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Em mercado difícil, corretora de câmbio firma parceria com XP e quer vender produtos para PMEs
Outro dia, um negócio diferente na região da avenida Faria Lima passou meio que à margem do mercado. Uma corretora de câmbio com sede em São Paulo, a B&T, que opera R$ 50 bilhões por ano, fechou uma parceria com a XP. A ideia da corretora é usar a estrutura bancária da empresa de Guilherme Benchimol e, assim, aumentar sua capacidade de envio de dinheiro para o exterior.
Assim, para a B&T, esse negócio em tese pode resolver alguns problemas. No entanto, ao se acoplar à estrutura da XP, e entregar a chave de um processo considerado quase artesanal, pode-se perguntar se não cria outros, mais para a frente.
Limite de operações
Hoje em dia as corretoras têm passe livre para movimentar até US$ 500 mil por operação de câmbio. Acima desse valor, diz o Banco Central, elas precisam contratar os serviços de um banco para intermediar o processo.
Então, dos R$ 50 bilhões que a B&T movimenta atualmente, apenas R$ 8 bilhões ficam dentro desse limite. Dessa forma, a empresa precisa entregar R$ 42 bilhões para uma instituição bancária.
Com o acordo, na prática a B&T passa a usar o CNPJ e os sistemas eletrônicos da XP para fazer o que sempre fez, mas agora sem limites de valores.
A XP, por sua vez, recebe um percentual não revelado de todas as operações de câmbio realizadas através de sua plataforma. De quebra, ingressa em um nicho que já tentou entrar no passado sem sucesso.
Assim, segundo as empresas o negócio não envolveu até agora nenhum compromisso para futura aquisição. Ou venda de participações.
O plano, então, é que 100% das operações passem a rodar dentro dessa nova estrutura.
O acordo foi fechado no meio do ano. Passou, de fato, a operar em agosto. E, até agora, R$ 5 bilhões já foram movimentados por meio do banco.
Questão de sobrevivência
A quem pergunta se o balanço desse acordo parece desequilibrado, Tulio Portella, diretor comercial da B&T, diz que é questão fundamental para o mercado.
“O mercado (de corretoras de câmbio) precisava de um novo rumo”, diz o executivo, responsável por conduzir o deal com a XP.
Portella é filho de Tulio Santos, que criou a B&T há 31 anos. No processo foi assessorado pela Belvedere Corporate & Investment Banking e pelo escritório Leitão Advogados.
Espremido entre a concorrência dos bancos, que passaram a olhar para esse setor, e as criptomoedas, que permitem fazer câmbio por uma fração do valor atual, ele conta que as empresas da área buscam alternativas para se manterem relevantes.
“A associação das casas de câmbio têm hoje umas 90 instituições. Em cinco anos, eu estimo que vão sobrar umas nove”, diz o executivo carioca.
Para ele, esse acordo firmado pela B&T, o primeiro entre uma corretora e um banco, deve abrir as portas para deals similares, com outras corretoras.
“A pauta de para onde vão as corretoras de câmbio está borbulhando nos últimos dois anos”, ele afirma.
Novos produtos
Para além de resolver a questão de escala, Portella diz que pretende aproveitar a chancela do banco para operar outros mercados, mais sofisticados.
Uma aposta do executivo é a oferta de produtos de hedge (travas cambiais) para pequenas e médias empresas. Esse negócio praticamente não existe no Brasil. E, segundo ele, conta com forte demanda. O problema é a oferta.
“As estruturas de hedge, de (dólar) futuro, de travas de importação, são estruturas muito restritas. Os clientes muito grande já usufruem disso. Mas os clientes pequenos e médios dificilmente têm algum tipo de estrutura nesse sentido”, afirma.
Outro é o de escritório de investimentos. Ele quer usar os 31 anos de relacionamento com empresas para oferecer produtos financeiros, como notas compromissadas, justamente para ajudar no caixa das empresas. Ele criou uma empresa para operar essa nova vertical, a B&T Invest. Neste momento, monta a equipe de assessores de investimento.
Novos concorrentes
Na última década, novas instituições, como C6 Bank, que tem como sócio o americano J.P. Morgan, ingressaram no mercado bancário com foco em operações internacionais.
Novas tecnologias também tornaram mais palatáveis e escaláveis as operações cambiais.
Isso fez com que bancos tradicionais começassem a olhar com mais atenção para o segmento, como forma de recompor ou ampliar receitas.
Soma-se a isso o avanço das criptomoedas, em especial as stablecoins, moedas digitais pareadas na proporção de um para um com divisas fiduciárias, como o real ou o dólar.
Segundo relatório da A16Z Crypto, venture capital para o mercado de criptomedas, uma operação de c:ambio de US$ 1 mil com o uso de uma stablecoin de dólar tem custo que vai de US$ 12 até US$ 0,01, dependendo da rede de blockchain.
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