Investidores perdem US$ 17 bi em títulos do Credit Suisse que são ‘zerados’ após compra pelo UBS

Papéis criados no auge da crise financeira de 2008 para proteger contribuintes viram pó e ampliam crise no setor bancário global

A compra do Credit Suisse pelo UBS por US$ 3,25 bilhões pode ter salvado o centenário banco suíço de ir à lona, mas não poupou todos os investidores de prejuízos.

Detentores de títulos num valor total de US$ 17,24 bilhões viram, do dia para noite, suas aplicações virarem pó. Os papéis, chamados de Additional Tier 1 (AT1), foram contabilizadas como zero por determinação das autoridades regulatórias suíças que coordenaram o resgate do UBS ao Credit Suisse.

É um tipo de investimento muito específico, criado no auge da crise global de 2008 para evitar que prejuízos com “bancos grandes demais para quebrar” acabassem onerando os contribuintes. Mas a decisão da Finma, a agência reguladora suíça, irritou investidores, e analistas não descartam uma batalha legal.

O mercado europeu de bônus deste tipo totaliza US$ 275 bilhões. Ou seja, a perda de US$ 17,24 bilhões é a maior já registrada desde que esse tipo de título foi criado.

Na esteira da decisão suíça de zerar os valores dos bônus do Credit Suisse, outros títulos do tipo AT1 tiveram quedas recordes nos mercados europeus. O bônus do Deutsche Bank desabou 7,125%, na maior perda diária já registrada. Na Ásia, os títulos do HSBC de mesma modalidade caíram 10%.

Os papéis do tipo AT1, também conhecido como CoCo bonds (o nome vem de co-colateral, pelo tipo de garantia que oferece) preveem que, quando um banco tem perdas expressivas de capital, abaixo de limites regulatórios prudenciais, os detentores desses investimentos podem ter seus títulos convertidos em ações ou simplesmente terem esses bônus contabilizados como zero.

Apesar de perdas expressivas serem parte do risco para os investidores nesse tipo de papel, o clima é de irritação porque os acionistas do Credit Suisse receberão US$ 3,25 bilhões pela aquisição do banco pelo UBS. Muitos alegam que houve uma inversão da hierarquia prevista na estrutura de capital de um banco para o pagamento de investidores.

Autoridades da União Europeia tentaram acalmar investidores soltando uma nota conjunta do Banco Central Europeu, da Autoridade Europeia Bancária e do seu Comitê de Resoluções afirmando que títulos deste tipo na zona do euro não teriam a mesma destinação que os papéis do Credit Suisse caso algum banco da região sofra crise similar. O comunicado sinaliza que as autoridades da UE discordaram da abordagem do regulador suíço.

Segundo operadores ouvidos pela Bloomberg, alguns bancos, como o Goldman Sachs, já cogitam comprar os CoCo bonds do Credit, mesmo esses papéis não valendo nada neste momento, para tentar recuperar parte de seu valor, possivelmente via disputa judicial.

Ao mesmo tempo, analistas temem que os investidores deixem de aplicar nos CoCo bonds, restringindo ainda mais a oferta de crédito para os bancos globais no momento em que eles mais precisam de liquidez.

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