A queda no volume de vendas do comércio varejista entre agosto e setembro, que veio acima das expectativas do mercado, teve como principal influência a inflação. Para Cristiano Santos, gerente da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada nesta quinta-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a avaliação pode ser confirmada pelo desempenho da receita nominal no período, que ficou perto da estabilidade
“O fator determinante é a inflação. Isso fica claro quando comparamos a queda de 1,3% no volume e a variação de -0,2% na receita, estável”, diz. “O componente que joga o volume para baixo é a inflação. As mercadorias subiram de preço”, afirma Santos.
A constatação é a mesma de Felipe Sichel, estrategista-chefe do banco Modalmais. Ele cita o preço dos combustíveis, considerado o principal vilão nos últimos meses após reajustes consecutivos, e a disseminação que contribui para elevar os custos de outras atividades, com repasse aos consumidores.
“Os efeitos da inflação já se fazem presentes nos números da pesquisa, ainda que o volume de vendas de combustíveis e lubrificantes tenha caído 2,6%, o índice de receita nominal caiu apenas 0,1%”, destaca. “Essa diferença entre o volume de vendas e a receita nominal pode ser constatada ainda nas atividades de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-1,5% x 0,1%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-2,2% x 0%), veículos, motocicletas, partes e peças (-1,7% x -0,2%) e materiais de construção (-1,1% x -0,2%)”, acrescenta.
A subida da taxa Selic, que passou de 2% ao ano no começo de 2021 para 7,75% ao ano na reunião de outubro do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), também é um fator que já afeta o desempenho do setor.
“A leitura do resultado de setembro mostra um cenário desafiador. Temos uma inflação corroendo o poder de compra do consumidor ao mesmo tempo em que pressiona o Banco Central a apertar as condições financeiras”, avalia Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.
O economista considera que a tendência de mais aumentos dos juros básicos pode prejudicar a projeção “de uma recuperação muito forte nos dados de outubro, novembro e dezembro”. “Mesmo com Black Friday e Natal, o cenário macroeconômico reduz a perspectiva de grandes ganhos do setor até o final do ano”, diz.
A manutenção do panorama de inflação persistente e avanço da Selic, na percepção da CM Capital, alimenta o pessimismo para o desempenho do comércio nos últimos meses de 2021. “A frustração com os dados de varejo deve persistir mesmo em períodos que beneficiam sazonalmente o setor, como nos casos das festas de fim de ano”, aponta a gestora em relatório.