‘Criptomoeda não vale nada’, diz presidente do BCE, ao defender regulamentação

Christine Lagarde disse que as pessoas não entendem os riscos associados às moedas digitais e, por isso, 'perderão tudo'. Saiba por quê

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, reiterou suas preocupações com criptomoedas e o desejo de regulamentação. “Minha avaliação muito humilde é que não vale nada, não se baseia em nada, não há nenhum ativo subjacente para atuar como âncora de segurança”, disse Lagarde em entrevista à televisão holandesa, segundo relatos da mídia neste sábado (21).

A presidente do BCE disse que está particularmente preocupada com as pessoas que não entendem os riscos associados às moedas digitais voláteis e “perderão tudo”. “É por isso que acredito que isso deve ser regulamentado”.

Os comentários de Lagarde não são nenhuma surpresa. Ela há muito expressa seu desconforto com as criptomoedas, que explodiram em popularidade ao lado de um longo período de taxas de juros globais ultrabaixas que levaram os investidores à caça de rendimentos. O BCE levou as taxas de juros abaixo de zero em 2014; a principal taxa básica de juros do banco central agora está em 0,5% negativo. Fora da zona do euro, países como Suíça e Japão também têm taxas de juros negativas.

Nos EUA, o Federal Reserve elevou as taxas de zero em março e deve subir mais meio ponto percentual, para uma faixa de 1,25% a 1,5%, no próximo mês.

A mais recente crítica de criptomoedas do BCE corrobora as preocupações expressas pelos líderes dos EUA e ocorre em meio a um período doloroso para os investidores em criptomoedas. No início deste mês, a secretária do Tesouro e ex-presidente do Fed, Janet Yellen, pediu uma nova regulamentação federal sobre criptomoedas. “Nós realmente precisamos de uma estrutura regulatória para nos proteger contra os riscos”, disse Yellen, referindo-se ao tipo de criptomoedas que são chamadas de stablecoins, que são atreladas a uma moeda como o dólar.

A TerraUSD, uma das maiores stablecoins, caiu abaixo de US$ 1 e desencadeou o caos nos mercados de criptomoedas.

Desde sua alta de novembro, o bitcoin caiu cerca de 55%. Só no segundo trimestre, caiu mais de 20%. Enquanto isso, o ether recuou cerca de 60% de sua alta histórica. Seu cofundador, Vitalik Buterin, tuitou na sexta-feira que não é mais bilionário.

Lindsey Bell, estrategista-chefe de mercados da Ally Financial, disse que o mercado de criptomoedas sobreviveu ao seu primeiro teste real – pelo menos por enquanto. “Este foi o primeiro risco real de um evento que poderia ter causado contágio”, disse ela, mas “o mercado de criptomoedas conseguiu se estabilizar nos últimos dias”.

Isso não significa que as coisas necessariamente ficarão muito melhores – ou menos voláteis – em breve para os investidores em criptomoedas. As moedas digitais tornaram-se cada vez mais correlacionadas aos principais índices de ações, com dados da empresa de pesquisa de criptomoedas Arcane Research mostrando a correlação entre bitcoin e Nasdaq recentemente subindo para um recorde de 80%. A correlação do bitcoin com o S&P 500 é apenas um pouco menor.

As ações continuam sob pressão, já que os investidores antecipam no próximo mês novos aumentos nas taxas do Fed e o início do chamado aperto quantitativo, a reversão parcial da compra massiva de títulos nos últimos dois anos. O aperto da política monetária – mais agressivo do que o inicialmente esperado, já que a inflação está próxima da máxima de 40 anos – ocorre quando a economia dos EUA já mostra sinais de desaceleração. Os crescentes temores de recessão levaram o S&P 500 à beira de um “bear market”.

As criptomoedas também terão que lidar com os pedidos por regulamentação. Lindsey Bell disse que vê a crescente regulamentação como uma “característica chave no mundo das criptomoedas”, onde “os vencedores de hoje podem não ser os vencedores de amanhã”.

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