Como preparar a carteira de ações para a queda da Selic? Mercado aponta caminhos

Com queda na Selic, gestores vem mudando a carteira de ações para surfar uma queda nos juros; confira estratégias do mercado

Desde antes do final do ano, gestores de fundos de renda variável vêm arriscando mais dentro da carteira de ações e de seus próprios fundos. No mercado, famoso por antecipar movimentos como a queda da Selic, um percentual cada vez maior do portfolio de private banking ou assets mudou de destino: antes, parava em commodities. Agora, vai para ações mais arriscadas, como as small caps, por exemplo.

Gestores e analistas explicam à Inteligência Financeira que é cada vez mais recomendável que o investidor faça substituições em sua própria carteira de ações. Uma fatia maior do patrimônio deve considerar empresas mais sensíveis à queda dos juros.

Carteira de ações: como aproveitar a queda de juros?

O Ibovespa bateu sua máxima histórica em 2023 e não deve parar por aí. É consenso no mercado financeiro que o índice tem boas chances de buscar os 140 mil pontos em 2024.

Com a alta histórica, gestores explicam que ações “mais seguras” na bolsa de valores, como as de empresas de commodities, podem perder espaço no potencial de valorização. Quem deve entrar no lugar, dizem os especialistas, são empresas mais expostas aos ciclos da economia brasileira.

Para alguns investidores institucionais, responsáveis pelo termômetro do mercado, a mudança na carteira de ações começou muito antes dos cortes do BC na taxa.

A partir de maio, o Banco Fator, por exemplo, iniciou uma realocação dentro da carteira de ações de seus dois fundos de renda variável. O gatilho foi, segundo a gestora de renda variável do Fator, Isabel Lemos, o andamento da reforma tributária no Congresso.

“Nossos dois fundos começaram a mudar a carteira em maio. A reforma estava caminhando, dados de inflação estavam melhorando na margem, e começamos a ter esse viés mais positivo com a bolsa”, diz Isabel. O fundo de ações do Fator cresceu 11,4% em novembro contra 12,5% do Ibovespa, melhor mês do índice no ano passado.

Para 2024, Isabel comenta que a preferência do banco está concentrada em ações de três setores: imobiliário, serviços e logística.

“Gostamos do setor imobiliário e investimos em boas empresas do ramo. Temos posições no setor de serviços, que ficou ‘muito largado’ com os juros altos, além da área de transporte e logística”, afirma.

O viés de investimento é por empresas de médio ou pequeno porte na bolsa, as mid e small caps.

Nesse sentido, Isabel afirma que o fundo do Fator já aposta na alta de “empresas penalizadas pelos juros” para se saírem melhor em 2024.

Ações de empresas que sofreram com Selic alta devem se destacar

Como capturar a alta da bolsa e montar, portanto, uma carteira de ações que surfe a queda dos juros?

O caminho que o mercado indica é aproveitar o “preço esmagado” de empresas castigadas enquanto o juro estava na máxima de 13,75% ao ano.

Lemos destaca que, a partir de 2 de novembro, 85% das empresas do Ibovespa passaram a dar retorno positivo, com uma média das ações do índice com rendimento entre 30% e 33%. Em maio, 59% dos papéis davam prejuízo ao acionista.

De acordo com Felipe Moura, analista da Finacap Investimentos, ações de empresas de consumo cíclico e com dívidas atreladas ao CDI, que acompanha a taxa de juros, tiveram seus valores “amassados” nos últimos anos.

Um papel que sofreu com os juros altos e está descontado, na visão do analista, é o de Lojas Renner (LREN3). “A ação está em um valuation historicamente baixo para uma varejista que nunca deu prejuízo e tem fluxo de caixa líquido positivo”, diz Moura.

“Empresas vão melhorar pela atividade econômica aquecida e também pela queda de juros”, prevê Moura. Conforme explica, as ações de companhias com potencial de reverter o prejuízo em lucro tendem a capturar a preferência dos investidores na retomada da bolsa neste ano.

“Quando gestores correrem para essas ações, elas terão uma recuperação muito rápida (na bolsa)”, pontua.

Outra aposta da Finacap para 2024 é a MRV (MRVE3). A empresa, na visão de Moura, pode aproveitar dois movimentos de quedas de juros simultâneos em 2024: a queda da taxa americana e da brasileira. Isso porque a MRV tem uma operação nos Estados Unidos. “A ação está negociando a um valuation deprimido”, completa.

Ações de empresas endividadas também entram na carteira

Já a Guide Investimentos, em sua última carteira de recomendações enviada a clientes, vem apontando quais empresas endividadas devem se beneficiar mais com a queda dos juros.

Companhias que realizam empréstimos para a expansão de suas operações, como malhas logísticas, rodovias e obras, devem se sair melhor com a queda de juros. Esta é a avaliação de Fernando Siqueira, head de renda variável da Guide.

A ação “queridinha” do gestor nesse caso é a de Ecorrodovias (ECOR3). “A empresa vem entregando bons resultados financeiros mesmo sob a pressão de um alto endividamento. Ela obteve várias novas concessões e precisou de aportes para realizar melhorias nos novos trechos”, afirma Siqueira.

Yduqs (YDUQ3) é, inclusive, outra ação que deve se sair bem com redução de dívida à frente.

“Gostamos do setor de educação, que foi muito castigado pela pandemia e não se recuperou completamente. Educação teve bom ano em 2023, mas apenas 12 meses positivos não foram o suficiente para os papéis voltarem ao nível pré-pandemia”.

A Guide tem a perspectiva de uma potencial valorização de 30% a 40% para Yduqs, por exemplo. A ação foi a segunda que mais avançou no Ibovespa no ano passado.

Como montar a carteira e qual estratégia seguir?

Especialistas recomendam um passo a passo ao montar uma carteira de ações.

Assim, para eles, a estratégia deve se encaixar ao perfil de risco de cada investidor.

Dentro das corretoras, a recomendação que investidores vêm recebendo é de que está na hora de começar a tomar mais risco. Ao mesmo tempo, essa entrada em papéis mais sensíveis aos juros deve ser feita em doses, recomenda o gestor de private banking da Nova Futura, Nicholas Kawasaki.

Ele ainda vê uma janela para aproveitar a queda dos juros na bolsa, mas com cautela para que o investidor “não compre ativos muito caros”.

“As maiores oportunidades estão nos setores imobiliário, de consumo e de bens de capital. Até outubro, a maioria dos clientes queria manter alocações em carteira de dividendos. E agora vemos mais alocações em carteiras focadas em crescimento”, diz o gestor.

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