Para economista, buraco fiscal de R$ 150 bi será desafio para a economia em 2023
A forma como será resolvido o buraco fiscal do ano que vem, estimado em R$ 150 bilhões por Luís Otávio Leal, economista-chefe do Banco Alfa, vai determinar o ritmo da economia em 2023. O cálculo leva em conta manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600, reajuste do funcionalismo público, que está sem aumento há quatro anos, e alguma correção da tabela do Imposto de Renda.
“É uma conta pendurada de R$ 150 bilhões”, diz Leal.
Manoel Pires, da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que há uma série de gastos que foram contidos nos últimos anos que terão que ser recompostos.
“Houve certa ilusão nos indicadores fiscais deste ano. O câmbio apreciou, levando a uma normalização da arrecadação. Por outro lado, há gastos represados com aumento de servidores, vacinas, bolsas do CNPq que não são reajustadas desde 2014. Há muito o que ajustar. Será um aumento de gastos relevante com desaceração de receita (com PIB menor, a arrecadação diminui). É a reversão do que vemos hoje.”
Furos no teto de gastos
Dentro da regra do teto de gastos (que limita o aumento das despesas da União à inflação do ano anterior), não há espaço para o Auxílio Brasil maior e para o reajuste dos servidores, lembra Pires.
Para Thaís Zara, economista sênior da LCA Consultores, dificilmente o teto de gastos, seja quem for o presidente da República em 2023, será mantido.
“Será muito difícil ter uma política expansionista como em 2022, em que houve diversos pacotes (para aquecer a economia). Vai ter que ajustar o teto de gastos para permitir o pagamento do R$ 600 e outras despesas.”
Ela tem uma estimativa um pouco menor das despesas no ano que vem que não estão previstas no Orçamento. Em seus cálculos, Auxílio Brasil, reajuste do servidor e aumento des despesas não obrigatórias somam em torno de R$ 120 bilhões em gastos adicionais.
“São despesas urgentes. Pode até não dar reajuste para o funcionalismo, mas já houve greves este ano e vai ficando mais difícil não dar aumento”, diz.
Paula Magalhães, economista-chefe da A.C Pastore & Associados, afirma que o crescimento da arrecadação este ano foi ancorado no aumento do preço das commodities, principalmente do petróleo.
“Mas não sabemos se isso vai continuar no ano que vem, com a desaceleração global. Essa incógnita sobre a questão fiscal gera incerteza sobre quando o Banco Central vai poder começar a cortar os juros.”
No Orçamento enviado pelo governo, a previsão para o crescimento no ano que vem é de 2,5%, o que torna irreal as projeções de receita.
“Na apresentação da Secretaria do Tesouro, quando disseram que o Auxílio Brasil de R$ 600 não estava previsto, avisaram que fariam uma emenda. Será mais um furo no teto de gastos”, lembra Paula.
Leia a seguir