Itaú sugere aproveitar ‘prêmios gordos’ da renda fixa

A principal recomendação é para a NTN-B, uma forma de preservar o poder de compra e com boas possibilidades de ganho de capital, diz Nicholas McCarthy, executivo-chefe de investimentos do banco

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“Não se sabe se vai ser nesta semana, no mês que vem ou mais adiante, mas juros a quase 14% funcionam para trazer a inflação para baixo”, diz Nicholas McCarthy, executivo-chefe de investimentos do Itaú Unibanco, que considera essa a variável mais importante para planejar investimentos, no Brasil ou no exterior.

Com as taxas futuras até 2035 negociadas na casa dos 13,5%, há um prêmio de risco evidente ao longo da curva de juros, fruto de uma inflação que tem mostrado certa resistência, mas que caiu da faixa dos 10% para 5%, 6%. O executivo avalia que seria muito mais difícil o BC brasileiro cortar a Selic em meio ao ciclo de aperto nos Estados Unidos. Agora, sob a leitura que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) fará um novo aumento na semana que vem e depois vai parar, pode se abrir uma janela para isso.

“Acho que ter prefixados e juro real é extremamente importante porque os prêmios estão relativamente gordos”, diz McCarthy. “Obviamente que tem a discussão no Congresso de uma reforma importante, mas um dos riscos grandes, de não ter um marco fiscal, deixou de existir, a proposta já foi para o Congresso. É certo que tem que fazer conta, mas de forma geral tirou algumas incertezas e é positivo olhando à frente.”

Ele acha que a decisão do Fed, se for na direção de encerrar o ciclo, pode ser um gatilho para a mudança de chave para as ações no Brasil, com os investidores começando a embutir nos preços resultados mais positivos para as empresas. É uma revisão que vem antes da recuperação do PIB, que deve aparecer só em meados de 2024. “O mercado vai antecipar quando tiver clareza que tem espaço para os juros caírem. A bolsa vem negociando com desconto perto de 35% em relação à média histórica e as taxas da NTN-B de 2050 acima de 6% estão num nível extremamente convidativo para o investidor brasileiro e o internacional.”

McCarthy observa que os investidores locais são muito viciados no CDI, “que sem dúvida foi ótimo nos últimos dois anos, mas quando cai, eles deixam dinheiro na mesa”, se a carteira não estiver minimamente diversificada. O executivo reconhece que, em geral, o brasileiro sente que está perdendo dinheiro mensalmente ao aplicar em prefixados com taxas na casa dos 12%, quando a Selic está em 13,75%.

A principal recomendação na renda fixa é para a NTN-B, uma forma de preservar o poder de compra e com boas possibilidades de ganho de capital. “Serve para todo tipo de cliente, não só para o [perfil do] private [que reúne os mais ricos].”

Para quem fica desconfortável em alongar demais o prazo, ele sugere papéis com vencimento em até dez anos. No bloco dos títulos privados isentos, quatro a cinco anos são suficientes para capturar bons retornos, em prefixados ou indexados à inflação. Os atrelados ao CDI não trariam ganhos com o movimento de distensão monetária.

“A gente não acha que o CDI vai cair para 9%, mas o preço dos ativos justifica a alocação de risco dado o desconto”, diz McCarthy.

Na cena internacional, o executivo diz não comprar a tese que ganhou corpo desde a crise bancária que abateu bancos regionais americanos de que o Fed cortará juros já no segundo semestre. Ele acha que as oportunidades estão fora dos EUA, porque o resto do mundo vai crescer mais. Mercados emergentes são o principal alvo, com indicação de alocação duas vezes acima da média estrutural. O motor tende a ser a China, com expansão da ordem de 5% do PIB.

Por Adriana Cotias

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