Juros de curto prazo sobem, pressionadas por IPCA-15 forte

Os juros futuros encerraram o pregão desta sexta-feira sem direção única, com os vértices curtos da curva a termo pressionados pelo resultado pior que o esperado do IPCA-15 de janeiro. Embora o bom desempenho do real em mais um dia de alívio global no mercado de câmbio tenha contido a tendência negativa, fazendo com que as taxas longas encerrassem em leve queda, a piora da composição da inflação foi o que de fato ditou o ritmo dos negócios nesta sexta-feira.

Assim, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2026 teve alta de 15,045%, do ajuste anterior, para 15,14%; a do DI de janeiro de 2027 subiu de 15,305% a 15,375%; a do DI de janeiro de 2029 ficou estável em 15,15%; e a do DI de janeiro de 2031 teve leve queda de 15,125% para 15,10%.

Nos Estados Unidos, o mercado de Treasuries foi na direção contrária, após a divulgação de números abaixo do esperado dos índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) e do sentimento do consumidor americano. Perto do horário de fechamento do mercado no Brasil, o rendimento da T-note de dez anos do Tesouro americano recuava de 4,646% a 4,623%.

Por aqui, o mercado segue sem motivos para uma reprecificação positiva no mercado de juros. A alta de 0,11% do IPCA-15 — prévia da inflação brasileira — em janeiro contrariou a expectativa por uma deflação modesta de 0,02%, e a composição ruim do indicador sinaliza uma aceleração dos preços neste começo de 2025. Entre os números destacados pelos economistas estão a alta de 5,95% dos preços de serviços subjacentes e o aumento da difusão da inflação de 61,9% para 68,9% entre o mês passado e o atual.

O IPCA-15 mais forte que o esperado corroborou a aposta por uma inflação mais pressionada por parte do mercado. Nas últimas horas do pregão de ontem, investidores já se antecipavam aos dados com apostas compradas em inflação “implícita”, ou seja, que ganhavam com a alta da inflação precificada no mercado, em movimento que também contribuiu para o forte aumento da curva de juros futuros na véspera

Isso, por sua vez, levou a um salto de quase 15 pontos-base da inflação “implícita” extraída das taxas das NTN-B (títulos públicos atrelados ao IPCA) com vencimentos de 2026 a 2028, conforme mostram dados de fechamento compilados pela Anbima.

Após a divulgação do IPCA-15, algumas casas já passaram a antever uma inflação mais alta no curto prazo. O time de macroeconomia do ASA aumentou as suas projeções para o IPCA de 2025 (de 5,5% a 6,0%) e de 2026 (de 5,0% a 5,5%). A mudança se deu pela “expectativa de alta maior nos serviços (ainda sob efeito da atividade doméstica mais aquecida, efeito relevante sobre o núcleo de serviços)”, de acordo com nota divulgada pelo ASA.

Já Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, afirma que o resultado do IPCA-15 deve obrigá-lo a aumentar as suas projeções de IPCA, atualmente em 5,51% para o acumulado de 2025, principalmente por conta da dinâmica dos preços de serviços.

Se por um lado o IPCA-15 pressionou os juros futuros de curto prazo, as taxas longas recuaram na maior parte da tarde diante do bom desempenho do câmbio doméstico. Após o dólar se afastar das mínimas intradiárias, as taxas longas passaram a rondar a estabilidade até o fim do pregão.

A fraqueza da moeda americana em relação a moedas emergentes se deu em meio a sinalizações mais brandas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a adoção de tarifas comerciais à China. Em uma entrevista na noite de ontem à “Fox News”, Trump afirmou que prefere não aplicar tarifas a importações de produtos chineses, abrindo espaço para algum entendimento com o gigante asiático.

*Com informações do Valor Econômico

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