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Livro retrata aquisição do Twitter por Elon Musk e traz roteiro da ‘destruição’ da rede social
Por que afinal de contas Elon Musk, o bilionário, decidiu comprar o Twitter? E, após comprá-lo, o que ele pretendia fazer com a rede social? Kate Conger e Ryan Mac usam quase 500 páginas e 45 capítulos de um livro, basicamente, para tentar responder a essas duas perguntas. ‘Limite de caracteres: como Elon Musk destruiu o Twitter’ conta, sim, o que o título propõe. Mas você termina a extensa obra sem entender direito o que motivou o bilionário a comprar a rede social e o que ele pretendia (ou pretende) fazer com o negócio.
A culpa pela confusão não é dos autores, mas do personagem principal. Kate e Ryan fizeram mais de 150 horas de conversas e entrevistas com mais de cem pessoas. Na lista estão funcionários e ex-funcionários do Twitter, X, Tesla e Space X. Eles falaram ainda com advogados e banqueiros. Gente que participou da negociação que levou Musk a gastar US$ 44 bilhões para se tornar dono da rede social. Conversaram com gente próxima do bilionário. E de Jack Dorsey, um dos criadores do Twitter.
Mas as dúvidas ficaram: por que Musk comprou o Twitter?
Parece pouco que Elon Musk tenha comprado a rede social apenas para garantir que o site se tornasse o maior espaço virtual para que qualquer terráqueo possa exercer sua liberdade de expressão.
Afinal, o Twitter sempre foi esse espaço e, precisamente por causa disso, seus gestores apostavam tanto na moderação e exclusão de perfis que insistiam em descumprir as regras de uso da plataforma. Era um batalhão de gente moderando postagens e um processo complexo de decisão de exclusão de tweets e contas. Nem sempre funcionava, mas funcionava na maioria das vezes.
Assumindo que a motivação fosse garantir a tal liberdade de expressão, tentar responder a segunda pergunta fica ainda mais difícil. Qual era o objetivo de Musk após a aquisição?
Não é possível que Musk quisesse apenas fazer dinheiro com a rede social. Se queria isso, por que ele próprio passava a maior parte do tempo postando polêmicas na rede. Afinal, era precisamente isso o que afastava cada vez mais os anunciantes da plataforma. Se queria dinheiro, ele acha que o conseguiria permitindo que qualquer conta tivesse o selo de verificação? Ganharia dinheiro com assinaturas?
Agora, o livro relata precisamente de que forma o bilionário transformou o Twitter. Os autores preferem usar a palavra ‘destruiu’. E a confiar na apuração de Kate e Ryan – e não temos motivo nenhum para desconfiar – encontra-se no livro um roteiro preciso que levou à descaracterização (destruição) da rede social.
O roteiro é mais ou menos o que segue. Anuncie que você quer comprar uma rede social por mais do que ela vale, em seguida, desista do negócio. Em seguida, seja obrigado pela Justiça a comprar a empresa pelo valor inicial. Uma vez dentro da empresa, faça demissões sem muito critério e sem prever o impacto da saída de tantos funcionários. Comece a perder anunciantes em bloco e não faça nada a respeito. Queira cortar mais custos. Por fim, mude o nome do negócio.
O mérito do trabalho de Kate e Ryan não está em trazer elementos novos da negociação que colocou Musk à frente da rede social, mas em detalhar de forma impressionante tudo o que todo mundo acompanhava pelo próprio Twitter e pela extensa cobertura da mídia em tempo real. E isso é feito a partir de uma escrita vibrante, que faz com que você ache melhor perder o fôlego – ou uma noite de sono – em vez de deixar o livro de lado.
Musk: novo cargo, novos usos para o X?
E há um capítulo novo que falta ao livro e não poderia mesmo estar lá. Donald Trump venceu a eleição, será novamente presidente dos Estados Unidos e escolheu Elon Musk para liderar um tal de Departamento de Eficiência Governamental (DoGe).
A guinada do bilionário à direita do espectro político está longe de ser algo novo.
E a pergunta que fica, mais uma em se tratando desse tema, é a seguinte: será que Musk finalmente achou um fim para o ex-Twitter e pretende transformá-lo em um megafone do governo republicano? Em breve vamos saber. Ou não. Afinal, Musk não deu entrevista para o livro e dificilmente será racional em suas postagens no X quando estiver o governo. Eis uma lógica possível: a única certeza dele parece estar no caos.
Ficha técnica
‘Limite de caracteres: como Elon Musk destruiu o Twitter’
Editora Todavia
Valores: R$ 109 (tradicional) e R$ 79,90 (e-book)
Autores: Kate Conger e Ryan Mac
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