Inflação em 12 meses está perto do pico, diz presidente do Banco Central
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O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou ontem que vê a inflação em 12 meses perto do pico e o ciclo de alta de juros chegando ao fim no país. “Sobre a inflação no Brasil, quando olhamos os 12 meses acreditamos estar perto do pico. Claro que continuamos tendo surpresas na mesma direção. Nos últimos 15 dias tivemos alta no preço do petróleo e problemas climáticos”, disse em inglês, em evento virtual do Santander.
Segundo ele, os eventos climáticos dos últimos dias já impactam os preços de alimentos. Não é a primeira vez que Campos e diretores do BC preveem o fim da escalada de preços no país. Primeiro, ele afirmou que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegaria ao ápice em setembro. Depois, passou a ver o pico nos meses seguintes.
O indicador acumulou no ano passado alta de 10,06%. Já a taxa básica Selic está em 9,25% ao ano e o BC indicou nova alta de 1,5 ponto percentual na próxima reunião, em fevereiro, para 10,75%.
Sobre juros, ele afirmou que, com o ciclo de alta da Selic chegando ao fim, a curva de juros do país está mais plana. “Quando vemos a curva de juros no Brasil, está obviamente precificada porque tivemos um ciclo muito mais intenso de altas [da Selic]. O ciclo está chegando ao fim e a curva está mais plana”, destacou. Segundo Campos, a parte longa da curva ainda precifica riscos fiscais.
O presidente do BC afirmou ver “um pouco de aumento das expectativas [de inflação] por causa de energia e questões climáticas”.
Campos ressaltou que parte da alta de preços no Brasil é importada. “Acho que explicamos isso na carta, é importante entender como isso afeta os núcleos e a inflação em geral.” Em relação à inflação global, o titular do BC afirmou que o mercado olha para os EUA e como deve afetar outras economias.
“A inflação em 7% [nos EUA], as pessoas pensam o que vai acontecer e como isso afetará as condições financeiras”, disse. Ele também afirmou que “o mercado está na verdade se acomodando bem” à possibilidade de quatro altas na taxa básica nos Estados Unidos. “Mas claro que não sabemos como será daqui para a frente”, disse.
Campos observou ainda que, nos últimos meses, o ritmo do crescimento econômico brasileiro perdeu força. “O Brasil estava em posição de crescimento forte, mas nos últimos meses perdeu força.”
Sobre a pandemia, o presidente do BC disse que pessoas vacinadas têm melhor reação à variante ômicron do coronavírus. Para ele, a nova cepa tem menor impacto na economia que as anteriores. “Há uma clara desconexão entre mobilidade e novos casos em relação às outras ondas”, destacou.
Em relação ao câmbio, Campos disse que o BC “tem muita munição” e vai atuar com o volume necessário, se for julgado necessário, para conter a alta da volatilidade. “Quando você liga volatilidade a eleições, não é tão claro para mim. Já há um cenário muito polarizado, pelo que tenho lido os candidatos têm tentado ir para o centro”, afirmou. “Se virmos alta volatilidade, falta de liquidez e desconexão com fundamentos, vamos atuar; não achamos que estabelecer volumes [de intervenções] é muito bom.”
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