Conta de precatórios não pagos pode ir a R$ 121 bi em 2026

Cálculos são da consultoria de orçamento da Câmara após aprovação de PEC no Senado

Com a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos Precatórios pelo Senado e as mudanças efetuadas naquela casa, a consultoria de orçamento da Câmara estima agora que até 2026 o acúmulo de precatórios não pagos chegará R$ 121,3 bilhões. Em 2023, sob o novo governo, o saldo devedor já estará em R$ 53,2 bilhões.

“Para fins de simulação, estima-se que cerca de 20% dos detentores de precatórios optarão pelo desconto de 40% para recebimento no exercício de 2022, saindo da “fila de postergação” e do limite de pagamento de precatórios”, explica em nota, que incorporou em seu cenário as medidas do Senado, como a retirada das dívidas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef) do limite do teto de gastos e os parcelamentos anteriores à PEC de fora do subteto. Vale lembrar, contudo, que parte das mudanças do Senado precisa ser referendada pelos deputados.

“Considerada a média histórica dos últimos anos de crescimento das despesas com sentenças judiciais, esse valor de precatórios expedidos e não pagos poderá ser maior (o dobro)”, completa o texto. O material é assinado pelos consultores Eugênio Greggianin, Ricardo Volpe, Sérgio T. Sambosuk e Wagner P. Figueiredo e foi feito a pedido do relator do Orçamento, deputado Hugo Leal (PSD-RJ), que precisa finalizar o desenho para levar a votação na Comissão Mista de Orçamento e no Plenário do Congresso na semana que vem.

Ao Valor Ricardo Volpe destacou os cálculos que o documento traz sobre o espaço fiscal que a PEC cria. Nas contas deles, a nova forma de correção do teto pela inflação de janeiro a dezembro amplia o limite constitucional de despesas em R$ 64,9 bilhões. O montante é quase R$ 3 bilhões superior ao que estava estimado pelo governo (R$ 62,2 bilhões), basicamente por um cenário de inflação maior (10% ante 9,7%).

Se os deputados referendarem na semana que vem as mudanças do Senado, aprovando também o limite de gastos com as dívidas de sentenças judiciais, o espaço total para novos gastos vai a R$ 108,4 bilhões, ante R$ 106,1 bilhões apresentados pelo governo.

O governo está avaliando se vai enviar uma nova grade de parâmetros para os congressistas, revendo, por exemplo, sua projeção de inflação para o ano, que teria viés de alta. Isso teria impacto direto no cálculo do teto e das despesas obrigatórias. De qualquer forma, o relator pode optar por usar os dados da consultoria da Câmara.

A projeção da consultoria da Câmara para o estoque de precatórios não pagos até 2026 é bem menor do que, por exemplo, a da Instituição Fiscal Independente (IFI). Mesmo corrigindo um erro de cálculo na estimativa, o órgão ligado ao Senado calculou que o estoque chegará a R$ 420 bilhões, no último ano do próximo governo.

O Ministério da Economia, por sua vez, tem uma visão de que não haverá grande acumulação porque o mercado deve partir massivamente para as alternativas permitidas de negociação, como os encontros de contas, o uso para entrar em processo de privatizações (ou mesmo alienação de ações de estatais sem perda de controle) e os próprios descontos de 40%, que seriam menores do que as operações que hoje ocorrem no setor privado estariam exigindo.

Na semana passada, sem alarde, o Tesouro lançou o Painel de Precatórios, medida que havia sido antecipada ao Valor ainda na gestão do ex-secretário Jeferson Bitencourt. A ideia, segundo David Athayde, subsecretário de Planejamento Estratégico da Política Fiscal, é dar mais transparência sobre a evolução dessas dívidas. No material, contam o estoque emitido e os valores pagos, além de dados detalhados sobre processos que representam riscos fiscais, como R$ 2 bilhões relativos ao trem-bala, que nunca saiu do papel, mas cujo processo é considerado como perda provável para a União.

Segundo o coordenador-geral de contabilidade, Luciano Moura Nascimento, o painel também permitirá que se acompanhe a evolução do estoque de precatórios também após operações como encontro de contas e outras modalidades de quitação que estão fora do limite a ser criado para o pagamento dessas dívidas dentro do teto de gastos.

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