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Saiba o que tem puxado a queda do desemprego no Brasil
A taxa de desemprego no país caiu para 6,9% no segundo trimestre, vindo de 8% um ano antes, 7,9% nos primeiros três meses do ano e 7,1% no trimestre móvel encerrado em maio. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgada nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado foi idêntico à mediana das expectativas de 24 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, com intervalo de projeções indo de 6,7% a 7,4%.
Trata-se da menor taxa para um trimestre encerrado em junho desde 2014, quando marcou iguais 6,9%.
Fila de desempregados menor
No segundo trimestre, o país tinha 7,5 milhões de desempregados — pessoas de 14 anos ou mais que buscaram emprego, mas não conseguiram encontrar. O número aponta retração de 12,5% frente ao trimestre móvel anterior, encerrado em março (menos 1,1 milhão de pessoas) e queda de 12,8% frente a igual período de 2023 (menos 1,1 milhão de pessoas).
Entre abril e junho, a população ocupada (empregados, empregadores, funcionários públicos) subiu 1,6% ante trimestre anterior, atingindo 101,8 milhões, novo recorde da série histórica iniciada em 2012. Frente a igual trimestre de 2023, subiu 3%.
Salários maiores
A massa de rendimentos dos trabalhadores brasileiros atingiu novo recorde e alcançou R$ 322,6 bilhões no segundo trimestre, mostrou a Pnad Contínua.
O aumento foi de 3,5% frente ao primeiro trimestre (mais R$ 10,8 bilhões) e de 9,2% ante o segundo de 2023 (mais R$ 27,3 bilhões). O valor considera a massa de rendimentos real habitualmente recebida pelas pessoas ocupadas (em todos os trabalhos).
Já a renda média dos trabalhadores avançou 1,8% no segundo trimestre ante o primeiro, para R$ 3.214. Na comparação com o segundo trimestre de 2023, houve alta de 5,8%.
Expansão de trabalhadores informais e formais
O mercado de trabalho brasileiro vive, no momento, movimentos de expansão tanto no número de trabalhadores formais como no de trabalhadores informais, segundo a coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE, Adriana Beringuy.
Ela destacou a boa evolução do trabalho formal no trimestre encerrado em junho, quando o número de empregados com carteira de trabalho no setor privado excluindo trabalhadores domésticos, chegou a 38,380 milhões, novo recorde da série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012.
“Mas o informal segue em expansão”, disse. “Temos expansão simultânea seja dos empregados formalizados seja dos informalizados. A informalidade segue crescendo.”
Beringuy destaca a taxa de informalidade de 38,6% da população ocupada no mercado de trabalho no segundo trimestre, o que representa 39,3 milhões de trabalhadores informais. Essa parcela era de 38,9 % no primeiro e de 39,2% no segundo de 2023.
O contingente de trabalhadores formais ficou em 62,506 milhões ao término do segundo trimestre. Esse volume é 2% acima do observado no primeiro trimestre.
Já o volume de trabalhadores informais ficou em 39,324 milhões de pessoas, no segundo trimestre. Esse contingente foi 1% acima do registrado no primeiro trimestre.
“Podemos dizer que o ritmo de crescimento dos trabalhadores formais no mercado de trabalho é o dobro do observado no ritmo de crescimento dos informais”, afirmou a pesquisadora.
Mercado de trabalho aquecido
A queda da taxa de desemprego para 6,9% no segundo trimestre sinaliza para um mercado de trabalho aquecido e que deve continuar nessa toada nos próximos meses, avaliam economistas. Eles destacam que o comportamento dos rendimentos também continua mostrando crescimento real firme, o que deve ajudar o cenário de atividade, mas manter preocupações em relação à dinâmica da inflação.
“Esse é mais um resultado que mostra a consistência de resultados positivos no mercado de trabalho brasileiro. Qualitativamente, a taxa de informalidade se manteve estável em 38,6% e o quadro da taxa de participação avançou de 62% para 62,1%. O maior destaque, porém, vai para o nível de ocupação, que engatou a terceira alta consecutiva, passando de 57,6% para 57,8%, e atingiu o menor número de pessoas em busca de trabalho desde fevereiro de 2015”, nota o economista do PicPay, Igor Cadilhac.
Rodolfo Margato, da XP Investimentos, destaca a alta de 0,4% do rendimento médio real habitual de maio a junho. Desde agosto de 2023, quando a renda do trabalho começou a crescer de forma mais acelerada que o previsto, esse indicador acumula alta de 5%.
“O cenário de alta dos salários e da massa de renda permanece. Os dados de junho não alteram nossa projeção de desemprego para o fim do ano, de 7,2%, mas colocam viés de baixa. Nosso indicador proprietário de renda também projeta um crescimento real acima de 6%”, afirma em comentário distribuído.
Impacto no PIB e no rumos dos juros
O bom desempenho do mercado de trabalho reforça a projeção de 0,7% de crescimento do PIB no segundo trimestre, na comparação mensal, e coloca viés de alta para a estimativa para 2024, atualmente em 2,2%, acrescenta Margato.
“Mas pode impor estimativas de hiato do PIB mais elevado, questionamento sobre a sustentação do mercado de trabalho e busca da conversão da inflação à meta.”
“É realmente impressionante que estamos próximos do menor patamar registrado para o desemprego do país (6,3% em dezembro de 2013)”, nota Luis Leal, economista-chefe da G5 Partners.
Ele destaca que, diferentemente de 2023, quando a queda da desocupação foi a menor participação no mercado de trabalho, este ano é o crescimento da população ocupada é o fator que tem movimento o mercado.
Leal também destaca que o rendimento médio real ultrapassou apenas em maio último uma tendência que se perdeu por causa da pandemia de covid, em 2020.
“É possível que o crescimento acelerado dos salários que ocorreu até então tenha sido impulsionado por um movimento de recomposição salarial. Se for esse o caso, talvez os rendimentos apresentem uma certa acomodação nos próximos meses. Caso continuem crescendo de forma expressiva, é possível argumentar que será devido a forças que vão além deste processo de recomposição”, o que pode trazer problemas para a condução da política monetária.
Com informações do Valor Econômico
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