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Análise: BC vê riscos fiscais maiores, mas equilibrados
Um dos principais fatores de pressão sobre os juros futuros negociados em mercado nos últimos dias, o aumento do risco fiscal está na mira do Banco Central. Mas a autoridade monetária considera, por enquanto, que esse perigo se equilibra com fatores que podem fazer a inflação cair, como uma eventual desaceleração econômica ou uma queda dos preços internacionais de commodities.
O Banco Central foi muito cobrado sobre a sua visão sobre os riscos fiscais na semana passada, em entrevista sobre o Relatório Trimestral de Inflação, documento cuja íntegra está prevista para ser divulgada nesta quinta-feira.
O diretor de política econômica do BC, Diogo Guillen, disse que o Comitê de Política Monetária (Copom) vê um balanço de riscos com “caudas gordas”, mas equilibrado. Esse é um jargão usado pelos economistas para descrever uma situação em que são maiores do que os usuais os riscos de a economia caminhar fora do cenário inflacionário mais provável.
O cenário mais provável, na visão do Banco Central, é a inflação fechar em 4% em 2023, uma queda substancial em relação aos índices de inflação próximos a 12% registrados ultimamente, nos dados acumulados em 12 meses. Ainda assim, desconfortavelmente acima da meta do ano, de 3,25%.
Desde que o governo e o Congresso começaram a discutir soluções fura-teto e a renúncia de impostos para baixar os preços de combustíveis, o risco fiscal aumentou, reconheceu a autoridade monetária. Mas, de outro lado, os riscos de uma baixa internacional de preços de commodities e de uma desaceleração mais forte da economia também aumentaram.
Ultimamente, o Banco Central passou a falar não apenas de como a política fiscal afeta os prêmios de risco da economia. O Copom está de olho também no impacto que as medidas fiscais, como cortes de impostos e transferência de renda, poderão ter sobre a atividade econômica.
A incerteza fiscal costuma ter impactos na inflação por meio dos prêmios de riscos porque, em geral, quando o risco Brasil sobe, a taxa de câmbio se desvaloriza – o que gera pressão na inflação. Os prêmios de risco também afetam a taxa de juros neutra da economia. Quanto maior o risco fiscal, maior a taxa neutra. Em cerca de seis meses, o Banco Central aumentou de 3% ao ano para 4% ao ano, em termos reais, a sua estimativa para a taxa neutra de juros. Isso significa que a dose de juros tem que ser maior para atingir o mesmo efeito para baixar a inflação.
Já o impacto da expansão fiscal na demanda agregada afeta a inflação por meio do nível de ociosidade da economia. O aperto monetário feito pelo BC desde 2021, com uma alta dos juros de 2% ao ano para os atuais 13,25% ao ano, visa esfriar a demanda agregada e aumentar a ociosidade da economia – com isso, conter reajustes de preços e salários.
O Banco Central estima que o chamado hiato do produto, uma medida do nível de ociosidade da economia, estava em 1,3% PIB (Produto Interno Bruto) em junho. Com o aperto monetário, que deve impactar a economia com mais força a partir do segundo semestre, o hiato do produto deve se ampliar. A projeção do BC é que esteja em 1,7% do PIB no fim do ano que vem.
Mas o hiato do produto vem evoluindo de forma diferente da esperada pelo BC. A previsão do Banco Central era que o a economia tivesse mais ociosidade no começo deste ano, mas a surpresa positiva da atividade e a queda do desemprego colaboraram para um hiato mais fechado. Uma expansão fiscal poderia fazer com que o hiato fique menos aberto que o previsto também no futuro.
Se isso se confirmar, é como se houvesse duas forças agindo na inflação, com direções opostas. A alta de juros deprime a demanda privada, como consumo e investimento, funcionando como um freio na inflação. Enquanto isso, a expansão fiscal contribui para estimular a demanda agregada, funcionando como um acelerador na inflação.
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