Empresas ampliam lista de benefícios para mães

Arcar com os custos da viagem de bebês e babás em deslocamentos a trabalho e de enfermeiras de amamentação são práticas de poucas companhias

Levar o bebê com menos de um ano para uma convenção de vendas quando se é funcionária de uma empresa parece algo impensável – ao menos para a maioria das mulheres que trabalham.

Para Anne Reder, 38 anos, não. Em abril deste ano, quando sua pequena Julia estava prestes a completar um ano de idade, ela, que é gerente de marketing na multinacional Kimberly-Clark, teve que viajar a trabalho para Itapeva (MG), onde ficaria quatro dias.

Como se vê na foto, ela pôde levar Julia na viagem, assim como a babá. Reder tem outro filho mais velho, Davi, de três anos. Todas as despesas com passagem e hospedagem, de Reder obviamente, mas também de Julia e da babá, foram pagas pela Kimberly-Clark.

“Poder estar com minha filha em uma viagem a trabalho significa estar em paz e poder de fato estar de corpo e alma presente no evento da empresa”, diz Reder.

“É não precisar me preocupar se deixei leite materno suficiente, se ela conseguirá dormir, se não sofrerá com minha ausência, e como meu marido vai dar conta das duas crianças sozinho.”

Além de estar pertinho da mãe durante a viagem, o que permitiu à Reder seguir com a amamentação, Julia até esteve presente nas apresentações que a mãe fez. “É um sentimento de alegria e gratidão tão grande que fica até difícil explicar.”

O benefício oferecido pela multinacional às funcionárias com bebês até um ano de idade foi criado em 2018. Um dos objetivos é permitir que o vínculo da amamentação seja mantido mesmo que as mães tenham que viajar a trabalho, explica Felipe Balbino, diretor de RH da Kimberly-Clark no Brasil.

Hoje, dos 4 mil empregados da companhia no país, 1.483 são mulheres e 727, mães. “Nosso foco é pensar em iniciativas que valorizem a flexibilidade e o acolhimento, para que a mãe possa exercer bem suas atividades profissionais dentro de sua realidade e demandas pessoais.

Além desse benefício de arcar com a viagem de bebês até um ano e um acompanhante, mais raro no mercado, a multinacional tem outras iniciativas mais comuns para mulheres, como a licença-maternidade estendida e políticas de flexibilidade.

Para Isis Borge, diretora de recrutamento da consultoria de seleção de executivos Talenses Group e mãe de três filhos, alguns benefícios são “sonhos de consumo” para muitas mães, como creches dentro da empresa, curso de gestante, consultora de amamentação nos primeiros dias de vida do bebê e plano de saúde que englobe a cobertura de vacinas das crianças.

Além disso, ela continua, benefícios mais comuns também são procurados, como plano de saúde com cobertura de hospitais com boas alas infantis de pronto atendimento; horário flexível para levar e buscar na escola; ajuda creche ou babá; sala para lactantes retirarem o leite com privacidade, incluindo geladeira separada para a armazenagem do leite; e liberdade de poder levar as crianças para o escritório em algumas datas para que elas saibam o que os pais fazem.

Borge conta que para a maioria das mulheres que são mães esse tipo de benefício faz diferença na hora de aceitar uma vaga. Uma pesquisa da Catho, aliás, mostrou que para 45% dos 5 mil entrevistados – homens e mulheres – o pacote de benefícios é importante para dizer sim a uma proposta de emprego.

“Elas notam o cuidado com pessoas através dos benefícios ofertados e se sentem mais seguras ao aceitar uma posição em uma empresa assim”, diz Borge.

Ela pontua, no entanto, que ainda existe um preconceito velado com as mães em função da licença-maternidade. “Mas tem melhorado”, afirma.

“Cada vez mais, tenho visto as empresas treinando suas lideranças para enxergarem os benefícios de terem mães no ambiente de trabalho, e treinando os times a reagirem de forma positiva quando alguém anuncia uma gravidez, em vez de encarar isso como uma preocupação.”

A Natura &Co oferece uma série de benefícios para mães, mas um se diferencia do que outras companhias praticam. Chamado de “tempo presente” e implementado em 2020, é um dia de folga que funcionárias que são mães podem tirar no mês de maio.

Segundo Mariana Talarico, diretora de cultura e desenvolvimento organizacional da Natura &Co para América Latina, o objetivo é que as mães tenham um tempo de qualidade para desfrutar com seus filhos, em qualquer faixa etária.

“Em nossa ‘Visão de Sustentabilidade 2030’, no pilar de direitos humanos, nos comprometemos a garantir que as mulheres possam evoluir em suas carreiras, criando ações que começam na contratação e que se estendem ao longo da jornada, como benefícios que lhes permitam conciliar carreira e maternidade, sem lidar com o dilema de ter que escolher entre um e outro”, explica.

Com 7 mil funcionários no Brasil, a Natura &Co tem na sua equipe cerca de 2.800 mães.

No J.P. Morgan, com 940 empregados no Brasil, sendo 14,7% mães, há um apoio custeado pelo banco de uma profissional especializada em amamentação para ajudar as funcionárias com recém-nascidos nessa etapa por vezes desafiadora para as mães. Uma enfermeira acompanha a gestante desde o início da gravidez até a introdução alimentar do bebê.

“O benefício foi criado pelo plano de saúde e adotado pelo banco para aumentar o bem-estar das funcionárias que são gestantes, assim como para seus dependentes”, afirma Gustavo Aires, managing director, superintendente executivo e diretor de RH do J.P. Morgan no Brasil.

Além desse benefício, não tão comum no mercado, o J.P. Morgan possui outras iniciativas para suas funcionárias que são mães, como lactário privativo no escritório equipado com geladeira, micro-ondas e bomba extratora, e a possibilidade de extensão da licença maternidade de 120 para 180 dias.

Por Adriana Fonseca e Fernanda Gonçalves

Leia a seguir

Leia a seguir