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O que explica a disparada do juro real, que registra nesta segunda-feira maior patamar desde 2008?
O movimento relevante de deterioração dos preços dos ativos brasileiros, que provocou uma disparada das taxas de juros de mercado nas últimas semanas, se soma à promessa do Banco Central de levar a Selic a pelo menos 14,25% até março, o que leva a taxa de juros real ex-ante a rondar os 10%, no maior nível desde outubro de 2008.
Cálculo do Valor Data a partir do swap de juro de 360 dias, descontada a projeção de inflação para um ano retirada do Boletim Focus, aponta para uma taxa real de 9,52% na sexta-feira, dois dias após ter alcançado 10,20%.
A alta do juro real coincide com o momento em que o mercado tem embutido nos preços da curva de juros a necessidade de uma política monetária ainda mais contracionista à frente.
Em pesquisa conduzida pelo Valor com 95 casas, o ponto-médio das estimativas aponta para uma Selic em 15% no fim do ciclo de aperto no próximo ano, mas instituições importantes no mercado financeiro projetam níveis ainda mais elevados para os juros à frente.
O problema do Brasil é e continuará sendo a política fiscal em 2025. A análise é de Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco em entrevista para a Inteligência Financeira.
Pressão do dólar
Com a piora relevante da taxa de câmbio e a expectativa de que o dólar siga na casa de R$ 6, o Santander passou a esperar uma inflação bem mais pressionada para o próximo ano (5,5%), o que se refletiu, ainda, em um ajuste nas expectativas para a política monetária, com uma Selic de 15,5% no fim do ciclo.
“No atual ambiente de desancoragem das expectativas, com o câmbio pegando nos preços de ‘tradables’, até os preços mais inerciais vão sentir pressão. E, juntando isso com a sinalização do BC, vemos um pico de 15,5% nos juros”, diz o economista Marco Antonio Caruso.
Para ele, com o apego do BC ao “guidance”, a Selic deve atingir 14,25% em março e, então, ser elevada em mais 0,75 ponto em maio e em 0,5 ponto em junho para, então, haver uma pausa no ciclo. “Não acredito que as condições macroeconômicas para parar de subir os juros vão estar dadas.
Nos cálculos do Santander, o PIB deve crescer 1,8% no próximo ano, mas com uma forte desaceleração no segundo semestre.
Impulso fiscal negativo
Para o Santander, o aperto das condições financeiras – evidenciado pela taxa de juro real bastante elevada – se soma, ainda, a um impulso fiscal que deve passar a ser negativo no próximo ano e a um impulso de crédito que deve diminuir.
“O crédito está a todo vapor e as famílias não se desalavancaram ainda, o que pode ser um fator de preocupação à frente. Por uma mudança na resolução do CMN, talvez vejamos uma mudança relevante no impulso de crédito, já que as provisões para devedores dos bancos deve ser bem mais apertada”, nota Caruso.
Na avaliação da chefe de pesquisa econômica para América Latina e economista-chefe para Brasil do J.P. Morgan, Cassiane Fernandez, o aperto das condições financeiras, com valorização expressiva do dólar contra o real e aumento relevante dos juros de mercado, deve ter dois efeitos principais na economia brasileira, caso persista.
“Primeiro, aumenta a inflação de curto prazo por meio do rápido repasse da depreciação do câmbio – estimamos que cada 10% de depreciação do cambio adiciona 0,6 ponto ao IPCA ao longo de um ano. Isso exacerba uma perspectiva inflacionária já em deterioração, impulsionada pelo crescimento econômico acima do potencial e expectativas desancoradas”, diz.
E, nesse sentido, Fernandez nota, em relatório enviado a clientes, que o Banco Central reconheceu esse ambiente ao declarar que as perspectivas são cada vez mais inflacionárias, o que levou o J.P. Morgan a revisar suas projeções e a esperar uma Selic em 15,25% no fim do ciclo, em junho.
Fiscal segue no radar em 2025
“O mercado está precificando que as taxas subirão mais e mais rápido do que nossas suposições, mas o futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, afirmou em uma entrevista que a barra é alta para mudar o ‘forward guidance’ de dois aumentos de 1 ponto”, diz a economista.
A segunda consequência citada por ela em relação à piora nas condições financeiras é o fato de que isso poderia representar uma força “ainda mais decisiva” para esfriar uma economia aquecida e reduzir a inflação no médio prazo.
“Não mudamos nossas expectativas de crescimento, porque podemos ver novas surpresas altistas no curto prazo, mas reduzimos nossa previsão de inflação para 2026 de 3,5% para 3,2%. Ou seja, mais próxima do centro da meta, reconhecendo que a perspectiva dependerá fortemente das decisões da política fiscal e da dinâmica do câmbio”, afirma Fernandez.
Com informações do Valor Econômico.
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