Guerra na Ucrânia leva preços do trigo, milho e da soja a beirar os maiores níveis da história

Tendência encarece as carnes e pressiona os índices de inflação em todo o mundo, que estão em níveis recorde
Pontos-chave
  • Guerra fará Brasil “exportar” inflação de alimentos até 2023

A guerra na Ucrânia, a boa demanda por produtos americanos e os problemas climáticos que prejudicaram as colheitas na América do Sul mantiveram as cotações dos grãos (trigo, milho e soja) em patamares próximos dos mais elevados da história no mercado internacional em abril.

A tendência continua a favorecer produtores e tradings, mas também reduz as margens de processamento, encarece as carnes e pressiona os índices inflacionários globais, que estão em níveis recorde. No Brasil, onde a indústria reclama do aumento de custos e o poder aquisitivo da população está em queda, existe até uma expectativa, por parte do Banco Central e de alguns economistas, de arrefecimento da alta dos alimentos.

Segundo cálculos do Valor Data baseados nos contratos futuros de segunda posição de entrega, o milho voltou a encerrar o mês com valor médio superior ao do mês anterior na bolsa de Chicago. A soja permaneceu estável, nas alturas, e o trigo registrou leve queda, insuficiente para dar refresco aos preços da farinha e de alimentos como massas, pães, bolos e biscoitos.

No caso do milho, os papéis alcançaram em abril US$ 7,80 por bushel, uma média 6,43% superior à de março, e em relação a abril do ano passado a alta chegou a 31,36%. Foi o sétimo mês consultivo de valorizações, e a média foi a segunda maior da história, inferior apenas à de agosto de 2012.

No mercado de soja, a média de abril foi de US$ 16,6093 por bushel, 0,05% mais baixa que a de março, mas ainda 14,6% maior que a de abril de 2021. Embora tenha sido interrompida uma sequência de cinco meses seguidos de valorizações, o valor ficou apenas 1% abaixo do recorde histórico de setembro de 2012.

No caso do trigo, cujos papéis de segunda posição de entrega chegaram em março deste ano à maior média da história em Chicago, houve queda de 2,32% agora, para US$ 10,7393 por bushel, mas o valor foi 60,85% mais alto que o de abril de 2021, segundo o Valor Data.

A guerra na Ucrânia tem reflexos mais profundos nos mercados de trigo e de milho, uma vez que Rússia e Ucrânia, juntas, têm participações expressivas nas exportações dos dois cereais — de 30% e 20%, respectivamente. Mas na soja também há influência, seja pela escassez de trigo e milho, seja pelas consequências da interrupção do fornecimento de óleo de girassol da Ucrânia sobre a área de óleos vegetais em geral.

A soja também encontra suporte nas quebras de safra no Sul do Brasil, na Argentina e no Paraguai no ciclo 2021/22. Para os três grãos, as exportações americanas e as perspectivas de plantio nos EUA na temporad 2022/23 são fatores que guiarão as cotações nos próximos meses.

Guerra fará Brasil “exportar” inflação de alimentos até 2023

O Brasil vai “exportar” a inflação de alimentos ao menos até 2023, afirma a analista Elizabeth Johnson, da consultoria TS Lombard, em um relatório de pesquisa. Ela lembra que soja, açúcar, café e carnes bovina, suína e de frango são os principais itens de exportação agropecuária do país.

“O aumento dos custos de produção é consequência, em grande parte, da invasão da Ucrânia pela Rússia”, diz. A alta dos fertilizantes é a que tem mais impacto sobre os preços dos alimentos, continua a analista. A Rússia, vale lembrar, é um dos maiores fornecedores globais de adubos nitrogenados, potássicos e fosfatados.

Ainda assim, apesar da escalada de preços dos nutrientes, há perspectiva de forte demanda internacional para adubos, afirma ela.

“A colheita de soja do Brasil em 2021/22 está a caminho de ser a mais cara da história, e na próxima temporada será pior”, diz. Para a analista, os custos devem dobrar em algumas áreas.

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