A perspectiva de uma política tarifária menos agressiva que o esperado pelo governo de Donald Trump nos Estados Unidos levou a uma reprecificação dos ativos que beneficiou, principalmente, os mercados emergentes, com repercussão sobre a curva de juros futuros. Com isso, as taxas encerraram o pregão desta quarta-feira em queda, ainda que a um ritmo mais contido, após se afastarem das mínimas intradiárias na última hora de negócios. Segundo operadores, os mercados locais contaram ainda com um fluxo de capital estrangeiro que apoiou o movimento positivo da sessão de hoje.
Ao fim do pregão, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2026 recuou de 14,96%, do ajuste anterior, para 14,92%; a do DI de janeiro de 2027 teve leve queda de 15,17% para 15,165%; a do DI de janeiro de 2029 cedeu de 15,04% a 14,995%; e a do DI de janeiro de 2031 teve baixa de 15,03% para 14,96%.
O movimento do mercado doméstico não seguiu a tendência dos Treasuries americanos, cujas taxas operaram com viés de alta desde o início da sessão. Perto do horário de fechamento do mercado brasileiro, a taxa da T-note de dez anos subia de 4,582% a 4,605%.
Posicionado para um início de governo Trump com mudanças drásticas na política de comércio exterior, o mercado chegou a mostrar um forte alívio do prêmio de risco diante da ausência de anúncios de tarifas, bem como a sinalização de que Washington pode sobretaxar importações de produtos da China em 10%, abaixo do que se esperava. O alívio global se traduziu principalmente no comportamento de moedas de países emergentes, como o real, enquanto os juros futuros não mantiveram o mesmo ritmo de fechamento da curva a termo até o fim do pregão.
“Considerando quanta tração as tarifas tiveram durante a campanha, é surpreendente que elas não tenham tido um destaque maior (desde a posse de Trump)”, escreve o time de estratégia macro global do Citi, em relatório divulgado hoje. Segundo eles, tarifas universais agora parecem menos prováveis, enquanto taxas específicas contra o Canadá e o México não devem chegar a 25%. A China, no entanto, segue como um alvo prioritário do segundo mandato de Trump, na opinião do Citi.
Na visão dos estrategistas, o apetite por risco global pode durar mais tempo se as tarifas comerciais forem empurradas para o segundo trimestre em diante. “Se as tarifas universais de fato puderem ser evitadas, a segunda fase [do governo Trump] pode não ser tão volátil como esperado, uma vez que o impacto inflacionário das tarifas seria menor do que o temido”, escrevem.
Somado a um ambiente externo mais positivo, operadores relataram que um fluxo de capital estrangeiro beneficiou os ativos brasileiros nesta quarta-feira, em especial o real e os juros futuros. Tem sido comum a entrada de recursos do exterior desde o começo do ano, em um possível movimento de ajuste de carteiras após a forte depreciação dos mercados domésticos no fim de 2024.
No entanto, com quadros inflacionário e fiscal desafiadores para este ano, a perspectiva de uma taxa Selic bastante elevada reduz o potencial de ajuste dos juros futuros. Em relatório publicado hoje, os economistas Stephan Kautz e Thalita Silva, da EQI Asset, elevaram a projeção para a taxa básica de juros, e esperam que a Selic alcance o patamar de 16,25%, permanecendo assim até o fim de 2025.
“A desinflação nos próximos trimestres será mais difícil com a desancoragem das expectativas. Além disso, a depreciação do real no ano passado ainda irá afetar os preços de importados e industrializados ao longo do primeiro semestre de 2025”, destacam Kautz e Silva.
*Com informações do Valor Econômico
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