Governo cogita nomes do mercado financeiro para diretorias do Banco Central
Para fazer contraponto à gestão de Roberto Campos Neto, o governo avalia não reconduzir o diretor de fiscalização do Banco Central, Paulo Souza, para mais um mandato. O Palácio do Planalto estuda indicar dois nomes externos, que não sejam de carreira da autoridade monetária.
A nomeação dos novos membros do colegiado ocorre em meio à pressão da ala política do governo para antecipar o início do ciclo de corte da taxa básica (Selic). Com dois diretores mais alinhados ao governo, a expectativa é que haja votos divergentes nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) pela redução dos juros, que atualmente estão em 13,75% ao ano.
Internamente no BC, há temores entre os servidores, especialmente da equipe de fiscalização, de que o novo diretor da área venha do mercado financeiro e, assim, haja conflito de interesse em sua atuação na área, responsável pela supervisão do sistema financeiro nacional e instauração de processos administrativos. Procurado, o BC disse que não comentará sobre o assunto.
Na avaliação de um ex-diretor do BC ouvido pelo Valor, há um risco de haver uma “captura” da autoridade monetária com a escolha de um membro do mercado para a diretoria de Fiscalização. “Ao contrário da Política Monetária, na qual até é recomendável que seja um diretor de fora, a área que fiscaliza os bancos é o coração da supervisão bancária e deveria ser comandada por profissionais de carreira, dada a maior especialidade da função de supervisor”, disse o diretor.
Em sua avaliação, isso deve acontecer para que a fiscalização e supervisão seja feita com total independência aos interesses do sistema financeiro nacional.
Para o ex-dirigente do BC, “chega a ser surpreendente que um governo de esquerda cogite colocar como xerife da fiscalização bancária do país profissionais de fora do quadro de servidores do BC, que são auditores de carreira”.
A ideia é que o anúncio seja feito entre o fim de março e o início de abril, mas a previsão é que a divulgação seja feita após a volta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) da China – de acordo com fontes a par do assunto, os nomes podem ser divulgados até durante a viagem do presidente.
Os mandatos dos diretores de fiscalização e de política monetária terminaram em 28 de fevereiro e Souza, que é de carreira, já havia sinalizado que aceitaria permanecer por mais quatro anos, já que sua posição é mais técnica e normalmente é ocupada por servidores da casa.
Bruno Serra, por sua vez, decidiu não ficar, mas disse recentemente que ficará no cargo até que seu sucessor seja indicado. Pela lei de autonomia do BC, que criou mandatos fixos para o colegiado, ambos poderiam ser reconduzidos uma vez, mas a prerrogativa é do presidente da República. Segundo apurou o Valor, Lula avalia sugestões do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do próprio presidente do BC, mas ainda não definiu os nomes.
O Copom se reúne na próxima semana, na terça e na quarta-feira, para decidir os próximos passos da política monetária ainda com a composição atual do colegiado.
O governo aguardava a formação das comissões no Senado para anunciar os escolhidos, que precisam ser sabatinados pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), que é presidida pelo senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO). Depois, os nomes vão ao plenário.
Por Andrea Jubé, Guilherme Pimenta e Larissa Garcia
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