O problema do Brasil é e continuará sendo a política fiscal em 2025. A análise é de Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco em entrevista para a Inteligência Financeira. “O Brasil avançou muito nas instituições, na política monetária, na credibilidade da política monetária, mas ainda precisa endereçar seus desafios fiscais”, afirmou.
A política fiscal ganhou tração enorme no segundo semestre deste ano. O governo lançou pacote fiscal que até recebeu aprovação dos especialistas, mas seus pontos positivos foram embaçados pelo anúncio ao mesmo tempo da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. A população aprovou a medida, mas o mercado entendeu como uma ação populista que coloca justamente o esforço fiscal em perigo.
O pacote foi aprovado no Congresso. Mas desidratou. Assim, o governo deixará de economizar aproximadamente R$ 1 bilhão. A informação foi dada pelo próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Previa-se uma economia até 2026 de R$ 71,9 bilhões antes do legislativo votar o texto.
Assim, diante deste cenário a bolsa de valores acumulou severas crises e o câmbio, também por este motivo, mas não só, resultou em valorização do dólar frente ao real – a moeda norte-americana chegou a valer cerca de R$ 6,20 recentemente.
Para Mario Mesquita a equação para 2025 está colocada à mesa. E ela passa pelo fiscal.
Ele cita um amigo economista que conta o seguinte: o orçamento e os gastos refletem as ambições ou aspirações. As receitas, as realidades ou possibilidades. O segredo, conta o economista-chefe do Itaú, é compatibilizar as duas. Para ele, o governo faz, sim, esforço para cuidar desse fiscal por meio do arcabouço. Mas precisa adotar medidas adicionais.
“Então, esse continua sendo o principal problema do ponto de vista doméstico. Daí se segue a pressão cambial, que gera pressões inflacionárias que dificultam a vida do Banco Central. O problema-raíz é o problema fiscal”, conta.
A política fiscal e o Banco Central
A pressão inflacionária se dá pelo fato de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do País, ter chance zero de ficar abaixo do piso da meta neste ano. A meta de inflação é de 3% e há intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual. Para mais ou menos.
E dificultar a vida do Banco Central resultou na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) mais cedo neste mês. O colegiado aumentou a taxa de juros em 100 pontos-base. Mario esperava esse aumento e a sinalização de ajuste semelhante na primeira reunião de 2025. O BC anunciou dois aumentos de 100 pontos nos dois encontros que abrem o próximo ano.
“Na ata ele (BC) explica por quê. Simplesmente porque ele vinha listando vários riscos. Os riscos de materializaram numa direção desfavorável. Então, ele se sentiu confortável a ponto de voltar a oferecer um guidance, uma indicação de política monetária mais longa de duas reuniões, porque ele vislumbra um cenário bem mais desafiador para a política monetária”, analisou Mario Mesquita.
Confira a seguir a entrevista completa do economista-chefe do Itaú à Inteligência Financeira em vídeo.