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Análise: O que têm a ver Moraes e Musk na estratégia de Bolsonaro? Tudo
É de conhecimento geral que o embate do presidente Jair Bolsonaro (PL) com o Supremo Tribunal Federal (STF) não surgiu agora. Mas essa semana demonstrou claramente quais são os reais objetivos do Planalto com essa briga.
Primeiro, o presidente concedeu a graça constitucional a um deputado condenado por atacar o Judiciário. E nesta semana produziu mais um fato político ao enviar ao STF e à Procuradoria-Geral da República (PGR) uma notícia-crime contra o ministro Alexandre de Moraes acusando-o de “abuso de autoridade”. No STF, essa acusação foi rapidamente arquivada pelo ministro Dias Toffoli.
E, nesta sexta-feira (20/5) Bolsonaro teve um encontro com o bilionário Elon Musk, que está envolvido em uma conturbada negociação para compra do Twitter. O que tem a ver uma coisa com a outra? Tem tudo a ver.
Bolsonaro está na posição mais difícil do seu governo do ponto de vista econômico, com a inflação corroendo o poder de compra dos brasileiros e afetando todas as classes sociais. Esse é um problema com o qual ele não consegue lidar de forma efetiva. Já tentou mexer na política de preços da Petrobras, já lançou mão de medidas para tentar baixar outras tarifas, culpa os governadores e a guerra pela crise, mas não muda a percepção das pessoas de que as coisas estão piorando para o bolso. E isso é decisivo para suas chances de vencer a eleição.
O que o presidente faz diante desse impasse? Ele tenta permanentemente mudar a pauta. Ou seja, em vez de falar de inflação, é preciso encontrar outro tema que engaje, mobilize e possa criar o antagonismo com seu principal adversário, Lula (PT), que lidera as pesquisas.
É nesse ponto que entra o Supremo, Alexandre de Moraes e, também, Elon Musk. Bolsonaro quer potencializar o debate sobre o que ele chama de “liberdade de expressão”.
É um assunto que une todos esses atores mencionados no texto. O caso do deputado Daniel Silveira, a notícia-crime que o presidente enviou ao STF, o questionamento sobre a segurança das urnas eletrônicas, as plataformas de redes sociais e o apoio, ao menos simbólico, do homem mais rico do mundo e que de alguma maneira representa o establishment econômico global.
Para Bolsonaro, é fundamental mostrar que esse tema, a liberdade de expressão, é mundial e mais importante que qualquer outro, inclusive de natureza econômica. É a pauta que ele deseja ver no centro do debate eleitoral. E tirar a foto com Musk, cuja agenda está totalmente alinhada a esse pleito do presidente, representa, na visão do Planalto, um gol de placa.
Já a foto do cumprimento com Moraes, feita num evento público nesta quinta-feira (19/5), serve para transformar o ministro, que vai presidir o TSE no segundo semestre, num inimigo pessoal do bolsonarismo, jogando mais suspeitas sobre as eleições.
(Por Fabio Zambeli, analista-chefe do JOTA em São Paulo)
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