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‘BC deveria reduzir ritmo de aperto para evitar recessão’
O Banco Central deveria mudar a estratégia de política monetária, afirma o economista-sênior da área de macroeconomia da LCA e pesquisador-associado do FGV-IBRE, Bráulio Borges. Segundo o especialista, a autoridade precisa começar a alongar o horizonte da meta e colocar o ano de 2023 como sendo cada vez mais determinante nas condições de política monetária. O risco de perseguir a ferro e fogo uma convergência da inflação para a meta em 2022 é levar o país a uma recessão, afirma.
“O BC sinalizou que pretende levar a Selic para terreno significativamente contracionista, mas para trazer uma inflação de 10%, patamar apontado pelo consenso de mercado para 2021, até a meta de 3,5% já no próximo ano seria muito difícil sem haver recessão”, explica. Conforme Borges, após a decisão de ontem, os juros no Brasil alcançaram um nível neutro.
“A taxa básica tendo chegado nos 9,25% alcançou um terreno mais para neutro. Isso porque o juro real, quando descontamos a inflação projetada pelo mercado para os próximos 12 meses, ou seja, o juro real ex-ante, estaria em 4%, que é o nível do juro neutro no país.” Para o economista, “até ontem a política monetária era estimulativa e agora está neutra”.
Borges defende que o BC defina uma meta intermediária de inflação “para não deixar o meio do caminho muito solto entre hoje e 2023”. A estratégia “possibilita que não se gere taxa de sacrifício muito elevada à atividade, permitindo que a economia retome o pleno emprego entre 2023 e 2024”.
O pesquisador do Ibre lembra que, com a entrada em vigor da lei de autonomia do Banco Central, em fevereiro, “houve mudança no mandato da autoridade que, além de buscar a estabilidade de preços, tem como objetivo secundário suavizar as flutuações econômicas e fomentar o pleno emprego”.
O problema é que, atualmente, com a perspectiva de o BC levar a taxa básica para um território significativamente contracionista, os dois objetivos “são claramente conflitantes”. Conciliar as metas poderia ser feito com o alongamento do horizonte da política monetária, diz Borges. “Este é o momento de o BC usar da autonomia reforçada que ele ganhou.”
Conforme o economista, “ninguém vai questionar, se a autoridade decidir alongar o horizonte de convergência para não prejudicar a atividade no ano que vem”. No passado recente, uma decisão nessa direção poderia ser interpretada com uma intervenção política. “Mas não vejo mais assim após a lei”, pontua o pesquisador da FGV.
Borges reforça que, mesmo antes de a Selic ter entrado no território contracionista, a atividade vem frustrando as expectativas. A LCA estima uma elevação do PIB de 4,5% em 2021, “mas é uma estimativa com viés de baixa”. Para 2022, a consultoria projeta um avanço de apenas 0,7%, que também pode ser revisto para baixo se a economia crescer menos de 4,5% neste ano, avalia o economista. O cenário de atividade mais fraca ajuda no trabalho do BC, pondera.
“A autoridade está preocupada com a desancoragem de expectativas em prazos mais longos, o que justifica essa postura mais dura, mas isso, por outro lado, gera o risco de ‘overkill’, ou seja, de uma economia já desacelerando se encaminhar à recessão.”
Para Borges, “o cenário mais provável seria o BC passar a sinalizar ritmo menor de alta de juros após a reunião de fevereiro, com a Selic já em 10,75%”. Nesse patamar, os juros estarão em “terreno moderadamente contracionista”.
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