Como conciliar o desenvolvimento econômico do Brasil com a preservação do meio ambiente

“Uma história das florestas brasileiras”, de Zé Pedro de Oliveira Costa, mostra como cuidamos mal do meio ambiente

Há consenso científico de que é possível preservar as florestas sem prejudicar o desenvolvimento econômico. Mas quais os critérios que devem ser utilizados para conseguir o desejado equilíbrio entre as ações humanas e a natureza? O pesquisador e ambientalista Zé Pedro de Oliveira Costa analisa a questão há décadas e suas conclusões são compartilhadas em “Uma história das florestas brasileiras”.

Em resumo, segundo o autor, um terço de toda a área terrestre do planeta deve ser integralmente restaurado e protegido; outro terço pode ser utilizado com atividades de uso sustentável e o terço restante para uso extensivo, como urbanização, infraestrutura (portos, rodovias etc.), plantações e outras atividades agropecuárias, estas também subordinadas ao conceito de sustentabilidade.

É difícil atingir essas metas? Sim, mas não impossível. “É possível conciliar o desenvolvimento econômico e social do país com a preservação da biodiversidade. O conceito e os experimentos do desenvolvimento sustentável em prática no Brasil são a prova disso”, explica Costa, professor da Universidade de São Paulo e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP). Foi secretário do Meio Ambiente de São Paulo e responsável pela criação de áreas protegidas de grande dimensão, como os parques estaduais de Ilhabela e da Serra do Mar.

No momento em que o país celebra os 200 anos de Independência com índices recordes de desmatamento e ataques sem precedentes às reservas naturais com atividades como os garimpos ilegais na Amazônia, o livro desperta uma reflexão sobre a importância real dada ao meio ambiente ao longo dos séculos e as consequências da destruição em nossos principais biomas: Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal, Caatinga e Pampas. Em uma linguagem simples e voltada ao leitor não acadêmico, Costa apresenta inúmeros dados científicos consistentes e que volta e meia estão nos noticiários, como os famosos “rios voadores” que se formam na Amazônia e garantem os ciclos de chuvas no centro-sul do país.

Os dados e números reunidos traçam um amplo panorama e contam a História do Brasil por meio de nossas riquezas naturais, mostrando o quanto cuidamos mal do meio ambiente, desde os tempos de Pindorama (“terra das palmeiras”, em tupi-guarani). E não foi por falta de legislação, já que data de 1605 o primeiro Regimento do Pau-Brasil, em que a Coroa portuguesa destaca a necessidade de controlar a exploração do pau-brasil, para evitar a sua extinção. Não funcionou e a espécie que batizou Pindorama está praticamente extinta.

Outra lei ainda mais antiga, do século XVI, estabelecia cotas para exploração de madeiras duras, em especial a peroba, muito utilizada na construção e restauro de embarcações, como as caravelas. As espécies controladas receberam o nome de “madeiras de lei”, termo utilizado até hoje para árvores nobres.

Isso não significa que Portugal estivesse interessado na proteção da flora tropical, mas sim no abastecimento permanente de madeira de qualidade.

Costa cita, por exemplo, a determinação do Marquês de Pombal em utilizar madeira brasileira para a reconstrução de Lisboa após o terremoto de 1755. Mais recentemente, na segunda metade do século XX, o Fundo Monetário Internacional construiu em Paris uma grandiosa sala de reuniões inteiramente revestida com jacarandá da Bahia.

Mas houve também bons exemplos na esfera pública, como o de José Bonifácio de Andrada e Silva, que afirmava, no começo do século XIX, que “destruir matas virgens, como até agora se tem praticado no Brasil, é extravagância insofrível, crime horrendo e grande insulto feito à natureza”. Além de estadista, o patriarca da Independência era estudioso da natureza e considerado um dos primeiros políticos ambientalistas do Brasil.

– Reprodução

Nos dias de hoje, a Floresta Amazônica concentra cerca de 15% da biodiversidade do planeta. São cerca de 40 mil espécies conhecidas de vegetais, 3 mil de peixes, 1.300 de aves, 427 de mamíferos e 378 de répteis, entre outros números que mostram a grandiosidade da maior floresta tropical do mundo. A Amazônia brasileira também detém 93 espécies de macacos, mas 16 estão ameaçadas de extinção, num claro sinal de agressão à natureza que está longe de ser isolado.

Na Mata Atlântica, que se estendia por todo o litoral do Brasil, mas que hoje tem apenas 12,5% da área primitiva, a situação é ainda pior: das 23 espécies de macacos que hospeda, 17 correm o risco de desaparecer. Mas há também vitórias importantes, como a preservação de espécies como o mico-leão dourado, na Mata Atlântica, e a ararinha-azul, na caatinga.

Com apresentação do médico Drauzio Varella e ilustrado com fotos de Sebastião Salgado, “Uma história das florestas brasileiras” se apresenta como um verdadeiro inventário das nossas riquezas naturais e, mais do que isso, aponta os caminhos para um país e planeta mais sustentáveis.

Caso contrário, conforme cita o próprio autor, a destruição de nossos recursos naturais e suas consequências nefastas para o futuro da humanidade nos levarão à pergunta feita pelo poeta Carlos Drummond de Andrade no poema famoso: “E agora, José?”.

Uma história das florestas brasileiras
Zé Pedro de Oliveira Costa Autêntica 320 págs., R$ 87,90

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