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Ata pressiona por manutenção de meta de inflação ao abrir porta para queda de juros
O Comitê de Política Monetária (Copom) usou a ata de sua última reunião para pressionar o governo a não mexer na meta de inflação de 3% para os próximos dois anos. O texto da diretoria colegiada do Banco Central (BC) entreabriu a porta para queda do juro básico em agosto, mas não garante que isso vai acontecer, vinculando a materialização dessa hipótese a alguns fatores, entre eles a convergência das expectativas. Eis que, na sequência, a autoridade aponta o que pode acelerar essa ancoragem (quando a média do mercado está na meta) das projeções, que hoje estão mais perto de 4% do que de 3%:
“O Comitê avalia que decisões que reancorem as expectativas podem levar a uma desinflação mais célere. As projeções de inflação do Copom se reduziram, especialmente, no horizonte relevante, em boa medida como função da redução das expectativas de inflação”, diz o documento.
Para bom entendedor….
De certa forma, a ata entrega ao governo parte do que foi cobrado em alto e bom som na semana passada, um sinal de que se aproxima o ciclo do corte da Selic. Mas o BC está cobrando sua fatura para isso. Caso o governo mexa na meta para cima, hipótese que há algumas semanas se tornou menos provável, mas ainda não dá para ser totalmente descartada, a desculpa para não baixar os juros estará pronta.
Além disso, ao defender a manutenção da meta, o BC ganhou também um hedge para quem quiser vincular cortes da Selic à entrada de Gabriel Galípolo no colegiado.
Foi uma jogada interessante.
Outro dado importante da ata é a elevação do juro real neutro. Isso aponta que a taxa básica pode cair menos e ter um valor no fim do ciclo de cortes mais alto do que o governo gostaria. O BC elenca a elevação dos juros internacionais e a desaceleração mais lenta da atividade local como fatores que levaram a essa conclusão. O primeiro faz sentido. O segundo é dúbio, dado que a queda mais lenta da atividade e da inflação pode ser porque o BC tenha cometido erro na condução de sua política monetária antes, mas é difícil saber.
Seja como for, a elevação da taxa neutra também é mais um fator que coloca conservadorismo no BC, mesmo com o ciclo de queda mais próximo de começar. Debates entre Diogo Guillen, o diretor de política econômica que é responsável por essas contas, e Gabriel Galípolo, indicado pelo governo para liderar um processo de juros mais alinhados ao padrão internacional, devem ser intensos.
Fabio Graner é analista de economia do JOTA em Brasília
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