Risco de juros mais altos leva temor aos mercados
O alívio nos mercados após a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) durou pouco. O temor de um cenário inflacionário ainda mais grave no futuro dominou as atenções do mercado e pesou no sentimento dos agentes, o que gerou forte reprecificação dos juros de longo prazo. O ajuste nas taxas, por sua vez, provocou um forte aperto das condições financeiras, o que jogou as bolsas para baixo ao redor do globo, enquanto o dólar ganhou ainda mais fôlego.
A declaração do presidente do Fed, Jerome Powell, de que os dirigentes do banco central não consideram ativamente, neste momento, um aumento de 0,75 ponto, causou alívio na véspera, mas foi o principal fator a gerar a aversão a risco nos negócios de ontem. Na visão do mercado, o Fed, ao não sancionar um aumento mais agressivo nos juros no curto pode ter de enfrentar uma inflação mais alta no curto prazo e ser forçado a aumentar os juros a níveis ainda mais elevados.
Assim, o juro da T-note de dez anos, considerado o principal “benchmark” [referência] dos mercados globais, disparou e, nas máximas do dia, chegou a 3,106%. É o maior nível desde novembro de 2018. Ao mesmo tempo, o juro real de dez anos nos EUA deu um salto, ao passar de 0,07% para 0,18%. A reação dos outros ativos a esse movimento foi forte e ajudou a escancarar o processo de reprecificação nos mercados, que agora estão em ambiente de juros mais elevados. Em Wall Street, o índice Dow Jones caiu 3,12% e o S&P 500 recuou 3,56%; já o índice eletrônico Nasdaq sofreu um tombo de 4,99%.
Por aqui, os reflexos também se deram de forma expressiva. O Ibovespa encerrou o pregão em queda de 2,81%, aos 105.304,19 pontos. Durante o dia, o índice chegou, até mesmo, a apagar os ganhos registrados neste ano. Já o dólar encerrou o dia negociado a R$ 5,0166, em alta de 2,38%. A quinta-feira, porém, foi de volatilidade elevada no câmbio e o chegou a subir acima de R$ 5,05 nas máximas do dia, alinhado ao comportamento global, já que o índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante seis moedas fortes, continuou a renovar máximas em 20 anos.
Nos cálculos do Goldman Sachs, as condições financeiras dos EUA estão no nível mais apertado desde julho de 2020, embora, do ponto de vista histórico, ainda estejam bastante acomodatícias. Os juros, em especial os de longo prazo, tendem a ser os principais elementos a determinar o estado das condições financeiras. Com as taxas mais altas, a tendência é que o crédito seja afetado, pesando em investimentos e no consumo mais à frente.
E o atual cenário de aperto pode desenhar, inclusive, juros longos ainda mais altos do que o atualmente precificado. “Achamos que o aumento dos rendimentos dos Treasuries ainda está para acontecer e que as ações continuarão a sofrer”, diz Thomas Mathews, economista de mercados da Capital Economics.
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