Governo vai interferir no preço dos alimentos? Saiba o que está em discussão
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, fez na noite de quarta-feira (23) uma autocorreção, dizendo que não haverá “intervenções” para baixar o preço dos alimentos, como ele havia dito pela manhã em participação no programa Bom Dia Ministro, da TV pública EBC. Em vez disso, afirmou Rui, o governo estuda “medidas” para combater a inflação da comida.
“Vamos substituir a palavra ‘intervenções’ por ‘medidas’ para baixar o preço dos alimentos”, disse Rui Costa em entrevista à rede CNN.
“O presidente Lula está orientando que nós possamos nos reunir com sociedade e ministros e colher sugestões que possam contribuir para uma maior oferta de alimentos. Especialmente aqueles alimentos que tiveram uma alta maior.”
Segundo ele, os ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário deverão apresentar nos próximos dias sugestões “sobre que medidas podem ser adotadas para estimular uma maior produção”.
“Uma maior oferta de produtos leva a uma diminuição de preços. […] São medidas como essa que nós pretendemos fazer”, afirmou.
Prazo de validade de alimentos
Rui Costa comentou ainda sugestões apresentadas por varejistas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no fim do ano passado, afirmando que algumas delas serão analisadas. Ele disse que a ideia de eliminar o prazo de validade de alimentos não perecíveis tem poucas chances de prosperar.
Mas mudanças no custo de intermediação financeira do Vale Alimentação, sugestão da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), pedem ser implementadas.
“Se houver parecer favorável da Fazenda e do Banco Central, podemos reduzir custo de intermediação financeira do Vale Alimentação”, afirmou. “Essa é uma das sugestões apresentadas pelos supermercados que estarão sob análise.”
Diante da repercussão da fala de Rui Costa sobre “intervenção”, a Casa Civil já havia publicado na tarde de hoje uma nota negando que o governo estava estudando medidas para intervir artificialmente para reduzir o preços dos alimentos.
“A Casa Civil informa que não está em discussão intervenção de forma artificial para reduzir preço dos alimentos. O governo irá discutir com os ministérios e produtores de alimentos as medidas que poderão ser implementadas. Ainda não é possível avançar no detalhamento de tais medidas antes da realização das reuniões que irão tratar do assunto”, disse a pasta na nota.
Alimentos mais baratos?
Economistas afirmam ter dúvidas sobre o real potencial de impacto das medidas aventadas pelo governo sobre os preços dos alimentos.
“Parece que os instrumentos são muito limitados, hoje, para que o governo consiga um efeito relevante sobre preços de alimentos”, afirma Alexandre Maluf, economista da XP.
Andrea Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, diz não acreditar que medidas como as cogitadas ajudariam a reduzir os preços. Segundo ela, o “espaço” criado pode virar margem para as empresas.
Vales ou vouchers são uma possibilidade de ação voltada para lidar com o peso da inflação de alimentos aos mais pobres, mas que não necessariamente se traduzem em queda de preços, observa Maluf.
Ele lembra ainda que, historicamente, intervenções sobre o setor não são bem-sucedidas. “Intervenções na formação de preços tendem a não ser bem-sucedidas no médio prazo”, afirma.
Com informações do Valor Econômico
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