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BC sempre perseguirá inflação de 3%, reitera diretor de Política Econômica
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, reiterou nesta sexta-feira (23), o compromisso da autoridade monetária em levar a inflação para o centro da meta, de 3%. Ele notou que as expectativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do relatório Focus continuam desancoradas, em torno de 0,5 ponto porcentual acima do alvo.
“A meta é 3%, então a gente vai continuar, claro, sempre perseguindo a inflação de 3%, que é o mandato do Banco Central”, disse Guillen, durante uma palestra em evento organizado pela Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), com transmissão online.
Segundo o diretor, o leve aumento da mediana do relatório Focus para o IPCA de 2025 não levanta maiores preocupações. Depois de 28 semanas de estabilidade, a expectativa passou de 3,50% para 3,51% na segunda edição do boletim de fevereiro, publicada no último dia 15. No Focus mais recente, divulgado na quinta-feira, 22, subiu mais 0,01 ponto porcentual, a 3,52%.
“Passou de 3,50% para 3,52%, mas com muito pouca mudança na distribuição”, disse Guillen. “Acho que tem tido mais uma concentração sobre esse 3,50%.”
Inflação de serviços
O diretor do BC disse ainda que a inflação de serviços tem ficado entre 5,5% e 6% no acumulado de 12 meses e que há um debate sobre a direção dessa taxa este ano. Ele destacou que esse grupo surpreendeu para cima nas últimas divulgações do IPCA.
Guillen ressaltou que os serviços mais sensíveis à demanda agregada – ou seja, os ligados à atividade econômica e os intensivos em trabalho – tiveram um repique nas últimas divulgações. Em contrapartida, os serviços sensíveis à inércia tiveram alívio, respondendo ao processo de desinflação do IPCA cheio.
“Você observa que houve um repique na ponta, nos três meses anualizados, dos serviços sensíveis à atividade, a uma atividade mais forte. Esses são os que reajustam mais fortemente, o mesmo valendo para os serviços intensivos em trabalho”, disse o diretor.
Guillen afirmou que a inflação dos bens industriais já caiu e que, agora, há um debate sobre quanto esse grupo ainda pode ceder.
Processo de desinflação global
O diretor de Política Econômica do Banco Central disse também que o processo de desinflação global não está sincronizado no tempo, mas nos temas em diversos países.
“São temas muito semelhantes”, comentou Guillen, que enumerou questões como mercado de trabalho, desinflação de bens industriais, preços relativos, inflação de serviços e expectativas de inflação “na cabeça” de autoridades em diversas localidades.
Ao comentar o processo de desinflação atual, o diretor do BC retomou a ideia de um movimento em duas etapas e disse que a expectativa é de desinflação em 2024 e 2025 na maior parte das economias.
Guillen frisou ainda que a queda dos núcleos de inflação está mais aparente nas emergentes do que nas avançadas.
O diretor do BC também comentou sobre o processo de corte dos juros no mundo. “Vários países já iniciaram o processo e espera-se que continuem. Alguns ainda não começaram, mas estão indicando que estão próximos, que o próximo movimento é de corte e que é um ciclo.”
Relação mecânica na condução de juros do Fed e do BC
Guillen reiterou que a condução da política monetária brasileira não tem relação mecânica com os juros norte-americanos. “A gente tem enfatizado que não tem relação mecânica na condução de juros, ou seja, Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) e Banco Central não têm relação mecânica nessa condução”, afirmou o diretor.
Ele acrescentou que há uma certa preocupação com a rolagem da dívida de empresas que tomaram recursos lá fora com os juros americanos muito baixos, ainda durante a pandemia de covid-19, devido ao aperto monetário que foi conduzido nos Estados Unidos.
“À medida que você começa a rolar essa dívida mais lá da pandemia, a gente vai vendo esse impacto persistir. Vai ser um processo longo de condições financeiras, em função do juro mais baixo durante a pandemia”, afirmou Guillen.
Hiato do mercado de trabalho
O diretor do BC disse ainda que há uma dificuldade em entender no Brasil hoje, com as surpresas para baixo na taxa de desemprego, qual o tamanho do hiato do mercado de trabalho, quão apertado ele está.
Ele citou que chama atenção, além das quedas registradas pela taxa de desocupação desde 2020, o movimento de redução nas expectativas para a taxa no futuro registradas pelo Boletim Focus, o que pode sugerir que o movimento reflete uma questão estrutural.
Entre as dúvidas sobre o mercado de trabalho hoje, Guillen listou que há uma discussão grande sobre qual a atual taxa Nairu (taxa de desemprego de equilíbrio). “Tem um pouco desse debate também lá fora, mas no Brasil tivemos a reforma trabalhista que dificulta a comparação com o passado”, frisou.
Diante desse cenário de incertezas, os salários, afirmou, são uma ferramenta para verificar o grau de pressão sobre o mercado de trabalho.
Guillen destacou os aumentos dos rendimentos habitual e efetivo registrados pela Pnad e a ligeira alta do salário formal no Caged. “As negociações salariais têm tido aumento real pela desinflação, ficando próximo de 5,0%”, acrescentou.
O diretor do BC defendeu que, por ora, os dados não indicam pressão sobre o mercado de trabalho, mas que é preciso olhar com cuidado para o movimento dos salários, tendo em vista a possibilidade de pressão sobre a inflação de serviços.
Alta das projeções de PIB de 2024
Para Guillen, os aumentos das projeções do mercado financeiro para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2023 e de 2024 não refletem o mesmo vetor. “Em 2023 foi bastante a história do agro, agora quando ouvimos os participantes do mercado vemos que é mais uma história do consumo puxando”, disse.
Guillen destacou que alguns indicadores sugeriram uma atividade econômica mais forte no Brasil na virada do ano, mas frisou que a análise do segundo semestre do ano passado sugere um arrefecimento gradual da atividade.
O diretor também abordou a dicotomia observada nos dados entre consumo e investimento. “Ano passado ficou claro um consumo resiliente e o investimento desacelerando”, pontuou.
Guillen afirmou que ao tentar entender o movimento, costuma-se analisar quanto do movimento no investimento é aperto das condições financeiras e quanto é incerteza. Já do lado do consumo, a avaliação costuma ser sobre quanto é efeito do mercado de trabalho forte, dos benefícios salariais e do crédito, emendou.
Ao falar sobre crédito, o diretor acrescentou que já é possível ver em várias linhas indicações de maior concessão.
Efeito das reformas
Diogo Guillen afirmou também que é simpático à ideia de que as reformas realizadas nos últimos anos aumentaram o PIB potencial brasileiro, mas frisou que é difícil quantificar esse efeito. “Grande parte do impacto dessas reformas se deu durante a pandemia, separar é muito difícil”, acrescentou.
Para ele, há duas óticas para analisar as surpresas recentes com crescimento. A primeira, mais benigna, associá-las ao efeito das reformas. A segunda, enxergar como um processo mais cíclico. “O impacto sobre a política monetária é diferente. Se acharmos que é cíclico, impulsiona a demanda e terá impacto inflacionário. Se acharmos que a economia está funcionando melhor e na verdade a oferta está mais ampla, não terá impacto inflacionário, terá até desinflacionário.”
O tema, afirmou, é discutido com frequência pelo BC e no momento a autarquia não incorpora em seu cenário uma elevação do PIB potencial em função das reformas.
Com informações do Estadão Conteúdo
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