Construtoras começam a registrar queda nas vendas com avanço da inflação e dos juros

Vendas líquidas da Cyrela e da Even vieram abaixo das expectativas, o que fez com que analistas acendessem sinal de alerta para os próximos trimestres
Pontos-chave
  • Desempenho das companhias preocupa com a alta do preço dos insumos

  • Movimento é afetado pela tendência de repasse dos custos para o cliente

  • Financiamento tende a ficar mais caro com a subida dos juros

As empresas do setor imobiliário começaram a apresentar suas prévias operacionais na noite de quarta-feira e, apesar de os números permanecerem em patamares elevados, uma tendência de leve desaceleração nas vendas já é apontada pelos grandes bancos.

Na visão das instituições, o movimento acontece por uma confluência de fatores macroeconômicos que afetam diretamente o desempenho das companhias do setor. De um lado a inflação, pressionando os insumos de construção, forçando as empresas a repassar tais custos para o cliente; e a alta na taxa de juros, deixando o financiamento mais caro.

O analista André Mazini, do Citi, nota que Cyrela e Even tiveram bons números de lançamentos entre julho e setembro, mas as vendas líquidas vieram 21,3% e 35,7% a menos do que ele estimava.

Para o Credit Suisse, o fato de as vendas das duas empresas, que atuam nos segmentos de média e alta renda, considerados mais resilientes, apresentarem essa variação negativa, liga o sinal de alerta para os resultados dos próximos trimestres.

“No todo os números continuam saudáveis, mas ficaremos atentos com o desempenho de vendas com maior competição e concentração de lançamentos”, escrevem os analistas Daniel Gasparete, Pedro Hajnal e Vanessa Quiroga.

O Bank of America (BofA) fala que os números das duas empresas continuam saudáveis e que a maior flexibilidade no repasse de custos vai fazer com que as margens de Cyrela e Even se mantenham mesmo em um cenário de redução nas vendas.

“Os preços continuaram na tendência de alta, o que deve apoiar as margens”, ponderam os analistas Carlos Peyrelongue, Aline Caldeira e Gabriel Carvalhal. Eles reiteram que a tendência de vendas é algo para se acompanhar nos próximos trimestres.

O BTG Pactual teve um visão mais otimista sobre Cyrela, falando que os números apresentados pela empresa superaram suas estimativas, com bom ritmo de lançamentos e vendas se destacando tanto em lançamentos quanto em estoques, na visão dos analistas Gustavo Cambauva e Elvis Credendio.

“Os números operacionais [da Cyrela] foram robustos, lançamentos continuam a subir em um ritmo forte e as vendas líquidas são sólidas, com vendas tanto de lançamentos quanto de estoque”, ponderam. Eles falam que os números contrariam o temor dos investidores de que acontecesse uma desaceleração.

No caso da Cury Construtora, que tem forte atuação no programa Casa Verde e Amarela (ex-Minha Casa Minha Vida), o BofA fala que o aumento de exposição no segmento de média renda permitiu com que a empresa conseguisse repassar a alta nos custos aos clientes, mantendo lançamentos e vendas em patamares elevados.

A opinião é compartilhada pelo BTG, que viu a Cury apresentando fortes números de vendas e lançamentos no trimestre, além de 45% em velocidade de vendas. “A Cury está com um desempenho melhor que o esperado desde a oferta de ações, com crescimento de lançamentos e uma velocidade de vendas ótima.”

A Moura Dubeux, construtora com forte atuação no Nordeste, teve resultados elogiados pelo Credit Suisse. Sua posição de dominância na região e crescimento operacional fizeram com que lançamentos e vendas superassem a expectativa do banco suíço. Na visão dos analistas, a empresa deve alcançar suas metas do ano para os indicadores.

Já a Melnick teve resultados fracos, disse o BTG, com lançamentos e vendas 32% e 35% abaixo do estimado, com uma recuperação mais lenta do mercado imobiliário em Porto Alegre (RS), onde atua. No entanto, o banco acredita que a posição de liderança da empresa na capital gaúcha a deixa bem posicionada para se beneficiar da retomada local, quando acontecer.

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