goldman apontam reportagem do “The Wall Street Journal” que relatou que os dirigentes do Fed provavelmente “considerarão as surpresas dos mercados, com um aumento de 0,75 ponto nos juros nesta reunião”.
“Nosso melhor palpite é, portanto, que o artigo é uma dica do comando do Fed de que uma alta de 0,75 ponto está a caminho”, dizem os economistas do Goldman Sachs. Apesar de esperarem dois aumentos de 0,75 ponto nos juros pelo Fed, eles ainda acreditam que as taxas devem chegar ao intervalo entre 3,25% e 3,5% no fim do atual ciclo de aperto nos EUA. Agora, porém, a expectativa é a de que esse nível seja alcançado em dezembro.
Na sua última reunião, o Fed havia dado uma sinalização clara de que pretendia elevar os juros em 0,5 ponto nas duas próximas decisões, mas não apenas os futuros dos Fed Funds indicam alta de 0,75 ponto nesta decisão, como também uma probabilidade de 73,1% de mais uma movimentação de mesma magnitude em julho.
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