Juros dos EUA: Comunicado do Fed renova esperança em pausa no aperto monetário, mas corte ainda é incerto

Especialistas concordam que a autarquia sinalizou pausa na alta de juros, mas ainda há divergências sobre início dos cortes

Com a decisão sobre os juros dos EUA amplamente precificada pelo mercado e sem surpresas, investidores se concentraram nos recados que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed) deu sobre o futuro das taxas no país. 

Entre os especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira, é praticamente consenso que a autarquia dá sinais de que vai manter as taxas de juros entre 5% e 5,25% ao ano na próxima reunião. “Abre-se uma janela para uma pausa das altas dos juros”, comenta Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Reserach. 

Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, ressalta que “o tema mais relevante do comunicado foi a retirada da frase que previa mais aumentos nos juros”, o que dá ao mercado esperança de pausa na próxima reunião, que termina em 21 de junho. 

Na Tenax Capital, a expectativa também é de que este tenha sido o último aumento nos juros do ciclo. “A atividade tem apresentado sinais de moderação e, com o aperto de crédito se espalhando pela economia, o enfraquecimento deve ganhar força no segundo semestre”, diz Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital.

Porém, mesmo que a autarquia tenha dado leves sinais de que está aberta à possibilidade de pausa, ainda é preciso analisar os indicadores econômicos até a próxima reunião do Fomc, conforme a autoridade destacou no comunicado. Afinal, o documento reconhece que o mercado de trabalho segue firme e a inflação elevada. 

Em coletiva, o presidente do Fed, Jerome Powell, lembrou que “levará tempo para que os efeitos das políticas sejam percebidos, especialmente sobre a inflação” e ainda afirmou que a autarquia está “pronta para fazer mais se houver maior restrição monetária”. 

Quantos começa o corte de juros nos EUA?

O fim do aumento nos juros é, sim, um alívio para o mercado financeiro. Mesmo assim, o debate sobre o início do corte é o que mais preocupa e divide investidores. Diante do cenário atual, um corte ainda em 2023 é a hipótese mais esperada pelo mercado, mas ainda há muita incerteza. 

“O mercado projeta corte em setembro, mas isso parece muito precipitado”, diz Gustavo Cruz, Estrategista Chefe da RB Investimentos, que completa: “no melhor do cenários, veremos um corte de juros somente no final do ano”. Ele se mostra preocupado com a inflação caindo em ritmo menor que o visto no ano passado e um mercado de trabalho ainda aquecido. 

A inflação medida pelo CPI passou de 6% em fevereiro para 5% em março, mas alguns grupos, como energia, alimentos e serviços, ainda preocupam. 

A expectativa por corte nos juros pode ser frustrada ao considerar a preocupação do Fed com sua credibilidade: se a autarquia cortar as taxas por pressão do mercado, mas precisar voltar a subir os juros depois, a confiança na instituição fica abalada; “é algo que ninguém quer”, comenta Gustavo Cruz.