Citi tem lucro recorde no Brasil e vê cenário levemente otimista
O Citi registrou lucro líquido de R$ 2,581 bilhões em 2022, um crescimento de 53% em relação a 2021, enquanto o retorno sobre o patrimônio atingiu 22,4%. Foi o melhor resultado do banco em 108 anos de história no Brasil. Para 2023, com uma expectativa de crescimento de 0,3% do PIB, o cenário é menos animador, mas a instituição tem uma visão razoavelmente otimista para a economia. Tudo vai depender, no entanto, de o governo apresentar uma nova âncora fiscal forte e credível, e em breve.
O presidente do Citi Brasil, Marcelo Marangon, aponta que a operação se tornou a quinta maior franquia do banco no mundo, entre os 95 mercados em que atua, e depois de figurar no sétimo lugar em 2021. “O resultado evidencia nossa globalidade e ampla capacidade de atuação, com sólidas operações no mercado brasileiro”, diz.
Ele explica que o total de ativos do banco chegou a R$ 170 bilhões, o que lhe dá um balanço local muito forte e permite participar de operações com tíquetes bastante elevados, diferenciando-se de outros players internacionais que têm operações menores aqui. A carteira de crédito expandida do Citi aumentou 5% em 2022, para R$ 44,919 bilhões. A margem financeira chegou a R$ 5,326 bilhões, expansão de 67% ante 2021, impulsionada por aumento dos volumes médios e da margem com passivos. As provisões para devedores duvidosos (PDD) caíram 1% de um ano para o outro, a R$ 254 milhões, enquanto a inadimplência recuou de 0,19% para 0,03%.
No início do ano passado, o Citi anunciou um plano para aumentar em 50% sua receita em três anos. Com a expensão de 23% em 2022, já andou basicamente metade do caminho. O banco também se comprometeu a investir mais de US$ 50 milhões em tecnologia e a contratar mais 300 funcionários nesse período. Em 2022, investiu US$ 12,8 milhões e aumentou em 14% o quadro de funcionários (quase 200 pessoas), chegando a mais de 2 mil empregados. No segmento corporate, conquistou 200 novos clientes, chegando a 1,3 mil.
Para este ano, o executivo admite que o ROE de mais de 22% foi um ponto fora da curva e diz que o mais normal para o banco seria algo perto de 18%. Ele diz que o Citi começou a ver no fim do ano passado uma queda na demanda dos clientes por crédito. Não chegou a apertar os padrões de concessão, mas, como tem um mercado-alvo bem definido, sentiu um impacto nesse segmento. “Nós temos uma disciplina de crédito muito forte e adicionamos clientes de forma muito seletiva, mas, quando adicionamos, queremos ser um banco completo para eles, e isso tudo nos garante um crescimento sustentável. Nós tínhamos expectativa de que haveria transações de volumes maiores no fim do ano passado, mas houve uma demanda menor. Várias dessas operações foram postergadas”, comenta.
Segundo ele, se o governo de fato apresentar um novo arcabouço fiscal robusto agora em março, isso pode ser um ponto de inflexão e melhorar o cenário já a partir do segundo trimestre. “O investidor procura visibilidade, estabilidade. Em início de governo é natural haver ruídos, acertos de comunicação. O importante é ter um arcabouço fiscal, com ações para aumentar a receita e uma disciplina muito forte de gastos. Isso vai trazer confiança. Nosso cenário-base é de uma regra fiscal que tenha controle robusto de gastos, que vai ser muito bem percebida pelo mercado, ajudar nas expectativas, na gestão da inflação e na administração da política monetária.”
Ele aponta que o novo governo avançou em alguns temas sensíveis, como a questão ambiental e o tratamento dado à população indígena, e aponta que houve uma redução da temperatura de disputas ideológicas. Isso melhorou a imagem do país no exterior, mas a questão é que o cenário global atual é mais complexo do que no ano passado, com inflação elevada e juros em alta em muitos países. “Com disciplina fiscal, os debates sobre reforma tributária, administrativa, vemos um ‘upside’ nesse contexto para o Brasil. Houve uma mudança de visão muito positiva sobre o Brasil neste início de governo e, com a questão fiscal, pode haver um ‘turning point’ nas expectativas. Não trabalhamos com um cenário de deterioração ao longo de 2023.”
Ele admite que o contexto para novas ofertas de ações (IPOs) não é muito positivo, mas diz que o banco prevê um volume grande de “follow-on” (ofertas subsequentes), seja para reforço de capital, em um cenário macroeconômico mais desafiador; seja para reperfilamento de dívida, em função da elevada taxa de juros; ou para financiar aquisições. “Prevemos um mercado de M&A bastante ativo, temos várias conversas, mandatos em andamento. Em 2022, mesmo com uma retração grande [nos mercados de capitais], mantemos nosso nível de receita e subimos no ranking de bancos de investimento. Entramos em 2023 ainda mais positivos, com todas as conversas, mandatos que originamos ano passado.”
O Citi não tinha exposição a Americanas, mas faz a operação de “risco sacado”, na qual deve continuar operando. Marangon não espera uma crise de crédito no Brasil. “As grandes empresas se anteciparam, alongaram suas dívidas, estão bem posicionadas para se beneficiar desse momento mais complexo que estamos vivendo. As pequenas ficam mais vulneráveis a uma taxa de juros mais alta, então aí eu acho que a gente pode ter uma acomodação no crédito. O que temos visto [de empresas com problemas] são casos específicos, algumas situações já antigas. Não vejo um ‘credit crunch’”. Ele aponta que o governo tem se mostrado atento para que a disponibilidade de crédito não impacte no potencial de crescimento do país.
Por Álvaro Campos
Leia a seguir