Juros futuros têm forte alta após leilão do Tesouro

Os juros futuros dispararam no pregão desta quinta-feira, diante da pressão exercida pela grande oferta de títulos prefixados do Tesouro Nacional, agravada pelo temor do mercado com a sustentabilidade fiscal do país, em meio a notícias acerca da adoção de um possível programa pelo governo federal para reduzir o custo dos alimentos. Diante deste quadro, as taxas operaram pressionadas durante praticamente todo o dia, se descolando do movimento de alívio que beneficiou outros mercados emergentes, incluindo o real.

Ao fim do pregão, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento de janeiro de 2026 exibiu alta de 14,92%, do ajuste anterior, para 15,07%; a do DI de janeiro de 2027 saltou de 15,14% a 15,355%; a do DI de janeiro de 2029 avançou de 14,985% para 15,205%; e a do DI de janeiro de 2031 aumentou de 14,945% a 15,17%.

Nos Estados Unidos, as taxas dos Treasuries americanos subiram e também exerceram alguma pressão sobre a curva a termo doméstica, de acordo com alguns operadores. Perto do horário de fechamento do mercado no Brasil, o rendimento da T-note de dez anos subia de 4,616% a 4,651%.

Os juros futuros operaram pressionados desde as primeiras horas de pregão, quando a divulgação dos editais dos leilões de títulos prefixados do Tesouro revelaram mais uma oferta robusta da instituição, o que adicionou risco à curva. Ao todo, o Tesouro ofertou 23 milhões de papéis – sendo 18 milhões de Letras do Tesouro Nacional (LTN) e 5 milhões de Notas do Tesouro Nacional – Série F (NTN-F) -, volume que foi completamente absorvido pelo mercado, mas com taxas mais elevadas em relação às vendas anteriores de títulos prefixados.

De acordo com levantamento da equipe de renda fixa da XP, a oferta de hoje foi a terceira maior de títulos prefixados desde meados de 2023, ainda que ligeiramente menor que o volume ofertado na semana passada. O Tesouro tem intensificado a venda nos leilões dessa modalidade a fim de alongar os vencimentos e reduzir a predominância de títulos atrelados à taxa Selic (LFT) na composição da dívida pública, ainda que isso pressione a curva de juros futuros.

“Além da alocação integral no leilão, destacamos a aceleração das taxas dos títulos em relação aos leilões prévios, como no caso da NTN-F 2031 (15,28% contra 15,06% no dia 16/01), refletindo a visão cautelosa do mercado com a situação fiscal do país”, escrevem os analistas da XP.

De acordo com o time de estratégia macro global da gestora, o volume grande de títulos prefixados ofertados pelo Tesouro em 2025 ocorre diante de um mercado menos volátil neste ano e da mudança na subsecretaria da Dívida Pública do Tesouro, que passou a ser comandada por Daniel Leal.

De qualquer forma, os estrategistas da XP acreditam que ainda é cedo para definir se há uma mudança definitiva de postura por parte do Tesouro. “Um cenário ainda incerto para a trajetória da dívida pública deixa opções como encurtar o vencimento da dívida, piorar o seu perfil e/ou pagar mais prêmios do que no passado – não necessariamente nos leilões, mas na forma de pressão sobre o preço dos títulos em um sentido amplo”, avaliam.

A pressão exercida pelo leilão foi agravada na reta final do pregão com a notícia de que o governo avalia um programa para fornecer alimentos a um custo reduzido para a população, segundo informou a agência “Bloomberg”. A medida é mal vista pelo mercado, que a avalia como um sinal de que o governo está disposto a minar a credibilidade da política fiscal para angariar maior popularidade.

Conforme apurou o Valor, interlocutores do governo descartam a importação de alimentos ou o abrandamento de regras sobre o vencimento de produtos, bem como medidas com grande impacto orçamentário. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, há “espaço regulatório” para aprimorar o Programa de Alimentação ao Trabalhador, mas não será necessário a criação de subsídios ou outras ações que impactem a política fiscal.

*Com informações do Valor Econômico

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