Stuhlberger, da Verde: juros perto de 16% é ‘piquenique à beira do vulcão’
A desvalorização cambial repercute de forma direta na inflação de alimentos e isso tira o sono de qualquer governo, o presidente perde popularidade.
Mas com as taxas de juros futuras a 15%, 16%, o dólar tende a se acomodar num nível mais baixo, segundo Luis Stuhlberger, executivo-chefe e de investimentos da Verde Asset Management.
“Juro perto de 15%, 16%, evidentemente vira piquenique à beira do vulcão. O dólar se acalma não havendo más notícias”
“Quem não gosta de 15% de CDI líquido [de imposto] com os produtos isentos que têm por aí?”, comentou, ao participar de evento do UBS BB, em São Paulo.
O problema que persiste, contudo, é a sustentabilidade da dívida pública e é isso que está expresso nos preços de mercado.
Um exemplo é o das Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B), com vencimento em 2035, pagando IPCA mais 7,85%.
“Com certeza quem comprar e carregar, juro aqui não será 8% real nos próximos dez anos, o Brasil quebra antes”
“Alguma coisa vai ter que acontecer, e vai; seja a mudança de governo, seja a mudança de mentalidade deste governo”, disse o gestor.
Desafios no câmbio
“Agora se é hora de comprar dólar, não sei.”
As variáveis macroeconômicas assustam, afirmou Stuhlberger, as pessoas se acostumam com elas.
“Depois que o dólar vai a R$ 6,20, R$ 5,80 parece ‘maravilhoso, o problema é o R$ 7’, você se acostuma com aquilo desde que não haja muita volatilidade, começa a ter algum tipo de ‘good will’ [boa vontade], os negócios retomam.”
Mas a dinâmica da dívida segue preocupante com projeções que o governo Lula vá terminar seu mandato com uma relação de 85% do PIB.
A promessa de isentar quem ganha até R$ 5 mil, ele acha que Lula vai cumprir de qualquer jeito.
Stuhlberger tem dúvidas se o Congresso aprova a contrapartida sugerida de tributar quem ganha acima de R$ 50 mil, incluindo rendas, dividendos e investimentos.
“Se não aprova, o governo vai arrumar outra forma de financiar isso. Estamos num ‘edge’ que pode ser piquenique à beira de um vulcão, que continue como está ou até cair na ausência de más notícias, não precisa nem ter boas notícias.”
Boa transição de comando no Banco Central
No campo monetário, o gestor da Verde disse que o Brasil está bem, a transição de Roberto Campos Neto para Gabriel Galípolo foi bem feita.
“Perto do que esperava do BC deste governo, está muito melhor”, afirmou.
“O desafio vai ser o BC manter as taxas altas que o mercado projeta, de 15%, 16% até o fim do mandato do Lula”.
“Com a inflação projetada a 6%, juro real de quase 9% ‘é puxado'”.
Na medida em que o aperto começar a desacelerar a economia, vai gerar problema político para o presidente e para a base do PT, continuou.
O benefício é que o dólar caindo é um bom prenúncio para o preço de alimentos.
“Para a população pobre, juro a 11% ou a 15% não faz diferença, faz para a economia agregada. Mas o dólar pega na veia.”
Por alguns meses, ele espera alguma tranquilidade com este BC, as questões vão aparecer mais para frente.
Com informações do Valor Econômico
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