Goldman Sachs projeta queda expressiva na inflação americana em 2023

Banco lista três fatores que devem favorecer forte desaceleração

O Goldman Sachs está prevendo uma queda expressiva na inflação americana para 2023, pressionada pela maior flexibilização nas restrições das cadeias de bens, pela retração da inflação de moradia e por uma desaceleração no ritmo de aumento de salários.

O índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) dos Estados Unidos deve recuar de atuais 5,1% para 2,9% até dezembro de 2023, prevê o Goldman Sachs, em estimativa divulgada nesta segunda-feira (14).

Segundo o economista Jan Hatzius, do Goldman, a projeção reflete três fatores-chave: a flexibilização das restrições da cadeia de suprimentos no setor de bens; um pico na inflação de moradia após a reabertura e um crescimento salarial mais lento impulsionado pelo reequilíbrio em curso do mercado de trabalho.

“Prevemos uma contribuição negativa das categorias de bens com restrição de oferta para o núcleo da inflação, de atuais +0,6 ponto percentual para -0,4 ponto no final de 2023, respondendo por quase metade da desaceleração do núcleo geral da inflação”, disse ele, em relatório assinado também por sua equipe de economistas.

Segundo o banco, as interrupções na cadeia de suprimentos e os gargalos de remessas diminuíram significativamente em 2022, e os estoques de carros e bens de consumo se recuperaram de níveis deprimidos. “O fornecimento de semicondutores, em particular, melhorou dramaticamente, com as remessas de microchips para carros, agora, estando 42% acima de 2019”, diz o relatório.

“Isso já provocou uma queda de 5% na inflação de carros usados, e esperávamos outra queda de 15% em 2023. E esperamos que os preços dos carros novos comecem a cair também, refletindo tanto uma maior oferta de chips quanto a descoberta de que carros novos já não estão mais baratos do que carros usados”, afirmam os economistas. Segundo eles, os preços mais baixos das commodities e o dólar forte também contribuirão para inflação mais fraca de bens de base em geral.

Aluguéis

“A segunda razão para esperar um núcleo de inflação mais baixo é um pico na comparação anual da inflação de moradia, que esperamos para o início do segundo trimestre.”

O banco informa que a forte demanda por unidades de aluguel já provocou uma forte resposta da oferta, com 1 milhão de apartamentos em construção ou com permissão obtida, o maior pipeline desde 1974. Com isso, as taxas de vagas de aluguel estão começando a se recuperar e provavelmente retornarão às taxas pré-pandemia no próximo ano. Além disso, segundo o Goldman, o impulso da renovação de aluguéis a taxas de mercado, agora, já se reflete na inflação de moradia e a inflação para novos contratos de aluguel caiu drasticamente. A estimativa do banco é de alta anualizada de 3% no último trimestre do ano.

Salário

A terceira razão, segundo o banco, para esperar um núcleo de inflação mais baixo é um crescimento salarial mais lento, que deve reduzir a pressão ascendente sobre a inflação de serviços até o final de 2023.

“O reequilíbrio do mercado de trabalho já está reduzindo o crescimento salarial, particularmente em setores com pouca diferença entre vagas e trabalhadores disponíveis, como varejo e lazer. “Nós esperamos que o crescimento anual dos salários caia 1,5 ponto percentual para 4% no final de 2023, ajudando a desacelerar a inflação nas categorias de serviços de trabalho intensivo”.

Diante do cenário traçado, o Goldman projeta que o núcleo da inflação do PCE caia significativamente, de 5,1% atualmente para cerca de 3,5% no meio do ano e 2,9% em dezembro. “Em particular, achamos que o núcleo da inflação de serviços cairá apenas moderadamente no próximo ano, para um ainda alto 4,4% em dezembro próximo, em base anual. Isso reflete um menor, mas ainda elevado, ritmo da inflação de moradia no final do ano, bem como um aumento absoluto na inflação de cuidados de saúde refletindo, em parte, a maior atualização de taxas do Medicare em pelo menos 15 anos”, afirmam.

Por Eduardo Magossi

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